quarta-feira, agosto 29

sábado, agosto 18

Cinquenta sombras escuras


Não tenho credenciais de crítica literária, mas no caso vertente, acreditem, ninguém precisa.
Quando a livraria onde eu, aos 16 anos, comprei O Perfume, de Patrick Süskind (entre tantos outros bons livros aí adquiridos), apresenta na sua montra, com honras de destaque e flanqueado por Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner, esse pedaço de mommy-porn que dá pelo título de As Cinquenta Sombras de Grey, lamento, mas abano a cabeça em descrédito da realidade. 
O facto é que o dito livro está no topo de vendas da casa. O que é arrepiante, porque me lança em leituras perturbantes sobre o que se passará para que os nossos conterrâneos considerem apelativa a historieta de um bilionário “lindo de morrer”, sádico, que subjuga uma virgenzinha improvável e a faz passar as passas do Algarve, enquanto a pobre ingénua sacrifica toda e qualquer autoestima para agarrar aquele misógino que faz dela brinquedo sexual à revelia de qualquer noção de consensualidade adulta.
Sem moralismos bacocos mas mantendo a noção do respeito ao feminino e ao masculino, peço que ao menos leiam isto antes:
http://www.independent.co.uk/opinion/commentators/yasmin-alibhai-brown/yasmin-alibhaibrown-on-fifty-shades-of-grey-do-women-really-want-to-be-so-submissive-7902818.html

E, se possível, depois leiam isto “em vez de”:
http://www.wook.pt/ficha/o-amante/a/id/12940499

quinta-feira, agosto 16

Las Simples Cosas

Ouvida ontem, no meio da ilha, a caminho do nevoeiro.
Chavela. Nevoeiro. Roseiras bravas num jardim abandonado. Bons amigos.
A beleza é uma coisa tão simples.


quarta-feira, agosto 15

Leituras de Férias para os Políticos Açorianos

Carlos César  Como Salvar a Minha Reforma – David Almas
Berta CabralA Solidão da Rainha  Pilar Eyre
Vasco CordeiroA Guerra dos Tronos – G.R.R Martin
António CansadoNunca é Tarde Demais – Fern Michaels
Graça SilvaTeoria Geral do Esquecimento – José E. Agualusa
Duarte FreitasLivro do Protocolo – José de B. Serrano
Sérgio ÁvilaOlhos nos Olhos – Medina Carreira
Aníbal PiresDescubra  o Milionário Que Há em Si – Pedro Queiroga
Artur LimaUm Homem com Sorte – Nicholas Sparks
Francisco CoelhoO Céu Existe Mesmo – Lynn Vicent
José BolieiroGosto Disto Aqui – Kingsley Amis
José ContenteA Cidade Impura – Andrew Miller
José AndradeConfissões da Leoa – Mia Couto
António CordeiroPromessas Desfeitas – Penny Vincenzi
Joel NetoCaminhos da Fé – Dalai Lama
André BradfordVerão Quente – Domingos Amaral
Zuraida SoaresFala-me do Paraiso na Terra – Suzanne Ward
Miguel S. CorreiaAs Palavras do Corpo, antologia de poesia erótica – Maria Teresa Horta
Miguel BrilhanteOs Segredos do Convento – José de Mello
Catarina FurtadoA História não Acaba Assim – Miguel Sousa Tavares
Paulo EstevãoA Ilha do Silêncio  Nora Roberts
Ana Paula MarquesA Cabana – WM. Paul Young
Rui MatosTreine o Cérebro Use-o ou Perca-o – Vários
Teofilo Braga Linguagem Secreta dos Gatos – Heather  Dunfy
A leitura atenta - pelo José Carlos e Helena Frias da Solmar - para a estação (quente).

sábado, agosto 11

quinta-feira, agosto 9

Arte e Engenho


Explode como um átomo, abre-se como uma flor e tem o cunho primevo do big bang e da flora original. Esta Atomic Magnolia, brinda-me o olhar todas as manhãs dos últimos dias na rotina casa-trabalho. Hoje decidi parar e olhá-la de perto.
O criador tendia elásticos e tem o olhar meigo (claro que é importante o seu olhar, porque não haveria de ser?). Nas linhas que fez nascer assim, centrífugas, ele vê a explosão do átomo primordial e o desabrochar da magnólia – “é entre as flores uma das espécies mais primitivas”. Desenha com elásticos linhas que irradiam de um centro – “é como os Açores, um ponto de contacto de onde partem muitas direções”.

É assim que o olhar do Bruno Jamaica vê a sua Atomic Magnolia. Eu concordo e acrescento – que bonito está, por estes dias, o jardim Antero de Quental.

Mil e quinhentos metros de elástico compõem a magnólia atómica. Numeral idêntico ao dos quilómetros que se fazem entre Ponta Delgada e o Porto, onde o Bruno Jamaica compra os ditos elásticos. O artista captou esse detalhe de informação nos monitores a bordo da Sata ao voar para cá. Não disse que o olhar do Bruno era importante? Olhos que também captam detalhes tendem a ser hábeis na hora de retratar o essencial.

A sensatez dos plátanos


Esperam-nos, com aquela soberania que só as árvores encerram, no ponto exacto em que a SCUT (no sentido Nordeste – Ponta Delgada) se funde com a estrada regional. São três velhos plátanos, três seres distintos forjando uma entidade única, sólida, infatigável. Passo por ali diariamente nestas tardes estivais, e todos os dias sinto a força da sua sensata advertência: «Desacelera, activa o freio (do pé, do carro, do coração), que a partir daqui a coisa é nossa, é antiga e inabalável, um sábio reino de seiva e de raízes». E eu, claro, obedeço.

sexta-feira, agosto 3

Inauguração


As peças 'Piece of Me' e 'Em Viagem', de Catarina Branco, vão suceder à obra 'Kenosis', de Urbano, instalada desde Junho na igreja de São José, em Ponta Delgada, aquando da inauguração do projeto "Indigências".

A inauguração é hoje, 6ª feira, pelas 19h00.

A morada dos manuais



Sessenta e quatro “likes” e setenta e três “talking about this”. É pouco mas é um começo.

Para os mais distraídos, apesar da boa cobertura jornalística prestada ao Banco do livro escolar dos Açores, lembro a nova morada dos manuais que tem lá por casa: Avenida Infante D. Henrique no edifício dos “correios velhos”. Não há que enganar, tal qual como o propósito do banco: reaproveitar os livros que tanto lhe custaram a comprar no ano passado para os seus filhos, para que possam reentrar no circuito escolar e continuem a prestar bom serviço a outros alunos e outras famílias.

Interessante o cuidado dos promotores (este banco insere-se numa rede nacional) ao sublinharem, em várias ocasiões, que o Banco do livro escolar é para todos e não apenas para famílias financeiramente carenciadas. Ao tomar esta posição, o Banco do Livro Escolar assume-se como verdadeira iniciativa cidadã – a sociedade a “tomar juízo” e consequente ação.

Fica o desejo de que o Banco do Livro Escolar cresça desmesuradamente a ponto do seu ruído chegar ao governo que, à semelhança do seu antecessor, teima em tardar a regulamentação da lei 47/2006, de 28 de Agosto, no que esta prevê quanto ao empréstimo de manuais e de outros recursos didático-pedagógicos, a definir pelas escolas e agrupamentos no âmbito da sua autonomia.

É ingrato constatar que, neste país falido, o Estado continua a gastar milhões de euros por ano com a compra de livros escolares para famílias que recebem apoios da ação social, ao mesmo tempo que obriga as famílias da dita “classe média” (ainda há disso por cá?) a investirem centenas de euros por ano nesses recursos essenciais que são os manuais escolares, para em seguida o seu destino ser – com sorte – a reciclagem.

Ou o Banco do livro escolar dos Açores. Valha-nos o Banco do livro escolar.

quinta-feira, agosto 2

A HUMANIDADE EM AGOSTO


A HUMANIDADE EM AGOSTO

            para a Inês, que esteve lá

Era uma tarde assim, como já sabíamos
ou devíamos, pelo menos, calcular:
insuportável o calor, duvidosa a alegria.
Mas íamos fazer compras e
era Agosto, mês de pouca gente.

que viu, como nós, o autocarro
parar bruscamente.
Quatro pequenos cães, de famílias
por certo bem diferentes, atravessavam
num sereno susto o alcatrão. Desconheciam
que tudo (sim, não é apenas o tabaco)
pode matar num dia qualquer os que estão vivos.

Seguiam quase ordeiros, sem caminho.
E não sabiam. Como poderiam saber
que eram as vítimas ocasionais
de umas férias mais tranquilas
para esses mesmos que, na sua excessiva
humanidade, os abandonaram à nenhuma sorte?

E a caravana passou, rodeada de silêncio.
O mais pequeno e farrusco, o que
vinha atrás, parecia não acreditar ainda
que era este o seu destino, nem urbano
nem campestre; simplesmente intolerável.
Doía muito ver-lhe os olhos, e ser humano
como os humanos que ali se libertaram
dele, para garantir a liberdade que não têm.

Pouco tempo depois, o autocarro arrancou.
Chegaremos mais devagar à mesma morte. Mas
chegaremos. Eu sempre achei a humanidade o que
de pior havia sobre a terra. Preferia, às vezes, não ter razão.


                 Manuel de Freitas