quarta-feira, janeiro 30

Comunidade

importa, pois, desafiar

Todos, sem excepção!
Para interpretarem a situação e para se prepararem para a acção!


O artigo, muito bem escrito por Rui Jorge Cabral, é, apenas, mais uma constatação. Permite-nos conhecer os números, nos quais tantos gostam de se apoiar como em muletas, na altura das desculpas - algumas esfarrapadas -, enquanto a análise se fica pela rama.

Fala-se do "boom" do Turismo na Região. Fala-se do potencial que o arquipélago dos Açores tem neste tema. Fala-se da crise, nacional e internacional, e, pese embora, o então Secretário Regional da Economia orgulhar-se, na altura da despedida, de ter posto todos os açorianos "a falar do Turismo como treinadores de bancada", a verdade é que começamos a ter medo de ir a jogo.

Importa desafiar a comunidade a perceber o que se está a passar. Importa, por isso, desafiar a comunicação social a assumir um papel ainda mais importante (temos uma rtpA que precisa reinventar-se. Pois, que se reivente!). Promovam-se debates. Promova-se o "Fórum do Turismo Açoriano" (transversal aos vários sectores da economia). Arranje-se comichão para inquietar os que estão sentados sobre o assunto e com os cotovelos sobre as soluções.

É preciso lançar a dicussão(!) e fazer entender o que é necessário produzir para inverter a situação e, sobretudo, fazer compreender (!) o que é isso de Turismo, para que nos serve e qual o papel de cada um de nós, nesta comunidade cada vez mais desterrada de um Mundo em constante ebulição.

(Desculpem-me se isto vos parecer um "Deja vu". Acabo de ter essa sensação)

segunda-feira, janeiro 28

Boas notícias



Adoption at Sea: Sperm Whales Take in Outcast Bottlenose Dolphin

As boas e as más notícias circulam rapidamente. Esta já deu entrada na TIME.

sábado, janeiro 26

Jogos de xadrez I

Apesar de considerar o casaco um pouco curto e achar falta do cinto, não pude deixar de reparar no excelente corte das golas do casaco e no botão único.
Elegância Outonal.
foto daqui

quinta-feira, janeiro 24

Por acaso, tenho amigas cinéfilas



Hoje foi o Dia das Amigas. Correção: hoje é o dia das amigas. Ontem e amanhã também, assim na sucessão de dias desfiados em conjunto pelas Amigas, que com gosto e orgulho referimos com “A” grande.

O Dia das Amigas não é propriamente algo que me diga muito ou pelo menos tanto quanto a muitas das nossas conterrâneas (consequências de firmar as amizades “para a vida” noutras paragens antes do retorno à ilha). Mas ano após ano, apanho-me a telefonar às “minhas lindezas” das outras paragens. Soa-me que o faço a homenagear as minhas amizades tanto quanto a piscar o olho à minha açorianidade.

Apesar da indiferença (relativa, como já vimos) com que passo pelo Dia das Amigas, hoje sucedeu-me estar a assistir a uma Ted Talk que, nem de propósito, aborda temas apropriados ao dia, na sua dimensão feminina.

Assim, entre o mote das Amigas e o mote das Ted Talks (“ideas worth spreading”), decido partilhar convosco o link para a conversa “Como os filmes ensinam a humanidade”, onde o diretor de comunicações de uma escola de cidadania (http://www.citizenschools.org/) nos faz pensar sobre as mensagens absorvidas pelos mais novos – raparigas, mas sobretudo pelos rapazes que um dia serão colegas/subalternos/chefes/namorados/maridos/pais das raparigas – quando assistem aos clássicos e aos mais recentes blockbusters infanto-juvenis.

D’O Feiticeiro de Oz à Brave, esta é uma viagem interessante de assistir, sobretudo por nós, os educadores.

terça-feira, janeiro 22

Serviço Público

Hoje vimos cá em casa a primeira edição da segunda série do programa "O Portugal de". O entrevistador agora é o Luís Osório e o entrevistado do primeiro programa foi o José Luís Peixoto. Gostei. Porque saí de Lisboa, porque viajei até ao Alentejo, às Galveias do José Luís Peixoto. Porque fui a um Portugal rural que quem vive numa cidade como Lisboa tende a esquecer, não necessariamente por arrogância mas porque a vidinha estreita entre prédios a tanto obriga - e nessa vidinha cabem as intempéries de informação a que nos submetemos. Há um Portugal rural - e, não estivemos nós no blogue ilhas, um Portugal insular. Há muitas versões de um país que por facilidade muita gente quer encaixar num só.

Esta foi possivelmente a melhor entrevista que vi de José Luís Peixoto. Apresentou, em frases simples, a sua visão do mundo. Do país. Das suas raízes. De países distantes. Da maneira como se posiciona, como vê a relação com os seus filhos e com os seus pais e tios. Agrada-me ver um escritor tão internacionalizado com uma ligação tão genuína à terra onde nasceu. Às suas memórias e ao presente da sua casa. Sem transformar esse regresso em perplexidade. Tornando-o uma forma prolongada de respiração.

A segunda parte da conversa, já dentro do carro, parece-me a melhor. Aí entra a mestria do Luís, meu amigo e companheiro de tantas ideias e projectos. O seu virtuosismo não transparece por uma opção de edição mas aquilo que Peixoto diz e a forma como se emociona só são possíveis com a intervenção de um entrevistador que arrisca nas perguntas e toca naquilo que mais nos importa e nos define. Deixamos por instantes de fazer de conta. Esquecemos por segundos os mercados e a dívida, o Passos e o Seguro, a Merkel e o FMI. Voltamos a poder ser homens, só homens. Perante o que fizemos e aquilo que ainda podemos fazer.


sábado, janeiro 19

Causas do Ilhas

Hoje, ficamos a saber que Sua Excelência o Secretário Regional da Educação, Ciência e Cultura, que mudo o encontramos durante toda a cerimónia do 37º aniversário da Universidade dos Açores, foi ao Hawai.

Apesar de irrepreensivelmente bem escrito e do gostoso tom nostálgico que nos transmite, o desabafo (não encontro outra classificação) deixa-me preocupado.

Fico sem perceber o que nos pretende transmitir com a sua alucinação - "tão rápida quanto aterrorizadora". Será que pretende ser um "Farol" e avisar a navegação sobre os malefícios do "grande Turismo" quando o seu desenvolvimento é mal estruturado e sem consequência para além da sua "fileira" mais visível?

Será que nos pretende alertar para a necessidade de procurarmos, urgentemente, incorporar na estratégia turística para os Açores o seu valor intrínseco e o das suas gentes?

Será que quer avisar que a promoção se sustenta na capacidade de entrega e que a capacidade de entrega depende de todos os habitantes destas nove ilhas de lava enrijecida pelo tempo?

Será que nos pretende alertar para a necessidade de procurarmos inovar em vez de copiarmos, massivamente, modelos que não nos servem?

Independentemente do aviso (espero que haja um, pelo menos), a “Cultura” não se pode demitir do seu hercúleo papel na afirmação de um desenvolvimento turístico condito. E o que o texto não pode mesmo ser é a crítica simples e desdenhosa de um momento menos feliz, neste percurso traçado por alguns míopes com cérebros empedernidos.

E para que o Turismo seja verdadeiramente (e não ironicamente) grande, da “Educação” e da “Cultura” espera-se um contributo inefável que, aliás, já devia ter sido dado (!).

Ficamos por isso à espera que, de mentes brilhantes, possam vir, de facto, contributos brilhantes também.

Proposta


Para esta noite.

AS BALEIAS, OS BOTES E OS MICAELENSES

Quando a função parece ficar por cumprir, quando nos vemos expostos à voracidade dos dias e à formal incompreensão de muitos, eis que, de quando em quando, damos - verdadeiramente - um contributo (ainda que pequeno, quando comparado com outros), e isso volta a encher-nos de vontade.

Fica, pois, o e-mail que recebi do meu amigo Miguel Cravinho, a propósito do livro de Albano Cymbron e da "identidade açorica" que, na sua inacabada tela, recebe, inegavelmente, uma forte pincelada da "arte da baleação":

«Conforme refere Filipe Mora Porteiro no prefácio do livro “A FASE INDUSTRIAL DA BALEAÇÃO MICAELENSE (1936-1970)” de Albano Cymbron, publicado pelo Observatório dos Mar dos Açores, “(…) se é certo que a baleação teve maior expressão social na Ilha do Pico, a fase industrial atingiu o seu auge em São Miguel, onde se capturaram mais cachalotes, se produziu mais óleo e farinhas e onde a atividade estava mais estruturada”.

Até à década de 30 do século passado regista-se oficialmente três armações baleeiras: Espírito Santo (Capelas), Viveiros & Companhia (Bretanha) e Herdeiros Manuel da Mota Soares (Capelas), constituindo os primórdios da atividade baleeira na ilha de São Miguel.

Em 1936 forma-se a União das Armações Baleeiras de São Miguel, constituída por sete sócios que inclui também as três companhias acima referidas. Inicia-se a fase mais pujante da vertente industrial/comercial do aproveitamento da baleia nos Açores, evidenciando uma caprichosa interligação entre as ilhas, e destas com outras partes do Mundo!

O certo é que a publicação do livro acima referido constituiu uma verdadeira “reposição histórica” absolutamente necessária para se compreender TODA A HISTÓRIA desta importante atividade dentro e fora do Arquipélago.

A atividade baleeira nos Açores, não obstante conhecidas idiossincrasias locais e de ilha, apresenta largos traços comuns, onde se destacam métodos e técnicas de caça uniformes e, em particular, a utilização de um tipo de embarcações muito específicas.

É deste modo, que bote baleeiro constitui o mais expressivo legado do património baleeiro e da cultura da baleação na Região, inspirados na herança norte-americana do séc. XIX.

Os açorianos acabaram por produzir um novo modelo de bote, mais comprido, melhor adaptado às condições de navegabilidade dos nossos mares e ao modelo da caça costeira artesanal que se praticou em todas as ilhas dos Açores, como resultado da capacidade e génio inventivo dos antigos construtores navais.

São Miguel não foge à regra. A utilização dos botes baleeiros constitui um elemento essencial da atividade que decorreu com maior expressão na zona norte da ilha, nas Capelas, mas que acabou por se estender por outras partes da ilha, incluindo Bretanha, Mosteiros, Ponta Delgada, Vila Franca, Ponta Garça e Faial da Terra.

Em Agosto de 1941 foi inaugurada a Fábrica da Baleia nos Poços de São Vicente, Capelas, com vista ao processamento industrial de derivados de cetáceos.

A 6 de Maio de 1948 é fundado a COOPERATIVA DOS ARMADORES DA PESCA DA BALEIA que procede ao levantamento detalhado do material relacionado com esta atividade, incluindo as instalações terrestres e o equipamento marítimo existente em todas as ilhas do Arquipélago.

Neste relatório, refere-se a existência na ilha de São Miguel de 10 vigias, 4 lanchas e 11 canoas baleeiras em atividade intensa e permanente. Em 1951 encontram-se registadas pela UABSM os seguintes botes:

- “UNIÃO II” (1940)
- “SÃO PEDRO”, “SENHORA DA CONCEIÇÃO”, “SANTO ANTÓNIO” (1942)
- “SENHORA DE LOURDES”, “SÃO JOÃO” (1943)
- “SENHORA DE FÁTIMA” (1944)
- “SÃO VICENTE”, “SANTO CRISTO”, “SANTA ISABEL”, “SANTA HELENA” (1947)
Para além das seguintes lanchas de serviço:
- “BOA NOVA” (1926)
- “CAPELAS” (1930)
- “MARIA TERESA” (1933)
- “VEDETA” (1947)

Os botes baleeiros de S. Miguel eram todos construídos na ilha, quase sempre por mestres carpinteiros navais locais.

De acordo com o painel informativo produzido pelo Museu Carlos Machado, que se encontra junto ao bote “SANTA JOANA”, em exposição no Parque Atlântico, Ponta Delgada, “em 1970 estavam registados 16 botes: 7 nas Capelas, 7 em Ponta Delgada, 2 em Vila Franca do Campo e Faial da Terra. Nesta época, trabalhavam nesta atividade 64 homens, dos quais 49 nos botes, 10 nas 5 lanchas e 5 na mítica VEDETA”.

DOS BOTES
Em 2006, no contexto do lançamento do projeto “150 MILHAS DE HISTÓRIA”, desenvolvem-se as diligências necessárias à aquisição de um bote baleeiro, com o objetivo de promover a sua reconstrução no âmbito do programa governamental de recuperação do património baleeiro dos Açores. Este projeto enquadra-se na política de responsabilidade social da empresa de whale watching TERRA AZUL.

        foto: Fernando Coelho

        foto:Marco Raposo

Após meses de intensa recolha e compilação de dados históricos e documentais nos arquivos da Autoridade Marítima de Ponta Delgada (a muito custo!), nos arquivos da Sociedade CORRETORA, bem como, no arquivo privado do Sr. Albano Cymbron - fiel guardião dos documentos da antiga UNIÃO DAS ARMAÇÕES BALEEIRAS DE SÃO MIGUEL (de inestimável valor histórico!) -, foi concretizada a aquisição de dois registos, cujas embarcações se encontravam em muito mau estado de conservação. A transação realizou-se a 17 de Novembro de 2006, conforme comprova o “Título de Aquisição de Embarcação de Recreio”, devidamente assinado e carimbado pelos legítimos vendedores, em representação da empresa CORRETORA: Srs. João Manuel Correia Moniz e João Francisco Tavares Vieira, e o comprador Luís Miguel Vasconcelos Cravinho.

Entretanto, conforme consta nos registos da COMISSÃO DO PATRIMÓNIO BALEEIRO, foi adquirido uma terceira embarcação, com o respetivo registo na ilha da Graciosa, (“SENHORA DE FÁTIMA SG-98-B), com a qual se concretizou o projeto “150 MILHAS DE HISTÓRIA”. O processo, constante na Direção Regional da Cultura sob o número de referência 08.06.01/0002 (04/08/2009), teve a sua conclusão em Setembro de 2010, sendo a reconstrução do bote da responsabilidade do Mestre João Tavares, nas Ribeiras do Pico.

Porém, constituiu sempre um objetivo a médio prazo a recuperação dos outros botes “SÃO VICENTE”, e “SANTA ISABEL”, considerando a situação lastimável (humilhante!) do património baleeiro São Miguel, onde a quase totalidade das embarcações (botes/lanchas) foram negligentemente abandonadas, destruídas ou vendidas para fora – para não mencionar novamente o triste assunto da demolição da Fábrica das Capelas (!) – sem que tenha sido devidamente acautelado o estatuto de salvaguarda do seu interesse público, contextualizado numa visão global do património baleeiro dos Açores.

O projeto de recuperação destes botes está a ser equacionado no âmbito dos apoios à recuperação do Património Baleeiro Regional, ou noutros programas com objetivos similares, podendo ainda ser fomentado a angariação de donativos privados e envolvendo a Comunidade e diversas instituições locais, incluindo Escolas. Esta intenção encontra-se em fase desenvolvimento por um grupo entusiasta deste tema.

Torna-se, assim, indispensável comtemplar as embarcações acima referenciados na listagem de classificação do Património Baleeiro e consequente viabilizar a sua recuperação, pela obtenção de um reconhecimento público relativo ao seu “alto valor histórico e patrimonial para a ilha de São Miguel e para os Açores em geral”.

Esta dinâmica de recuperação de outras embarcações possibilitará a existência de uma frota local, que pensamos ser um fator crítico para a consolidação da vertente desportiva/cultural através da organização e participação em regatas em S. Miguel e noutras partes do Arquipélago, onde estes valores estão já bem enraizados.

Pretende ser, por outro lado, um contributo relevante para a coesão das ilhas e a construção da IDENTIDADE AÇORIANA.»

Vila Franca do Campo
Miguel Cravinho
 
O sublinhado é meu e, como mais lenha para esta fogueira, acrescento os seguintes links:

sexta-feira, janeiro 18

"CONDOMÍNIO DA RUA"

Quando nos lembramos que o futuro reserva para as cidades o papel importante de acomodar cerca de 80% da população mundial, até nos arrepiamos com o níveis expectáveis da dita complexidade da exclusão social e da pobreza.



Para quem tiver a oportunidade de passar por Lisboa, até 10 de Fevereiro.
Estreou ontem, com texto do Nuno Costa Santos, um dos ilhéus deste atlântico blogosférico

quinta-feira, janeiro 17

Trilogia da Cidade de K

Um dos livros mais belos – e mais duros – que já tive entre mãos.
 
Não o leio há muito, mas amiúde regresso às palavras e ao tom que dele guardo.
Uma escrita esmagadora, de uma beleza contundente na sua expressão despojada. Uma obra-prima de Agota Kristof, escritora húngara que, em 1956, fugiu do seu país para se radicar na Suíça.
Terrível, opressivo, revoltante. Perdura na memória da gente como um grito silente que, para sempre, nos ecoa dentro.
Existe em edição conjunta – Trilogia da Cidade de K – ou em 3 livros separados (O caderno grande, A prova e A terceira mentira), que devem ser lidos como quem segue as pistas de um segredo doloroso.
E mais não digo, para que o procurem.

quarta-feira, janeiro 16

A Fase Industrial da Baleação Micaelense 36-70 A.Cymbron


Apesar de substancialmente omisso no que toca à dramatização do quotidiano dos pescadores e operários que viviam da pesca da baleia (história que está por contar como elemento cultural agregador das populações das várias ilhas dos Açores, não obstante as variadas publicações), o livro da autoria de Albano Cymbron constitui-se num veículo importante para compreendermos algumas idiossincrasias interessantes e, arrisco, determinantes, nas lides atlânticas das nossas gentes, introduzindo aspectos até então desmemoriados, porventura com contornos menos românticos.

Depois da tão importante e analisada “Economia da Laranja” (1750-1860) o livro traz aos nossos dias, numa espécie de radiografia, a visão daquilo que se apresenta como uma actividade industrial e comercial em pleno século XX que, com consideráveis dificuldades, recoloca os Açores no xadrez internacional.

(…) Em Fevereiro de 1961, dá-se novo embarque de 166 toneladas do óleo produzido em S. Miguel. O N/T “Mathew” trazia já 219 toneladas de óleo do Faial.
No ano seguinte, em Outubro de 1962, o navio carrega em S. Miguel 260 toneladas de óleo. O circuito insular para exportação de óleo estava consolidado e o navio vinha do Faial com 350 toneladas de óleo e seguia para a Madeira, onde embarcaria mais óleo.
Não se encontrou correspondência sobre os embarques de óleo a granel em 1963 e 1964.
Em Agosto de 1965, o N/T “Mathew” transporta 213 toneladas de óleo de S. Miguel e cerca de 400 toneladas de óleo da Madeira, com destino aos mercados de Glasgow, na Escócia e de Roterdão, na Holanda. (…)

Para reforço da Epopeia designada agora de "whale watching", uma vez que em S. Miguel a fábrica e todo o seu espólio quase desapareceram, ficam a força e intensidade nostálgica da Calheta de Nesquim.



terça-feira, janeiro 15

Depois da morte metálica



Um livro de 2012 a que volto no início de 2013: "África Frente e Verso", de Urbano Bettencourt (Letras Lavadas Edições). Exercício mais do que corajoso, no duplo sentido. Humano e literário. Escrita sobre a guerra e sobre a forma como esta entrou pelo autor e pelo homem dentro. Poemas antigos, de um livro de 1972. Como este:

 "entre o Uenquem e o Imboé

 entre o Uenquem e o Imboé
a morte era um pássaro metálico
sem cor sem canto
estilhaçando a nossa carne jovem
os nossos nervos os nossos braços
o nosso corpo de amar
      entre o Uenquem e o Imboé
nem um mangueiro nos defendeu
 nesse dia tão grande e vazio
em que o nosso destino foi uma criança
frágil e desamparada
      entre o Uenquem e o Imboé
nada tivemos tudo perdemos
excepto o instinto animal de gatilhar as armas apontadas e matar".

E textos mais recentes (como este de 2011, intitulado "De Mangas e bolanhas"), desenhados com o verbo elegante de Urbano, que permitem perceber o que ficou depois do fumo e das cicatrizes:

 "Sentado à sombra de um mangueiro velho, anterior ao fogo e à morte metálica, verás o tempo escorrer lentamente sobre as mangas e deixar nelas os seus tons suaves, o verde, o amarelo, o rosa. Quando isto acontecer, o Iemena dirá dos frutos maduros e terá recuperado já uma sabedoria antiga para ensinar-te como varejar as mangas altas sem as machucar nem deixar tocar no chão. Hás-de recolhê-las intactas nas tuas mãos, o cheiro delicado confundindo-se, finalmente, com o sabor agreste, para se cruzarem ambos com a tua fome de séculos. Saberás, então, que esse é o teu íntimo cheiro de África, aquele que vais querer guardar para lá de tudo, mesmo quando a memória dos lugares, dos corpos e do sangue se for diluindo na espessura dos dias".

Aviso à navegação

O link para o blog da BdM.

domingo, janeiro 13

Luís Filipe Botelho


Um vulto do Turismo açoriano que, em Junho de 2010, falava assim ao jornal Terra Nostra, naquele que terá sido, porventura, um dos seus últimos olhares sobre o Turismo nos Açores.
Luís Filipe Botelho que, dos seus pares, ganhou o epíteto "o Senhor Turismo" partiu esta semana, no passado dia 10 de Janeiro de 2013, naquela que será - muito provavelmente - a sua última viagem.

Há pessoas cujo exemplo valorizamos e nelas vamos encontrar inspiração para prosseguir com as nossas vidas, nos aspectos de ordem profissional ou, até mesmo, em circunstâncias mais restritas e pessoais. Luis Filipe Botelho, reconhecidamente dinâmico, elegante e muito lúcido, beneficiou e fez os Açores beneficiarem também da sua notável projecção social - a nível regional, nacional e internacional -, para que o Turismo por cá se fizesse maior.

Este não é um elogio funebre. Não gosto desses. Tudo branqueiam, como se com medo ficassemos que a alma não encontre o caminho para o Criador. Esta é uma homenagem que, apesar de singela, se impõe porque, muito para além dos homens com sorte estão os homens que controem a sorte dos outros.
R.I.P.

P.S. Os tempos mais recentes nos Açores foram de perdas consideráveis que também me deixaram mágoa: José Soares (tio de Teresa, minha esposa), Fátima Sequeira Dias e Manuel Ferreira. Este último com livros que me deixou por autografar, fruto da sua feroz-mas-delicada teimosia (história que há de ficar para as minhas memórias)

A foto é do JAR, para o Jornal Terra Nostra, em Junho de 2010

sábado, janeiro 12

EXTRA! EXTRA! read all about it!!!

E, quando pensamos que já nada nos espanta, eis que algo aparece e nos leva a mão à boca. Ao que parece, Vila Franca do Campo já tem candidata às autárquicas de 2013.
Sempre quero ver quando alguém tiver que lhe vestir a pele.

"NOTÍCIA DE 1º HORA:

Na sequência da notícia publicada no Jornal Açoriano Oriental (10/01/2013), sob o título "PS e PSD com dificuldades na preparação de autárquicas", já se verificam reacções por parte da sociedade civil.

Ontem mesmo foi formalizado junto instâncias oficiais o MACOC - Movimento de Apoio à Candidatura da Ovelha Choné.

Segundo o comunicado a que tivemos acesso, trata-se de um novo movimento de cidadãos que tem como objectivo a criação de uma alternativa política para a gestão do Município de Vila Franca do Campo, nos próximos 4 anos.

A Ovelha Choné é uma figura pública com créditos firmados na sociedade. A sua imagem simpática, o seu perfil de "negociadora nata e promotora de consensos alargados, associadas a uma profunda consciência cívica, ética e da política", fazem com que seja a candidata ideal para este momento difícil que o concelho atravessa, e onde os partidos políticos tradicionais falharam redondamente.

Para além da eleição da Ovelha Choné, este movimento de cidadãos tem como objectivo combater os inadmissíveis números da abstenção, procurando cativar os eleitores descontentes através dos mais jovens. "Quem não conhece a Ovelha Choné?", afirmam os subscritores do comunicado que nos chegou à redacção.

Registam também a enorme popularidade da Ovelha Choné por via do seu show televisivo, o qual poderá constituir uma "imagem positiva que muito poderá catapultar a promoção do concelho de Vila Franca do Campo a níveis nunca vistos".

Com o lema NÃO DESPERDICE A OPORTUNIDADE, VOTE OVELHA CHONÉ, os promotores do projecto pretendem dar inicio a um "novo ciclo de desenvolvimento, com absoluto respeito pelos cidadãos, valorizador do património e da história da antiga capital da ilha de São Miguel, e promotor da felicidade como elemento central da vivência do ser humano", afirmam no seu Manifesto que chegou à nossa redação.

Incontactável até à hora do fecha da edição, tivemos conhecimento junto de fonte próxima que a Ovelha Choné se encontra reunida em local secreto com todo o seu staff para delinear a estratégia para este desafio eleitoral.

A noticia está a gerar grande expectativa e entusiasmo junto dos Vilafranquenses.

Em anexo:
































Primeiros cartazes de campanha"

Revolução (!) Qual revolução (?)

A ser verdade, faz lembrar uma e pode precipitar outra.



Será?

terça-feira, janeiro 8

Irlanda

Estive na Irlanda e vim de lá mais açoriano. O que é o mesmo que dizer que me lembrei muito das ilhas açorianas durante a estadia. Não foi só o carácter afável das gentes - com o qual é sempre importante aprender (depois de não termos saído na paragem devida, fomos levados ao nosso hotel pelo condutor de um autocarro público). Foi também a ligação que têm à terra e à cultura, foi também o número de escritores. E aquele verde dos campos. E aquele céu, aquela capacidade de o suportar sem lamúrias. Com paciência e uma disposição superior. Ainda no aeroporto, um homem pergunta-me de onde sou. Digo que sou português. Pergunto-lhe de onde é. "Da Irlanda. Alguém tem de ser...". Sem se rir. Que é a melhor forma de se ser humorístico.

Já no Sweny, lojeca de livros vintage e antiga farmácia frequentada em tempos por um senhor chamado James Joyce (o Antero lá do sítio), assinalei que chegava dos Açores. Tive por isso um presente mais tarde. O excerto que foi escolhido de "Finnegans Wake" (para uma leitura em conjunto) fala nos Açores. Assim, desta forma:

"I'm dreaming of ye, azores".

 Mais nada. Uma referência que soube bem ouvir, ali, no fim de Dezembro, na cidade de Dublin. Um top pessoal e anárquico da viagem:

- A visita ao tal do Sweny, seguida de um copázio onde pudemos confraternizar com uma poetiza americana, uma académica brasileira e algumas pessoas normais.
- A visita ao Grogan's, um pub genuíno e pouco turístico, cheio de malta nova e artistas cadentes e decadentes.
- A performance generosa e elegante feito por um actor no Museu dos Escritores - a partir de textos de escritores lá da terra (uma ideia simples que, quem sabe, se pode experimentar nos Açores).
- Uma exposição de fotografia de décadas da vida irlandesa no National Photographic Archive.
- A actuação dos Verona Riots, nas ruas do Temple Bar.
- A visita a uma pequena loja de discos no mesmo sítio (Mojos Records), onde comprei um álbum do Van Morrison ao dono, um Serafim Saudade irlandês.
- Um concerto no Village dos These Charming Men, banda irlandesa de tributo aos Smiths.
- Um copo de Copper Coast - Red Ale.
- Um almoço no Joy of Chá (assim mesmo), ao som de MGMT, Phoenix e Edward Sharpe and the Magnetic Zeros.


- O humor, sempre o humor, cruzado de lirismo, melancolia e generosidade.

Senti-me em casa. Vou voltar, vou - para conhecer a outra costa e quem sabe as Aran Islands.

Não gosto

Castello Lopes pode encerrar salas de cinema em Ponta Delgada