sábado, novembro 30

Sem papas de gaguejos

Aparentemente (porque as coisas nem sempre são como nós as pintamos), depois de comer, não faltam colheres. É o que diz o ditado popular sem, contudo, considerar o estranho facto das pessoas que passam a governantes se votarem, depois do respectivo processo eleitoral, a um fatal ensimesmamento intelectual. Fatal para eles no longo prazo mas, no imediato, fulminante para um considerável conjunto de pessoas que, privadas de poderem dar o seu contributo (que devia ser acarinhado e, sobretudo, incentivado pelas instituições públicas), acabam por ficar com o(s) investimento(s) às costas, arrastando um conjunto de outras pessoas para águas ainda mais agitadas, onde o naufrágio é cada vez mais temido.

(…) Ouvi que a ATA iria encomendar ou já terá encomendado outro estudo, quando existem dezenas de estudos feitos nos últimos 20 anos sobre o Turismo nos Açores. O diagnóstico está feito. E se as instituições públicas se sentassem com os privados à volta de uma mesa, numa verdadeira sessão de trabalho, o diagnóstico ficaria feito em meia dúzia de horas. Depois é preciso ir para o terreno fazer as ações necessárias para captar negócio. E isso tem falhado. Há alterações constantes ao longo dos diferentes governos e nas diferentes instituições, o que leva a que o trabalho não seja consistente. O que acontece na ATA é que não existe ali uma estrutura profissional, conhecedora do setor e que seja capaz de pegar no diagnóstico que, na minha opinião está feito e não é preciso fazer novamente, e implementar uma estratégia que resulte e que seja consistente. E por isso andamos aos “esses”. (…)

Apesar de perspectivar algumas coisas de um ângulo diferente, recupero a desassombrada entrevista do Rodrigo Rodrigues do passado dia 25, no Açoriano Oriental para relembrar que, apesar de muita coisa poder ter sido melhor feita, não nos podemos esquecer que o investimento dos operadores está intrinsecamente relacionado com a dimensão que a operação poderá vir a atingir e que, todos juntos, devemos trabalhar para que os Açores possam ganhar a massa crítica que muita falta lhes faz para que um determinado “desmame”, por cá e nos vários mercados emissores, possa ser uma realidade.


Quero ler na referida entrevista que não devemos sucumbir à tentação de pensar pequenino nas alturas de maior aperto, pois, é absolutamente crítico manter as coisas em perspectiva e trabalhar a não-conformidade, por forma a procurarmos combater as tendências redutoras em termos de natureza e escala dos investimentos ainda por fazer, para conseguirmos subir mais um degrau dos muitos que ainda nos faltam galgar no negócio do Turismo.

quinta-feira, novembro 28

Uma certa odisseia marítima açoriana

Há, compreensivelmente, no ar, um certo "look" de deslumbre. Parece que estamos todos a bordo de um sonho. É o sonho açoriano: poder navegar entre as várias ilhas e juntá-las todas num verdadeiro mercado interno.

O “Mestre Simão” é que há-de estar confuso,  a tentar perceber se, neste novo capítulo do mercado interno, navega pela Direita ou pela Esquerda.






foto daqui

Alexandra Lucas Coelho vence Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores



Diz a narradora que «as histórias felizes são relâmpagos».
Eu também acho.

Prémio justo. 
Alexandra Lucas Coelho é uma repórter de primeira linha, cronista ímpar, romancista de alma cheia. E uma apaixonada pelos Açores.

http://www.publico.pt/cultura/noticia/alexandra-lucas-coelho-vence-grande-premio-de-romance-e-novela-ape-1613888

quarta-feira, novembro 20

A mítica quinta-feira (uncensored)

Há dias assim.
Há coisas que acontecem e nos fazem pensar que são boas demais para ser verdade.
Recebi estas "notas" e confesso que não me foi possível lê-las até ao fim sem me emocionar (como, aliás, aconteceu com a grande maioria das impressões recebidas sobre a apresentação da nova carta Outono|Inverno no TN).
Tinha que as partilhar e pedi a devida anuência.

"Notas de um sonho…
O dia acordou em tons de outono, com nuvens altas no céu e o magnífico cheiro das manhãs que agora começam frias. Como pano de fundo as árvores do inigualável Parque. A caminho do aeroporto vejo uma lagoa por entre um vale verdejante, pouco depois deixo-me levar pela beleza das montanhas e do mar, ainda a dormir…
Estou a caminho do avião e sinto que ainda não acordei do meu sonho. Penso que dormi cerca de doze horas.
Não demorei muito a adormecer. O ambiente estava quente. As cores, o conforto e deixo-me levar pelas palavras… adormeci a beber um Gin Garden!
E comecei a sonhar…
Dom Perignon Vintage 1996!
A temperatura da sala a subir como a fineza das bolhas do néctar. Quase acordo com os primeiros aromas e com a complexidade, textura e profundidade de sabores.
O quê? Isto é um sonho! Fecho os olhos e deixo-me levar novamente pelos aromas e sabores que sobressaem da idade e do saber de gerações geniais da Região de Champagne.
Et voilá! A primeira surpresa da noite. É um carpaccio? Mas não consta do menu. São boletos do Parque, com azeite virgem extra e flor de sal. Perfeito! Simples, pleno de sabor e frescura, com total respeito pela natureza que ali ao lado cuidou desta preciosidade de outono.
Deseja mais um pouco de D. Perignon?
Pois claro! Estou a sonhar…
A harmonização com os boletos é perfeita, as notas de terra encaixam na perfeição.
Um brinde ao anfitrião e à sua renovada casa.

E volta um cheiro familiar. Estou na velha padaria próxima da casa de férias do meu avô. Não te faz lembrar nada Carlos?
Os sabores a terra e o azeite encaixam na perfeição com as notas vegetais e de gordura do champanhe.

A conversa vai animada, e o Parque é naturalmente o foco das atenções.
Começa então o desfile de sabores que o Chef escreveu e que têm correspondência em frases soltas escritas noutro papel e que para todos nós têm um significado ainda enigmático.

Carpaccio de Beterraba, Puré de Grão e Vinagrete de Avelãs.
Quase perfeito. A frescura dos ingredientes é ligeiramente tocada por um pouco de vinagre que poderia ser substituído por mais quantidade do citrino local.
Para harmonizar continuamos com D. Perignon. As notas cruas ligam com a beterraba... E com todos os restantes elementos do prato. Afinal com que é que champanhe não liga?

Segue-se um ceviche com rúcula. Uma travagem a fundo. Quase acordava do meu sonho. Apresentação a destoar (ou talvez não diz o Henrique...). E para além disso, o excesso de rúcula a seguir a um prato com... rúcula.
E continuamos no néctar francês. Afinal champanhe liga com tudo! Mas nem tudo liga com champanhe... Ou pelo menos com este vintage... Demasiada complexidade e textura para um prato tão simples e fresco.
Aqui um branco, fresco e mineral, funcionava na perfeição. Difícil voltar atrás depois de começar num registo tão alto!

Vamos passar agora para o vinho branco. Continuamos em França?
Não. Montevalle Branco 2009. É um vinho do Douro à base de Viosinho e com um pouco de Rabigato. Não chegava lá... Não muito aromático mas com boa textura e untuosidade. 

Partimos agora para um clássico da casa: A omelete. Veio guarnecida com boletos. Novamente? O prato estava fabuloso. Mas a ligação com o vinho nem por isso. Não é problema nem do vinho nem do prato. Simplesmente não se dão... Felizmente ainda tenho um pouco se champanhe no flute. Agora sim! Harmonização perfeita!! A gordura do ovo e o agora familiar sabor dos boletos do Parque são envolvidos pelas bolhas finas e pelo final longo do D. Perignon. Concordas Luís?

O prato seguinte é um regresso às tradições. Caldo azedo com Toucinho Crocante. Uma belíssima surpresa. Prato muito bem reinterpretado, pleno de sabores de outono. Agora sim percebo a escolha do vinho branco. A untuosidade do vinho consegue aguentar-se muito bem com a subtileza do feijão e faz a ponte com o vinagre que refresca o caldo.

E continuo a sonhar... Diga?!
Manuel Campolargo faz grandes vinhos. Extraordinário vinho branco de 2008. Com notas de uma evolução certa, complexo, frutado com um final longo a exigir um peixe forte e com alguma gordura.
E o lírio transformou-se em veja... Que pena! Vamos ver como se comporta o prato com o vinho. Batata e abóbora muito boas, e pimentos um pouco em exagero. Dispostos lindamente num prato fundo, regados já à mesa por um caldo menos bem conseguido. Aguado, pouco sabor a peixe e com falta de sal. Apesar de a veja estar muito bem confecionada, o prato era de intensidade menor do que o vinho e perdeu-se um pouco.

Mas o jantar já é memorável, pelo que os pontos menos positivos não ficam na memória por muito tempo.
E nem podiam!

Entramos já na carne. E que tal um tinto com mais de 40 anos?
Quase que acordava do sonho, tal era o exagero do exercício mental a que estava a ser submetido.
E que linda garrafa magnum... Romeira era o desafio da noite para o prato de carne.
Velhos são os trapos! Uf... finalmente a respirar oxigénio após tanto tempo dentro de uma garrafa. As notas de idade estão lá, no aroma e no sabor. Mas é pouco expectável um comportamento tão cheio de força e personalidade.
Para um vinho com esta história o prato tinha mesmo que ficar para a História. Um entrecosto a baixa temperatura extraordinariamente bem confecionado. Estaladiço por fora e tenro por dentro. Pleno de sabor com notas a alecrim
Entrecosto assado com crocante de pezinhos e cogumelos,
tarte de cebolas e puré de batata com alecrim
e acompanhado por um magnífico puré de batata,um croquete de pezinhos e boletos. Em excesso eventualmente a cebola caramelizada. Mas nada que retire ao prato a categoria de melhor da noite, ao nível de um restaurante com estrela Michelin!

A partir deste momento a refeição já é épica, o que quer que de menos bom pudesse acontecer a seguir. Mas tal não era previsível depois do patamar já alcançado.

E os 12 comensais continuam a aventura.
E como sonhar não custa, que tal abrir um Porto Vintage? Pode ser um Ferreira Vintage 1999?
Só não surpreende porque já estava à espera que fosse muito bom. Pleno de fruta madura, boa acidez... De encher a boca!

Agora passamos para os queijos. 3 Santos guardaram bem a tarefa de harmonizar com o Magnifico Vintage. Um prato simples que soube muito bem!

Estamos a chegar ao fim da refeição. Já se anunciam as sobremesas.
Primeiro um Pudim de Queijo Velho S. Miguel com Sorbet de Tomarilho. Este par funciona muito bem. A frescura de um para limpar o palato do excesso do outro elemento do prato. Execução correta num prato que só pecou por não harmonizar com o vinho. Não pelo pudim, mas pelo sorbet que tinha demasiada frescura e acidez para poder equilibrar com a doçura e intensidade do Vintage.

E por fim, a homenagem da noite, ao mestre que ensinou o Chef. Crepe rechedo e flamejado com ananás e gelado. Muito bem conseguido. Pena ser uma sobremesa tão pesada para terminar a noite. A retirar uma, seria a sobremesa anterior. Embora seja natural não harmonizar com um Porto Vintage, a escolha de um vinho licoroso local, que por ser mais seco perde numa boca já com bastante açúcar. Percebe-se se intenção foi cortar precisamente o excesso de açúcar. Resulta o efeito, mas o vinho não sobressai.

E depois desta refeição mítica, vou dormir…
E o dia acordou em tons de outono, com nuvens altas no céu e o magnífico cheiro das manhãs que agora começam frias. Como pano de fundo o vapor da água quente a subir por entre as árvores do inigualável Parque Terra Nostra. Vou a caminho do aeroporto e vejo uma lagoa por entre um vale verdejante, e pouco depois deixo-me levar pela beleza das montanhas e do mar, ainda a dormir… Acabo de sair do Terra Nostra Garden Hotel, no idílico vale das Furnas, na ilha de S. Miguel. Estou orgulhoso e com uma satisfação incontida, por saber que nos Açores já é possível viver uma experiência gastronómica de altíssimo nível, que valoriza os produtos locais e coloca a Região no mapa do que de melhor que se faz no país.

Obrigado ao Carlos Rodrigues ao Chef e a toda a sua equipa! Foi um jantar de sonho…
Filipe Rocha
Novembro de 2013"

Julgo que, naturalmente, o "sonho" do Filipe não se esgota na degustação desta carta Outono|inverno. Aliás, tenho a absoluta certeza que as suas "notas" transbordam esta experiência no idílico vale por, metaforicamente, configurarem a sua visão para o sector.

domingo, novembro 17

Sentado na parada a ver desfilar o generoso Moscatel


Pois é. Já fez nove anos A Vinha. Nove anos de pioneirismo nos Açores, em Ponta Delgada. Uma garrafeira, produto grande para pequeno mercado, a fazer o seu caminho. Zona franca de algumas grandes preciosidades que aos Açores também vão chegando mais paulatinamente.
Provamos o Moscatel de Setúbal ALAMBRE 2008, o Moscatel de Setúbal com Armagnac e o Moscatel Roxo – ambos COLECÇÃO PRIVADA DOMINGOS SOARES FRANCO. Provamos depois as preciosidades: ALAMBRE Moscatel de Setúbal 20 Anos, ALAMBRE Moscatel Roxo 20 Anos, MOSCATEL DE SETÚBAL Trilogia, BASTARDINHO DE AZEITÃO 30 Anos e, para o fim, o cartão reservava-nos uma “SURPRESA” que, à medida que a prova subia de tom, aumentava o entusiasmo.
No final, os convivas, em grande número e já a salivar com o anúncio do jantar que se seguia, preparado pelo Chef Mota e sua equipa, foram absolutamente arrebatados por um Moscatel Roxo com mais de 40 Anos, com a sua auréola esverdeada e com o tão estimado “vinagrinho”, que é como quem diz: só merece a cereja no seu topo o belo bolo.
Por delicadeza apenas e com muita tristeza, fui deixando uma réstea do belo néctar em cada copo. No final, já de pé, tive que me contentar com uma simples foto para memória futura.


Parabéns à Vinha Garrafeira e um agradecimento especial ao Luís Melo pela excelente organização, embora ainda me esteja a fazer confusão esta coisa de celebrar um 9º aniversário com tanto álcool.

quinta-feira, novembro 14

"Vem cá meu torresminho."

Que é como quem diz: do "colados com cuspo" ao "pés arrancados do chão".

"Às vezes estamos tão preocupados em falar da crise e a desdenhar o novo Fiat Punto do vizinho que nos esquecemos dos verdadeiros privilégios que a vida nos dá.
Ser açoriano, ou viver em São Miguel, e fazer uma viagem de carro de apenas 30 minutos para chegar ao Hotel Terra Nostra é uma dádiva quase tão grande como o nascimento do Cristiano Ronaldo. Muito menos estará ao fácil alcance da maioria dos comuns mortais que têm de viajar milhares e milhares de quilómetros para chegarem aonde nós chegamos. Sem stress. Sem trânsito. Sem complicações.
O Hotel Terra Nostra que reabriu em Junho após uma profunda remodelação e requalificação apostou também no melhoramento e modernização das suas cartas de bar e restaurante.
Aquando da minha primeira visita, logo em Junho, foi notória a mudança introduzida na carta. Chegaram novos conceitos, novas ideias que se entrelaçavam com alguns pratos icónicos como o cozido ou os filetes de abrótea. Tenho que ser sincero, como é meu apanágio, estava tão curioso, mas tão curioso que acredito ter ido cedo demais. Alguns pratos ainda estavam “colados com cuspo”. Sei que a observação estará correcta quanto mais não seja pela melhoria notória que senti quando lá fui a segunda vez já no fim do Verão.
Por ter esta tendência suicida para a verdade e para o desbocamento fácil confesso que quando o Carlos Rodrigues, o Director do Hotel, me convidou para participar no jantar de lançamento da Carta Outono/Inverno do Terra Nostra pensei que no fundo, no fundo, ele estaria a precisar de alguém que depois ajudasse a levantar os pratos e a lavar a loiça. E de boca calada e já agora fechada.
Porque mereceria eu tamanha distinção e honra? Mistério que até hoje está por resolver, diga-se, porém, o convite era mesmo para me sentar e comer como fazem todas as pessoas civilizadas.
Contado assim deste modo simplista fica complicado perceber a emoção e a comoção quando nos começaram por servir um flute de Dom Pérignon, vintage de 1996. Quase que se podia dizer que a partir daqui foi sempre a descer. E foi. Desceu um excelente Diga? da adega de Campolargo, um Romeira de 1970. Sim, 1970 e absolutamente maravilhoso. Um dos melhores tintos que já provei. E o Porto Vintage 1999, que se destacaram, obviamente. Com este cartão de visita não me admira que a carta de vinhos tenha recebido uma honrosa distinção na Revista dos Vinhos. É por demais evidente que o Terra Nostra tem uma das melhores garrafeiras do país. Até o Cristiano Ronaldo concordaria.
Já a subir foi o sentido que foi tomando a refeição propriamente dita, prato após prato num menu de degustação com 9 pratos.
Como vivemos na era do Twitter e ninguém está para ler mais que 140 caracteres seguidos, vou apenas sublinhar e destacar os pratos que mais me maravilharam, de uma carta que no seu todo dá uma nota evolutiva. Sente-se um enorme amadurecimento de ideias, e os conceitos muito mais bem trabalhados e explorando todo o universo de produtos regionais e produtos do próprio Parque.
É uma questão de patamares, a primeira ementa pós renovação colocou o Terra Nostra num patamar. Este patamar foi consolidado e trabalhado e agora com a carta Outono/Inverno evoluí-se de forma serena e tranquila para o patamar seguinte.
Quanto mais não seja por exclusão de partes, dificilmente haverá outro restaurante neste patamar.
Os meus pés foram arrancados do chão logo no amuse em que nos serviram um cogumelo Boletus, apenas com azeite extra virgem e flor de sal. “São cogumelos do parque Senhor”. Tratou-me por senhor porque deve ter percebido que eu estava no céu. Nenhum prato no mundo inteiro pode ser igual a este. E está tudo dito.
A omelete com queijo Castelinhos um prodígio técnico. Não sei se existem muitas pessoas que saibam fazer uma omelete, mas o Chef do Terra Nostra sabe e isso chega-me para já. Cremosa no centro e cheia de ar. O único reparo é em relação ao queijo que acredito existir melhor nos Açores. Jamais São Jorge, mas quem sabe ali para o Pico?
No seguimento, e numa das sequências mais fortes da ementa entra o Caldo Azedo, a minha némesis. O meu momento Anton Ego da noite, em que deixei cair a caneta de crítico e fui uma simples criança a comer o Caldo Azedo feito pela minha Avó.
Irrepreensível e escrito com uma estranha humidade a apoderar-se dos meu olhos. O entrecosto cozido a baixa temperatura, com pézinhos e boletus, mostra que os sabores de antigamente ajudam a credibilizar as notas de modernidade que podem ser dadas a um prato. Bolas, estamos aqui a falar de um torresmo. Já tinha ouvido falar na expressão meu torresminho, mas foi só ao provar este prato que compreendi esta expressão na sua plenitude.

Como gosto muito de aprender e usar expressões novas despeço-me com a seguinte consideração: O menu de Outono/Inverno do Terra Nostra está um torresminho. Ou é um torresminho? Não sei, mas creio que percebem a ideia."


quarta-feira, novembro 13

OS VERDES ANOS

Faz este mês, mais precisamente no vigésimo nono dia, 50 anos que estreou, em Lisboa, OS VERDES ANOS de Paulo Rocha, um dos mais significativos  filmes do chamado Novo Cinema Português. Novo porque, apesar da grande influência dos movimentos europeus (neo realismo italiano e nova vaga francesa) fugia aos cânones dos filmes convencionais de "fados, touros e pátios de cantigas" e rompia com a vinculação à ideologia vingente.

Segundo Jorge Leitão Ramos em 1989 "Visto hoje, Os Verdes Anos têm o grande mérito de ser um documento precioso sobre Lisboa do príncipio dos anos 60, o seu provincianismo, o desespero e a sufocação de uma geração jovem. Para o cinema, o filme revelava ainda a sensibilidade de um compositor (Carlos Paredes) que construiu um tema musical que ficaria célebre (...)."

Hoje, 50 anos depois, para se ver esta obra que muito influenciou várias gerações de realizadores portugueses ou se vai a uma sessão na Cinemateca (a quem Paulo Rocha doou todo o seu espólio) ou se encontra uma velhinha cassete VHS sem bolor perdida num qualquer caixote de "coisas inúteis".

Ou..., esquecemos todas as teorias das ilegalidades e enquanto não sai a edição prometida pela desapoiada Cinemateca Portuguesa aproveitamos a oferta do "Filmes Portugueses" abaixo.

Nota: OS VERDES ANOS teve estreia regional simultânea em três salas de Ponta Delgada (Vitória, S. Pedro e Solar) em 21 de Junho de 1964.



Por vezes rio mas, choro muito também.

Esta manhã, a bordo do avião da TAP que ligava Lisboa a Ponta Delgada, a fazer lembrar outros tempos, descobri Constantin Brancusi. Fiquei um pouco arreliado com a minha ignorância. Como era possível não o conhecer? Nunca ter ouvido dele falar? Se era assim tão importante figura (central do movimento moderno e um dos pioneiros da abstração). Para além de ter passado a valorizar um pouco mais as revistas de bordo dos aviões (esta bastante mais "gorda" do que a da SATA mas, de design muito "ruidoso"), fiquei contente por me sentir ignorante "in the grand scheme of things", por assim dizer. Afinal, o romeno Constantin Brancusi é o autor d'O Beijo e consta que foi de sua casa em Hobitza a pé para Paris, onde veio a falecer em 1957. Não sei porquê esta "ralação" mas, certo é que não fiquei indiferente. Talvez por cada um de nós ter, a dada altura, que fazer a sua caminhada e, não poucas vezes, por percursos sinuosos que nos fazem perder de vista os nossos horizontes. Celebremos, então, Constantin Brancusi com a sua intimidante simplicidade aqui esculpida para maldição dos pérfidos perfeccionistas, algo no qual tenho medo de me tornar.
                 
"O Beijo", aqui fotografada por autor desconhecido, foi realizada em 1907, tem 28cm de altura e pode ser apreciada no Museu de Arte na cidade romena de Craiova.

quinta-feira, novembro 7

para ajudar os amigos... a relativizar.

Índia lança primeira missão espacial para Marte terça-feira, 5 de novembro de 2013 07:35 BRST A Índia lançou nesta terça-feira sua primeira nave espacial para Marte, num teste para a tecnologia de baixo custo do país asiático que pode ajudá-lo a ingressar num clube seleto de nações que conseguiram explorar o planeta vermelho. A Missão Orbitadora Marte, que tem custo de 73 milhões de dólares, decolou da costa sudeste indiana na tarde desta terça (horário local). Se a missão for bem-sucedida, o satélite vai levar cerca de 300 dias para chegar a Marte e vai buscar metano na atmosfera marciana.

quarta-feira, novembro 6

10 anos


Hoje passam 10 anos desde que o :ILHAS iniciou a sua emissão. Ao longo deste período foram muitas as transformações por que todos passamos, entre profundas alterações tecnológicas, colaboradores, motivação, interesse ou mesmo disponibilidade.

A blogosfera já não é o que era, nem sei se alguma vez, nestas ilhas, ela chegou a ser qualquer coisa. O :ILHAS foi e terá sido, muito provavelmente, o que maior visibilidade teve.

Já demonstrei aos actuais inquilinos que quero prosseguir esta missão. No entanto, é necessário torná-lo mais apelativo nos conteúdos. Sabendo de antemão que a concorrência das outras redes é, provavelmente, mais atractiva na relação de proximidade que gera.

O arquivo do :ILHAS é, em parte ou no seu todo, uma parcela da história recente dos Açores e das intensas transformações operadas ao longo da última década. Tenho, por isso, uma enorme relutância em afastar-me do percurso trilhado até aqui. Espero consegui-lo. Desistir é sempre mais fácil.

Até já!

domingo, novembro 3

Aguenta-te sempre.

Meter a viola no saco e fugir a sete pés. Empacotar e seguir, fugir para outra dimensão. Zarpar que se faz tarde. Correr a tentar, tentar para conseguir, aguentar para não fugir, travar para não embater de frente. Com mais ou menos liberalização, os senhores do costume mandam e desmandam, sem que para tal sejam orientados por uma conduta ética. De fio a pavio nada se consegue, mesmo para aqueles que se esforçam em prol da coerência. Será que estamos condenados a marinar neste estado de letargia em que aparentemente mergulhamos?

Vemos por todos os lados, a todas as horas, sinais de aviso, achtung, advertencia, warning, attention, attenzione, opgelet e não ligamos porque estamos como contentes, em fuga para a frente, contracenando com a amizade, derramada em baldes de cola. Estes são os dias que correm, com todos a fazerem os fretes habituais e, no mais profundo silêncio, arrastam, quase todos, o fio da amargura que os prende aos compromissos assumidos e às expectativa criadas. Mas há os que não fogem, os que não correm, os que não falam, os que não gostam, os que não discutem, os que não sorriem, os que não lutam mas, não se apercebem. Por outro lado, julgam muitos os muito poucos que idealizam. Gozam os poucos pelos muitos que sofrem. O desequilíbrio acentua-se aceleradamente e, como o amanhã demora a chegar, paramos todos.

Açores, aguentem-se firmes! Alguém há de nos vir tirar deste suplício (parece ser, pela ausência de atitude, o que muitos pensam).

do we love it?

O que teríamos nós para dizer sobre o sítio que amamos?


What do you love about Lisbon? from Lisbonlovers on Vimeo.

What do we love?