Ao fim de três dias de borrasca, três dias que pareceram semanas, regressou o azul e o sol. São Miguel é tanto bruma como luz, é esse o paradigma que me prende aqui. No centro deste atlântico, no epicentro de meteorologias várias, envolto em mudanças súbitas e surpreendentes, o meu arquipélago é pleno, múltiplo, esplêndido, apavorante. Não faço, nem nunca quis fazer, um pérfido elogio da bruma e do acabrunhamento das ilhas, amo demasiado os elementos para os adjectivar na sua aparição. O que amo nos Açores é a sua complexidade e nunca confundiria isso com algo vagamente prejudicial. Creio nos variados aspectos que a natureza toma e não os julgo. Não é a cor de um dia que me faz mais ou menos optimista. A bruma é uma condição própia da ilha, não fujamos dela, mas tal como a bruma também o sol, que hoje nos inundou, imprime o seu calor no caracter da ilha. Tenho fé de que somos com os elementos e não pelo elementos, é como imaginar a ilha com a bruma e não pela bruma.
Mas para o raio que os parta com tudo isto, os Açores são o que são e mais nada. Não são as Marquises de Brel, nem o Hawaii de tantos baleeiros emigrados, nem outros vagos arquipélagos imaginários em oceanos mais pacíficos. Os Açores são o que são. E chega de criticar quem faz do arquipélago preto ou quem o põe branco, porque isto é o universo do cinzento, é de melancolias que somos feitos.
Sem comentários:
Enviar um comentário