quinta-feira, junho 30

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hipocrisias e outras tolices esquerdistas de um autodenominado pró-ambientalista

Isto pouco tem a ver com isto. Mas a febre automobilística já se apossou dos insulares coriscos. Se conduzir em Ponta Delgada (ou em São Miguel) é - já - difícil. Por estes dias será, no mínimo, dramático. Esta é, infelizmente, uma batalha perdida...ah, mas pelo menos a gasolina é Verde!

Para já só poesia...|*|


E esse teu dom, Deus que salve!",
Porque pra mim foste a chave
Que abriu-me as portas do mar"
Paulo César Pinheiro in: "Amado Jorge", Clave de Sal

* A PROSA SEGUE DENTRO DE MOMENTOS

A angústia do blogger no momento do post

Por vários motivos, uns mais benignos do que outros, nos últimos tempos tenho andado arredado da blogolândia, um pouco assim como o país anda arredado de um rumo outro que não seja o cano de esgoto, mas isso é outra conversa. Os posts têm sido escassos, os comments idem e houve apenas tempo para um lifting na template que as cores guevaristas já estavam a endrominar a cabeça a muita gente. Não é por falta de assunto, antes por excesso: o deficit, os referendos à constituição europeia, o Sr. Blair transformado em Churchill para o século XXI (podem dizer que é um exagero à vontade, mas ou muito me engano ou o "sacanina" do Tony ainda vai salvar a Europa...), o referendo ao aborto, o Diniz Maria Carrilho, a Sharapova (ai a Sharapova, suspiro), as autárquicas, enfim, temas é o que não falta. Mas isto dos blogues tem destas coisas, umas vezes para cima outras para baixo... De qualquer modo (mas rápido que já tá outra vez bom tempo e eu quero mesmo é ir ali à praia do Pópulo beber uma tulipa, comer uns tremoços e ler a Surfer) queria partilhar com vocemeçes uma ou duas angústias: estou em pulgas para fazer um enorme post sobre as barbaridades que alguns anónimos andam a escrever na caixa de comments do Foguetabraze a propósito dos posts do Nuno sobre o Cais de Cruzeiros e do Turismo nas ilhas, é que é inacreditável a hipocrisia e o cinismo e a falta de vergonha e a pura ignorância que vai na cabeça dessa gente, já para não falar no anonimato que me irrita. Segundo deixo aqui a nota de que não me esqueci dos esquiços para uma ideia de Açores, faltam-me dois para terminar, aparecerão em devido tempo. Gostava também de deixar aqui um forte apelo à Ana Teresa para voltar ás lides bloguisticas, o pessoal tá com saudades. Por último uma constatação, eu sabia que havia uma razão para eu ser republicano. Até logo.

A PEDIDO DE MUITAS FAMÍLIAS...

Cá está o poster. Podem imprimir e colocar na porta do quarto. LOL


PS: As viagens PDL/LIS para este fim de semana estão completamente esgotadas e tresandam a Chanel5 e Davidoff made in Andorra.

...EU HOJE DEITEI-ME ASSIM !

...




«My brain it´s my second favourit organ»

Woody Allen...in Sleeper ( end of Broadcasting by Tyler Durden )

Vitor

experimenta em Tamanho do Texto a opção Menor.

live and direct

from PDL

acabei o meu set e como prometido aqui está um post em directo, não deu para passar nem metade da minha mala de cd's o camarada JNAS não deixou, "alambuzou-se" ao prato Technics e não largou, rock on DJ...

quarta-feira, junho 29

ERRATA

Não que quatro seja uma conta redonda, pois até é quadrada, mas a quinta ilha não vai estar presente. Ando para aqui atarefado a fechar um parágrafo muito caprichoso sobre um tal de Giuseppe Therezio Michelotti, Engenheiro Hidráulico piemontês, que esteve em PDL, nos idos de 1814, para projectar a Doca da cidade.

E depois que faria eu, um pobre rústico, ao lado de quatro expoentes musicais da cultura urbana? Que destino levariam os meus LP?s do Jimi Hendrix e do Dexter Gordon face às reivindicações dançantes da exigente plateia? Apre, que ainda me atiravam para a Doca. Deus me livre desse choque de gerações.

Ouvi dizer que ia haver postas em directo. Esta segue em diferido, como diria o Chico Buarque, com afecto e com açúcar.

breve descrição da mala de cd's

é só para aguçar o apetite...

...Seu Jorge, Noites Tropicais, The Wonder of Stevie, Chaka Khan, Devo, Blade Runner OST, The Stone Roses, Terry Callier, Brian Wilson, Beatles, The Stranglers, The Clash, The Pogues, Nick Cave & The Bad Seeds, Blur, The Cure, Belle & Sebastian, The B-52's, Phoenix, Morcheeba, The Divine Comedy, The Sleepy Jackson, Bobby Conn, The Cardigans, The Czars, Feist, The Go-Betweens, Perry Blake, Badly Drawn Boy, Travis, The Thrills, Keane, Arcade Fire, Kasabian, Bloc Party, Kaiser Chiefs, Ryan Adams, Cody Chesnutt, Elliot Smith, American Music Club, Dave Matthews Band, The Wallflowers, Chris Isaak, The Presidenst Of The United States Of America, Placebo, Meat Loaf, Guns N' Roses, Nada Surf, Kings of Leon, Happy Mondays, Young Disciples, Urban Species, Kylie Minogue, Madonna, Depeche Mode, Renegade Soundwave, Sofa Surfers, Nightmares on Wax...

estes vão passar de certeza e eu vou só abrir a noite.

actualização: o que está a bold passou o resto não me deixaram...

bela cena [remix]



hoje,
com início pelas 22:30, os cinco marmanjos deste blogue vão dar uma de Gilles Peterson de provincia, numa sessão de djing colectivo no PDL, é que é de não perder!

Quem quiser ouvir boa música já sabe.
E ainda posts em directo.

Bicho Carpinteiro

já que estamos em onda de recomendar outros blogues, não posso deixar passar a oportunidade de alertar o blogoarquipélago para este mui interessante blogue, que dá pelo nome de Bicho Carpinteiro, onde pontuam dois ilustres açorianos-continentais, na feliz expressão do querido amigo Melancómico (já agora, será que podemos criar também o clube dos continentais-açorianos? Eu preencho já a minha ficha de inscrição...), como eu dizia, onde pontuam Mário Bettencourt Resendes e José Medeiros Ferreira, mas onde a mais activa postadora é a sempre esbelta (e para o camarada João Nuno, certamente, sempre irritante) Joana Amaral Dias. Bicho Carpinteiro, vão lá ver e não digam que vão daqui...

COMINGSOON - IV

CINDERELLA MAN - O novo filme de Ron Howard (A Beautiful Mind) com Russell Crowe, Renee Zellwegger and Paul Giamatti, que nos conta a história do bouxer profissionar James J. Braddock (Russel Crowe) - serão isto influências do Million Dollar Baby, que só vi ontem há noite?... e prefiro outro Clint...


http://www.cinderellamanmovie.com/index.php

VOX POPULI

A semanada de excitações e reflexões, acondicionada entre aspas, para guardar e, de vez em quando, revisitar na persistência da memória


Pastiche Dali-Lichtensteiniano Von Comic Art - Gymnasium Kothen

«Ao melhor estilo «Rambo» - (Sócrates) - ataca os «malvados» magistrados porque têm férias a mais, os funcionários públicos porque custam muito dinheiro e reformam-se cedo, e os Hospitais S.A. porque o ministro «acha que não» e pronto.»
Jorge Macedo, terça-feira 22 de Junho no Jornal dos Açores

«Com efeito, os magistrados não analisaram certamente que os cidadãos portugueses que recorrem voluntariamente ou são coagidos por terceiros a recorrer aos tribunais são autenticamente espoliados em matéria de custas judiciais, no sentido de serem obtidas receitas que por sua vez suportam as cavalgarias salariais e mordomias da magistratura.»
António Jorge Viveiros Raposo, Sábado, 25 de Junho, no Jornal dos Açores (idem no Correio dos Açores de 26 de Junho e também enviado pelo signatário «a sua excelência o senhor 1ºMinistro»)

«É comovente o afã com que os sindicatos dos professores se levantaram, de repente, para lançar uma luta encarniçada contra o Governo do PS - só porque ele está afazer aquilo que levou o povo a elegê-lo: está cumprir o seu programa.»
Luiz Fagundes Duarte, Sábado, 25 de Junho no Açoriano Oriental

«Os deputados do PS não consideram sequer a possibilidade dos relatos da actividade parlamentar serem o que são por causa da própria actividade parlamentar... Os deputados socialistas ainda nem sequer repararam que a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores tornou-se numa espécie de ressonância da actividade do governo regional... Que a maioria das intervenções provocam uma sonolência generalizada tendo em conta as loas ao executivo açoriano e a falta completa de qualquer sentido que não seja o da pura propaganda (coisa, aliás, que já acontecia quando o tom predominante nas bancadas era o laranja).»
Nuno Mendes segunda-feira, 27 de Junho no Jornal dos Açores

«Convém talvez lembrar a senhora ministra, que os Açores não são a Região Autónoma da Madeira, que nós não temos - e ainda bem - nenhum Alberto João Jardim e que os Tribunais na Região, mesmo podendo atender a determinadas especificidades, regem-se pelas mesmas leis dos do território continental.»
Lurdes Branco, terça-feira, 28 de Junho no Açoriano Oriental

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«NOITE MUSICAL: BLOG :ILHAS ...Música; Local: PDL Café... Entrada Livre... Dia 29 de Junho às 22h30.»
terça-feira, 28 de Junho, Suplemento de Cultura do Açoriano Oriental

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terça-feira, junho 28

COMINGSOON - III

V FOR VENDETA - Com estreia de James McTeigue na realização - foi assistente de realização na trilogia Matrix, assim como, nos episódios II e III da mais recente trilogia Star Wars - e com Natalie Portman ("Star Wars: Episodes I-III," "Closer," "Garden State") num dos principais papeis.
Com argumento baseado na aclamada obra "V For Vendetta" de Alan Moore ("The Watchmen," "Swamp Thing") e do ilustrador David Lloyd.
Em 2006, será a vez da adaptação de Paul Greengrass ("Supermacia") do argumento de Watchmen.

TIPOLOGIAS FEMININAS

Com recurso a extenuantes trabalhos de campo a trupe do frangos para fora, no seriado National Anthropologic, tem elaborado uma galeria de tipologias femininas a não perder.

Cadastradas estão já as Betas e as Intelectuais... para breve prometem-se «As Porcas»... (a Direcção do Ilhas sugere as «Beatas», as «Militantes do BE», e as «Ecologistas New Age»).

UM PORCO NO PICO ou A VIAGEM INSULAR DO BLOG DOS ORIZILCULTORES DE MANTEIGAS!!!

«Uma ilha tem um cone vulcânico espantoso, que se ergue do mar 2.351 metros e bem acima das nuvens. Visto ao longe, o vulcão é uma massa ciclópica cinzenta que assenta numa base de floresta e pastagens verdes. As povoações, pequenas, parecem minúsculas e desgarradas. Mais perto, há vinhas dispostas em cubículos circunscritos por grossas paredes de lava a perder de vista sobre o Canal. Mesmo em frente, há dois rochedos, um vertical e outro dito «deitado». Mesmo assim, depois de duas horas e meia de avião sobre o oceano, aquela ilha não deixa de parecer pequena e perdida no oceano.

As pessoas lá chamam-se picarotos e gostam de música. Muitos deles tocam-na e estudam-na profusamente. Talvez vivam da pesca, de serviços ou mais provavelmente do leite e das pastagens. Diante do coreto bem arranjado as pessoas mais idosas arrumam-se calmamente em cadeiras de praia, à espera de música. Placidamente. Vai tocar uma das dezanove sociedades filarmónicas que existem na ilha. Só naquela pequena vila, há duas. A banda, bem vestida e digna começa a tocar. É uma peça complicada. Nada daquelas fanfarras dissonantes de bêbados. A certa altura tocaram um dos andamentos da Sinfonieta de Shostakovitch. Estava pasmado, ainda agarrado ao meu pão com chouriço, que comprei assim que saí do barco que cruzara o Canal. (Sim, o tal do mau tempo?). Pensava que manias colectivas poderiam ter vingado numa terra assim, para além da atávica tendência para o alcoolismo, do futebol e outras, a que nos habituamos. Mas não - A Música!...

Noutras ilhas próximas são as touradas à corda, que ganham foros obssessivos ou então já vícios suburbanos. Ali, os miúdos acampam, vindos de outras partes ou ilhas. Aliás, é um hábito vulgar naquelas partes entre os jovens. Que me importa que houvesse um único sítio com computadores onde pude descarregar as minhas fotos digitais?

Espantados estavam também dois ingleses, que deviam ser metade dos turistas estrangeiros na ilha e que tinha encontrado de tarde, a meio da subida do vulcão - «hey botanists!» - disseram de longe. Acenei-lhes. O sorriso franco dele acho que também tinha que ver com o contentamento e emoção de estar naquele sítio a ouvir a música da Sociedade Filarmónica da Madalena do Pico. «Um gajo aqui, pode perder-se, drogar-se, olhar para o mar, emigrar ou então estudar e tocar música e ser uma pessoa pela positiva». - foi o meu pensamento fútil.

Mais tarde, ao entrar adentro do que resta da floresta arcaica da ilha, no Pico do Caveiro, rocei árvores anãs, fetos antigos, lianas e nevoeiro. Aqui, há coisas que já perdemos...»




Cortesia do Blog Vareta Funda... o blog dos orizicultores do Concelho de Manteigas... a linkar indispensávelmente no Ilhas.

esta é para o TóZé

Galegos copiam coligação do Ardemares

"El Partido Popular y su presidente fundador, Manuel Fraga, abandonarán la Xunta de Galicia tras 15 años en el poder. El escrutinio de los votos de los inmigrantes confirmó ayer el resultado que salió de las urnas el pasado 19 de junio: el PP se queda a un escaño de revalidar la mayoría absoluta.(...)
Los populares no lograron finalmente arrebatar un escaño al partido socialista en Pontevedra, tal y como esperaban, y el actual reparto de asientos en el Parlamento autónomo permitirá al PSdeG y al Bloque Nacionalista Galego gobernar en coalición."

o titulo é meu a noticia é do ElPais.

atenção: este post foi feito com um sorriso :)

segunda-feira, junho 27

...ORGULHOSAMENTE FLUORESCENTES

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Sempre que sair da cama à noite para actualizar o blogue, vista o seu colete reflector

...Nuno Costa Santos Melancómico




Estão já em vigor as mais recentes e luminosas normas de segurança rodoviária. A adesão dos Portugueses aos coletes reflectores tem sido tão entusiástica que os tenho visto nas costas do assento do condutor e até mesmo em duplicado no do pendura. Eles por aí circulam, orgulhosamente fluorescentes, e especialmente esticadinhos no estofo dos bancos das pick-ups kitadas e cromadas tão do agrado dos nossos autóctones.

Não consigo conceber a razão desta moda de excessivo zelo e diligência no cumprimento do Código da Estrada...mas até arrisco uma teoria. ORA, dando de barato que em Portugal o condutor médio encartado - e já estou a ser assaz generoso pois é terrificante o número de condutores que por aí circulam sem carta ou com a dita apreendida ! - é um ávido mirone de acidentes rodoviários, LOGO, os coletes reflectores estão assim nas costas do banco da frente, mesmo «à mão de semear», acaso haja a sorte de assistir, EM SEGURANÇA, aos destroços de um capotanço ou atropelamento.

Até que a fortuna os bafeje com tal festim eles por aí andam impantes de orgulho fluorescente, exibindo o coletezinho reflector muito bem dobradinho na chapeleira, ou muito engomadinho nas costas do assento do banco do condutor.

demagogia [feita à maneira]

Se tivesse havido competência não havia necessidade de rectificação.


Abraço :ILHAS ao camarada aniversariante.

...A EDUCAÇÃO DA MINISTRA

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A propósito da derrota judicial e política do Secretário Regional da Educação, - que no esteio da doutrina da «Autonomia Cooperativa» se lembrou de decalcar uma medida da República Portuguesa -, a Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, cometeu a monumental gaffe de relativizar a decisão do Tribunal Administrativo de Ponta Delgada que, recorde-se, deu razão aos professores quanto à requisição para serviços mínimos que pretendia inutilizar a greve do passado dia 23 de Junho.

Da controvertida decisão Judicial disse a Ministra que se tratava de «um pronunciamento sobre um despacho que é do Governo Regional, num tribunal que é dos Açores, que não é de Lisboa e não respeita à República Portuguesa, portanto não respeita ao nosso sistema». Este arrazoado de incongruentes dislates sugerem até, subliminarmente, que a decisão do Tribunal era um acto de sublevação localizado, já que, como disse a Ministra, a decisão relativa aos Açores «não respeita à República Portuguesa, portanto não respeita ao nosso sistema».

Esta boutade Ministerial evidencia uma fossa abissal no que respeita à Educação em geral! Não só temos uma Ministra que manifesta a sua completa ignorância sobre os rudimentos do Estado de Direito Português (que é unitário), como ainda se atreve, com inusitada ligeireza, a fazer mau uso da Língua Portuguesa e do nosso acervo civilizacional que, importa lembrar, integra o princípio da separação de poderes! A atitude de qualificada ignorância Ministerial esquece que as decisões dos Tribunais, enquanto órgãos de soberania, não existem para serem tratadas com menoscabo como um qualquer um fait divers político. Ao invés, num Estado de Direito Democrático a oposição às decisões dos Tribunais não deverá ocorrer junto do «tribunal da opinião pública», mas sim em sede de recurso, quando legalmente possível, para instâncias Judiciais superiores.

A clamorosa falta de Educação de Maria de Lurdes Rodrigues, pelo menos em matéria de rudimentos de Organização Política do Estado, redundou mais tarde numa rematada lamechice justificativa em que a Ministra, para se retractar das suas declarações, fez uso do número popular de que também é uma vulgar cidadã, e como qualquer outro ser humano está sujeita a omissões, especialmente, em matérias de tão complexo jaez. Esta novela de cordel teve contudo escassa audiência mediática quando comparada com outras de igual calibre. Noutros tempos os holofotes da comunicação social eram mais eficazes na pós-produção destes enredos, por exemplo, fazendo sátira galante e erudita sobre inexistentes Sinfonias de Violino de Chopin que, apesar da sua inexistência, foram um êxito editorial em muitos jornais de Lisboa.

Seja como for os Portugueses mereciam melhor Educação, e do facto do Primeiro Ministro ter escolhido, oportunamente, a Educação como tema do debate Mensal da Assembleia da República só se espera que não seja mais uma paixão estival a fazer lembrar as palpitações do Guterrismo.

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(post-scriptum : o blog Foguetabraze do Nuno Barata Almeida e Sousa completou dois anos no passado dia 25 de Junho. Muito haveria para dizer mas só me ocorrem as palavras de Nuno Costa Santos quando, numa das crónicas do Açoriano Continental, dizia que custa muito ter uma opinião...mas vale sempre a pena.)

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JNAS na Edição de 28 de Junho do Jornal dos Açores
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just friends...

José, you're my UE man...
George, you're the Boss!

Última Hora

zangaram-se os Barnabés...

...RECTIFICATIVO DE QUÊ ?

...Ontem um vociferante Sócrates anunciava ao País que o seu Orçamento Rectificativo de 2005 era o toque de finados para o monumental embuste que tinha sido o Orçamento anterior. Hoje, e apesar de ter sugerido que o «R» de Rectificativo era a consigna de Rigor, o mesmo Sócrates reúne de emergência para rectificar o rectificativo ! Mas afinal é Rectificativo de quê ?

COMINGSOON - II

THE RING THING - Brevemente num cinema perto de si??????? o filme que vai fazer o "The Lord of the Rings" chorar de riso...


http://www.ringthing.ch/

domingo, junho 26

COMINGSOON - I

DISASTER - Com a tagline: "In space, no one can hear you fart.", brevemente num cinema perto de si??? o filme animado que vai fazer o "Team America: World Police" corar de vergonha...


http://www.disasterthemovie.com/

New Look

cá está ela a nova imagem do :ILHAS para os próximos tempos. É verão, está calor, um look mais "despido", mais mar...
Esperamos que seja do vosso agrado, se não podem insultar na caixinha do costume aí em baixo.

Dentro de momentos...

o :ILHAS terá um novo template.

Batman Begins. Outra fita disponível nos cinemas da capital do Planeta Açores. Goste-se ou não, do fenómeno, este é, sem margem para dúvidas, um dos heróis mais enigmáticos da BD/Comics. No momento em que a saga cinematográfica de Batman, o Homem-Morcego, parecia congelada pela inépcia profissionalizada de Joel Schumacher, colocando inclusive Arnold Schwarzenegger no vilão, Dr. Freeze, no centro do filme, eis que tudo parece voltar ao princípio, às raízes do mito, quase fazendo tábua-rasa dos episódios anteriores, num "tour de force" em que Christopher Nolan instrumentaliza, ao serviço de uma narrativa forte, o que em "Memento" não passava muitas vezes de mero exercício de estilo. + no Público.

O quê!?...

Isto não é nada connosco...

A VIAGEM COMO APRENDIZAGEM



James Tissot (1836-1902)
London Visitors (circa 1874)
Toledo Museum of Art, Ohio, USA

Eu vou para baixo. Se o tempo for bom, daqui me dou por despedido; senão voltarei ao depois para cima. Adeus minha Prima, Adeus meus filhos, Adeus meus Irmãos. Adeus minha casa. Rogo a Vossemecês todos a boa harmonia na minha ausência, até que Deus queira.

Esta nota de adeus, escrita por José Caetano Dias do Canto e Medeiros a 2 de Dezembro de 1836, dá bem conta da forma contingente como eram feitas as viagens na 1ª metade do século XIX, quando a cidade de Ponta Delgada ainda não tinha um porto artificial onde os barcos acostassem em segurança. Os embarques podiam ser determinados por um golpe de vento e eram feitos ao sabor da mudança das marés. Não tinham, em suma, hora marcada e, por isso mesmo, não houve lenços brancos de despedida quando José Caetano desceu canada abaixo, da sua Quinta dos Prestes até aos calhaus de Rosto de Cão, para tomar o bote que o levaria até à Eugénia, o patacho português em que embarcou rumo a Lisboa, primeira etapa do seu grand tour europeu com duração de nove meses, o tempo de gestação de uma nova vida.

A prática do grand tour no seio da classe dominante açoriana vulgarizou-se a partir da década de 1830, quando assentou a espuma revolucionária das Guerras Liberais, e foi particularmente prolixa na ilha de São Miguel pois o comércio da laranja assegurava relações directas e frequentes entre Ponta Delgada e Inglaterra. Quaisquer que fossem os itinerários dessa viagem, ela tinha sempre como pontos de visita incontornáveis as cidades de Paris e Londres que, quais faróis da civilização moderna, eram o stupor mundi de então. Ao contrário da voga lançada pelos aristocratas ingleses na 2ª metade do século XVIII, cujos destinos preferenciais eram a majestade da paisagem alpina ou a sensualidade e patine histórica do litoral mediterrânico, o modelo seguido pelos viajantes micaelenses no século XIX escapa completamente ao padrão geográfico, e também estético e ideológico, do grand tour romântico. Aquilo que José Caetano (e como ele muitos outros) procurava ao viajar para as grandes cidades do Norte, não era o espectáculo da natureza ou o fascínio pelo passado, mas sim o mergulho decidido na contemporaneidade e a irreprimível vertigem do progresso. Não se julgue, contudo, que estas regras da atracção pela modernidade só começaram a fazer-se sentir no século XIX, pois já em 1796 um negociante de grosso trato estabelecido em Ponta Delgada, o americano Thomas Hickling, fez um grand tour europeu em tudo semelhante ao de José Caetano, sendo curioso comparar os diários de viagem que ambos escreveram nessas suas deambulações por Paris e Londres.

Ao lermos esta espécie de log books damo-nos conta de que os Açores, ou pelo menos algumas franjas das suas elites sociais, procuravam estar à la page com as transformações ocorridas nos principais centros da civilização, pelo que as viagens empreendidas, sendo muitas vezes de negócio (como foi o caso da de Hickling), tinham também um forte carácter de recreio e instrução. A venda de vinho e fruta nos mercados do Norte da Europa, os contactos com agentes comerciais e corretores, eram complementados por idas a exposições, museus, jardins botânicos, teatros, óperas, livrarias e last but not the least, por uma lista de compras de objectos de distinção social (pianos, caleches, relógios e mobiliário) que, uma vez de regresso a casa, davam ao proprietário a marca inconfundível do seu cosmopolitismo e ilustração. O grand tour deixara de ser um ritual aristocrata e a sua crescente vulgarização social, que está na origem do fenómeno oitocentista do turismo, tornara-se numa forma de aprendizagem que fazia parte do cursus honorum de qualquer pretenso cavalheiro.

Viajar era um tirocínio cultural e o diário de José Caetano é bem a prova disso mesmo. Tal como ele, outros conterrâneos seus, com os quais se cruza em Londres e Paris, procuravam escrutinar nessas grandes urbes uma realidade que Lisboa não estava à altura de lhes oferecer. Os barcos ingleses que vinham à ilha de São Miguel carregar laranja proporcionaram aos Açores a ligação directa com o centro do mundo e, embora poucas, algumas famílias souberam aproveitar esse atalho e iludir a suposta periferia insular em que viviam. Iludiram-na e de que maneira, escolhendo Paris como local de residência ou estudo e fazendo muitas vezes os seus grand tours ao ritmo quadrienal das Exposições Universais que, a partir da primeira realizada em Londres no ano de 1851 (quando o recém inaugurado Crystal Palace mostrou ao mundo os prodígios da arquitectura do ferro), passaram então a marcar o início daquilo que Mr. Thomas Cook descobriu ser o turismo de massas.

...

Este texto está também publicado na número estival da revista de bordo da SATA-Internacional, Azorean Spirit de seu nome. Na edição impressa a sopinha de letras vem ilustrada com uns bonecos engraçados que o meu trogloditismo informático impede de partilhar aqui com os amáveis leitores. A toda a blogosfera, as minhas acrisoladas desculpas.

sábado, junho 25

epidemia estival

Hordas de Tias (e Tios) - do Montijo e Queluz de Baixo - invadem São Miguel, Ponta Delgada e arredores...é um hóorrrorre!...

sexta-feira, junho 24

...A GREVE III ...ou a DOUTA SENTENÇA

Acaso exista uma legião de seguidores da ignorante (pelo menos em matéria de rudimentos de Organização Política do Estado) Ministra da Educação recomenda-se a instrução dos mesmos, nomeadamente, em www.fenprof.pt... lá encontram o texto integral da providência cautelar e da decisão Judicial do Tribunal Administrativo de Ponta Delgada, que a Senhora Ministra relativizou!

...em voz off ouço o PM, em tom zombeteiro, alinhavar na Assembleia da República uma espécie de atrevida teoria da conspiração para a greve!

Nº 5

quinta-feira, junho 23

Reporter X

Do lapso nasceu a estéril polémica do acessório. Mais um hilariante momento desta zona de fronteira interna.

...A GREVE II ...ou a MINISTRA SECESSIONISTA SOCIALISTA!

A propósito da derrota judicial e política do Secretário Regional da Educação, - que no esteio da doutrina da «Autonomia Cooperativa» se lembrou de decalcar uma medida da República Portuguesa -, a Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, abriu a boca para deixar passar esta boutade: «É um pronunciamento sobre um despacho que é do Governo Regional, num tribunal que é dos Açores, que não é de Lisboa e não respeita à República Portuguesa, portanto não respeita ao nosso sistema». Em bom rigor, do que se trata é do regresso à doutrina saloia de que Portugal é Lisboa e o resto é paisagem.

Recorde-se que depois de o Tribunal Administrativo de Ponta Delgada ter dado razão aos professores quanto à requisição para serviços mínimos no período de exames, a Ministra da Educação comentou que a decisão relativa aos Açores «não respeita à República Portuguesa, portanto não respeita ao nosso sistema».

Noutros tempos de Autonomia reivindicativa estes dislates teriam merecido a devida réplica, mas nos tempos que correm parece que até a «alma Açoriana» também entrou em greve!

...

Disclaimer

Eu queria dizer que concordo com a Sra Ministra, isto aqui nos Açores não tem nada à ver...

...A GREVE I

...Hoje cumpre-se mais uma «jornada de luta» pelos «direitos dos trabalhadores». Qualquer grevista com curriculum por certo recordar-se-á de ter participado noutras campanhas, sendo que as mais recentes tiveram lugar contra a ferocidade das «medidas de direita» dos Governos do PSD-PP. Hoje, sendo certo que Sócrates virou o dente aos ditos «direitos sociais», com redobrado e extremo encarniçamento, o dito grevista experimentado não deixará de pensar que vai à luta contra as políticas de «extrema direita» de Sócrates !...pois é...Sic Transit Gloria Mundi...

a emissão

tem de prosseguir...ehh...devido a uma T******!... Grande Momento de Televisão Pública.

quarta-feira, junho 22

EU HOJE DEITEI-ME ASSIM!



Eu num camelo a atravessar o deserto
com um ombro franjado de túmulos numa mão muito aberta

Eu num barco a remos a atravessar a janela
da pirâmide com um copo esguio e azul coberto de escamas

Eu na praia e um vento de agulhas
com um Cavalo-Triângulo enterrado na areia

Eu na noite com um objecto estranho na algibeira
-trago-te Brilhante-Estrela-Sem-Destino coberta de musgo


in Poesia de António Maria Lisboa - texto estabelecido por Mário Cesariny de Vasconcelos.


TYLER DURDEN taking a ride from this «Cadáver Esquisito» of the Ardemares


Os ossos do mar têm curvas
suaves e ondulantes
quero perder-me nelas

por vezes acutilantes
punhais que rasgam velas

outras vezes sonantes
epitáfios que calam obscuras novelas

Com reumatismo, artrose e bicos de papagaio.(no inverno)

os ossos do mar
na geografia do saber:
paralelos vivos
e meridianos de amor
em cartas de angústia

os ossos
do mar têm curvas
seixos ancorados
na eternidade do corpo


(END)


...

terça-feira, junho 21

VOX POPULI

A semanada de excitações e reflexões, acondicionada entre aspas, para guardar e, de vez em quando, revisitar na persistência da memória.



«A liberdade que apregoaram (os comunistas e gonçalvistas) era a deles e não a nossa. Mesmo assim tiveram-na. É essa a nossa superioridade.»
Carlos Falcão Afonso, terça-feira, 14 de Junho, na caixa de comments ao post O Companheiro Vasco

«Um alto dirigente do PCP teve a lata de me dizer ontem: "Não vou aos blogues, são um desfile de vaidades".»
Nuno Barata, quarta-feira, 15 de Junho, no Foguetabraze

«Onde andavam os socialistas, os cds, e os psd, antes do 25 de Abril? Que contributo deram para o derrube do fascismo?! De que forma lutaram pela Liberdade e pela Democracia?! Ah é verdade, andavam bem instalados nas cadeiras do poder, nas quintas e nas casas alcatifadas, enquanto o povo morria à fome. Infelizmente, 31 anos após Abril, em Liberdade e democracia, continuam bem instalados, enquanto aumenta o número de pobres deste país à beira mar plantado... Mas não é preciso ter vivido o 25 de Abril para reconhecer o esforço, empenho, dedicação, luta, coragem e sacrifício dos muitos que contribuíram, alguns até com a morte, para que pessoas como o almeida e sousa e o seu primo possam escrever contra nós nos blogs e nos jornais...»
Lurdes Branco, quarta-feira, 15 de Junho, na caixa de comments ao post O Companheiro Vasco

«A maior parte dos protagonistas do «arrastão» de Carcavelos precisava de ter frequentado uma escola que, em vez de conversas paternalisto-folclóricas sobre o som dos batuques, as raízes africanas e o tráfico de escravos, lhes tivesse exigido o mesmo que aos seus colegas brancos e asiáticos. Claro que isso implicava escolas abertas desde o principio da manhã até ao final da tardem serviços de cantina, controlo de entradas e saídas, aulas de estudo... e implicava também que a escola assumisse que tem regras e disciplina.»
Helena Matos, Sábado, 18 de Junho no Público

«Jorge Sampaio, por um qualquer acaso Presidente da República Portuguesa, perguntou ao Embaixador de Cabo Verde se era seguro fazer no Sábado a aparatosa visita ao Bairro da Cova da Moura, por acaso situada em território português. Será isto normal?»
JAC, segunda-feira, 20 de Junho no AnarcoConservador

«O bom comunista, tal como o bom fundamentalista, cospe no prato dos factos. Ou seja, cospe em todos nós. Os tipos que ainda rezam na casa de Lenine não aceitam críticas exteriores por causa disto: o ser exterior à verdade interna, o não-crente, não tem legitimidade para criticar a verdade revelada.»
Henrique Raposo, terça-feira, 21 de Junho, no O Acidental

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Jantarada

2º Aniversário do Foguetabraze, o blogue do grande Nuno Barata.

Sábado 25 de Junho pelas 20h30m no Restaurante O SILVA na Ribeira Seca da Ribeira Grande.

Espero apareçam todos e levem os Vossos amigos.

Os interessados em participar devem confirmar a presença para este email.

Eu vou.

segunda-feira, junho 20

EU HOJE DEITEI-ME ASSIM!



Blue Night Over The Sky
Blue Night Over Me
Dis-Appeared Out Of The Window
Me With Hands
Hidden Under My Cheek
I Think About My Day
Today And Yesterday

I Put On My Blue Nighties
Go Straight To Bed
I Pull The Soft Covers Over
Close My Eyes
I Hide My Head Under The Covers
A Little Elf Stares At Me
Runs Towards Me But Doesn't Move
From Place - Himself

A Staring Elf
I Open My Eyes
Take The Crusts Out
Stretch Myself And Check (If I Haven't)
Returned Again And Everything Is Okay
Still There Is Something Missing
Like All The Walls


Sigur Rós in a possible translation!

TYLER DURDEN

O PARLAMENTO DE CÉSAR

Ao arrepio da grande massa de Açorianos os nossos excelsos parlamentares vão a banhos mais cedo. Assim, a Sessão de Junho da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores decorreu numa modorra morna antecipando já a canícula do Verão que para a maioria dos eleitores só chega em Agosto.

Apesar das vicissitudes meteorológicas pouco favoráveis a desgastantes tarefas de bancada parlamentar houve tempo e labor para cumprir a agenda da nossa Assembleia. Nesse âmbito destaque para os profusos votos de congratulação, protesto e pesar, todos eles, como se imagina, com inegáveis refracções na vida do comum dos cidadãos destas Ilhas. Do extenso catálogo destacam-se os merecidos votos de congratulação pela abertura do Centro Cultural da Caloura (ou Castelo Centro Cultural, vulgo CCC), o voto de regozijo pela nomeação de António Guterres para o prestigiante cargo de Alto-Comissário das Nações Unidas para os Refugiados (matéria na qual o nomeado tem experiência própria quando teve que se refugiar do seu próprio Governo), ou ainda o estultificante voto de satisfação pelo 50º Aniversário do Grupo Folclórico de São Miguel (bem a propósito, pois em tempos de crise nada como um bailarico para «animar a malta».). Para compensar algum pendor elitista a Assembleia ainda fez passar alguns votos de congratulação para deleite das massas, como por exemplo, o voto de congratulação pela subida do Candelária Sport Clube à I Divisão Nacional de Hóquei em Patins, ou o voto de congratulação pela subida do Futebol Clube da Madalena ao Campeonato de Futebol da II Série B (duplo!).

Dolosamente omitimos os votos de protesto e de pesar pois já lá diz o jargão popular que tristezas não pagam dívidas e estas acumulam-se sozinhas em tempos de crise.

Mas, esta poeira do acessório desvia a nossa atenção do principal, e em sede de medidas de fundo a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores tem patenteado um modus operandi constrangedor. Na verdade, o areópago da nossa classe política tem servido apenas para justificar formalmente as medidas do Governo Regional. De modo hábil fica a aparência de que neste fórum de poder tudo se debate e discute, sempre com elevada participação cívica, o que se promove e aceita, desde que, se vote favoravelmente em sentido único as iniciativas de mérito... as do Governo claro está. Sintomático deste entorpecimento parlamentar é o caso da rejeição da proposta do PSD para a indemnização pelos danos causados pelos «galgamentos» do mar na Ilha do Pico. Sendo certo que as prioridades de investimento parecem canalizadas para o majestoso projecto das Portas do Mar, não é menos certo que não havia necessidade de «chumbar» uma proposta que tinha a virtude de desafogar financeiramente quem viu o mar entrar portas dentro!

Nesta sessão de Junho da Assembleia Legislativa Regional ficou também límpida e cristalina como água a forma como o Governo Regional dos Açores pretende relacionar-se com o poder Local. Essa relação não será por certo de pura e imaculada solidariedade, porquanto, numa entorse ao primado da subsidiariedade oneram-se as autarquias locais com atribuições e competências sem a respectiva guarnição de recursos humanos, patrimoniais e, sobretudo, financeiros. Paradigma dessa nova orientação Socialista é o caso do regime jurídico do planeamento, protecção e segurança das construções escolares que, sobrecarrega desproporcionalmente os Municípios da Região Autónoma dos Açores. Este extenso diploma transfere para o património municipal «com dispensa de qualquer formalidade» (sic) todos os estabelecimentos da educação pré-escolar e do 1º ciclo do ensino básico, sem contudo transferir ao mesmo tempo o indispensável «envelope» financeiro para apoiar a titânica tarefa de manter, reparar, ordenar ou planear a referida rede escolar. Ora, conhecida a escassez e míngua dos fundos do PRODESA de 99, arquitectados para uma outra realidade que não esta, é de mediana inteligência adivinhar que os apoios a conceder serão escalonados de modo politicamente discricionário.

Assim, umas escolas vão merecer maior atenção do que outras, não em função da consigna «a cada um de acordo com as suas necessidades e a cada um de acordo com as suas possibilidades», mas sim em função de uma agenda política que servirá para calendarizar os eventuais contratos ARAAL que se façam.

Por estas e por outras é que Assembleia Legislativa Regional diz cada vez menos ao comum dos cidadãos destas ilhas e cada vez mais se assemelha com um pebliscitário Senado reverencialmente dominado por César.

JNAS na Edição de 21 de Junho do Jornal dos Açores

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MA 2005

sábado, junho 18

Tolerância

PRECISA-SE...!

BLOGING ME SOFTLY

Estava a ficar agarrado. Telefonei para a Alternativa e tudo, mas ainda não tinham criado nenhum núcleo de blogoólicos anónimos. Deixei recomendação nesse sentido. Acordava de manhã com a veia aos saltos, vinha de pijama para o computador - enfim, uma vergonha. Isto do PC ser a nossa ferramenta de trabalho é o diabo, sobretudo quando um homem é fraco, sem a têmpera inoxidável de um Prof. Cavaco, de um Eng. Sócrates. Ponderei inscrever-me num curso de yoga, entrar em jejuns macrobióticos, mas não foi preciso estar com despesas; um prestável vírus do ciberespaço acabou por resolver o problema. Só a caridade cristã do João Pacheco de Melo é que permitiu, outro dia, mandar para aqui uma posta sobre o Relvão, tarde e a más horas, obrigando o pobre do homem a ir para a cama às tantas - e logo em véspera de dia de festa. Hoje o computador lá teve alta hospitalar e eu achei-me na obrigação de beber um copo à sua saúde, mas, hélas, não vou entrar em loucuras porque depois, como dizia o outro, o corpo é que sofre e o António Variações, que foi pára-quedista, sabia bem do que falava.

Entretanto, fartou-se de morrer gente. Pode parecer mórbido, mas adoro escrever obituários. Tenho imensa inveja do Embaixador José Cutileiro e daqueles seus In Memoriam no Expresso. Receio, contudo, entrar em contratempo depois da posta do JNAS sobre o Vasco Gonçalves e não me parece próprio estar para aqui a discorrer sobre o Álvaro Cunhal. Bom, mas já que estamos a falar de mortos, é caso para dizer: better red than dead.

Sobra, portanto, o Eugénio de Andrade. Que foi poeta, coisa simpática de se ser. Mas sou incapaz de lhe gravar aqui um epitáfio porque, embora respeitando imenso a sua escrita rigorosa e enxuta, nunca me entusiasmou muito aquilo em que ele foi verdadeiramente bom; a expressão lírica. De qualquer forma, é um grande senhor da Língua Portuguesa a menos e vou ter saudades do jeito que ele dava às palavras, do tricôt que lhes aplicava. Em sua homenagem, queria deixar um testemunho que porventura alguns acharão interessante. Há cerca de dois anos, fui de romaria à casa da Marguerite Yourcenar, que é num sítio encantador do Maine e, en passant, consultei o espólio da escritora que está depositado na Houghton Library, em Harvard. A Yourcenar tinha uma autêntica fobia a aviões e sempre que vinha à Europa receber um prémio literário, ou coisa do género, apanhava aqueles paquetes transatlânticos que escalavam o arquipélago nas décadas de 50-60. Lembrando-me do espantoso poema que o John Updike escreveu sobre os Açores nas mesmas circunstâncias, sem sair do upper deck do navio, resolvi vasculhar os carnets de voyage de Madame Yourcenar à procura de umas anotações suas sobre estas ilhas, mas depressa percebi que me ia faltar vagar para algo que deve ser feito com muita calma. Virei-me, então, para a correspondência e, na lista dos portugueses que se escreviam com a senhora, saltaram-me aos olhos os nomes de Maria Lamas e Eugénio de Andrade. Transcrevi uma boa mão cheia de cartas e trouxe o lápis comigo. Na Houghton, as canetas ficam à entrada e os assentos são em pele.

Espero que a Curadora da Divisão de Manuscritos não leve a mal, mas vou aqui publicar excertos da primeira carta que o poeta escreveu a Yourcenar, datada de 13 de Março de 1960, pouco depois de a ter conhecido pessoalmente no Porto, durante um jantar, quiçá de tripas. Acho que o Eugénio de Andrade, caso esteja por aí a cirandar na blogosfera, vai gostar de reler estas suas palavras. Ainda que em francês, falam de uma certa arte perdida de ser português.

Chére Madame
(...) Je pense, s'il y a une âme nationale, dans notre cas, il faut la chercher dans les poétes. Ce que de plus vivant (et vous m'avez dit que c'est cela qui vous interesse) il y a dans notre Moyen Age doit se trouver dans les "cantigas de amigo", les "Chroniques" de Fernão Lopes, et le "Théatre" de Gil Vicente.

Je vais écrire au fils du Professeur Joaquim de Carvalho pour qu'il me procure le court, mais dense, essai de son pére sur la "saudade", qui vous interessa certainement. Et j'ai déjá parlé à un ami, Dr. Óscar Lopes, pour qu'il m'aide dans l'élaboration de la liste des livres que vous m'avez demandée.

Je n'oublierai rien, car je n'oublierai jamais notre rencontre. Mon meilleur souvenir à votre amie, et la profonde sympathie

de Eugénio de Andrade

sexta-feira, junho 17

Rodrigo Leão

amanhã, sábado, dia 28, 21h30, Teatro Micaelense

«As suas raízes conhecem passado tanto na Sétima Legião como nos Madredeus, projectos nos quais a capacidade de sugestão imagética da música sempre se afirmou naturalmente. Não se estranhou, portanto, que em 1994, quando se revelava pela primeira vez a solo no álbum Ave Mundi Luminar, Rodrigo Leão chamasse à sua música toda uma carga visual quase cinematográfica. (...) À falta de desafio de terceiros, o músico levou mãos à obra. Vestiu-se de «realizador», criou as suas cenas, personagens e ambientes... E eis que apresenta o seu Cinema. (...) O Latim é agora memória guardada em canções de outros filmes, cedendo território às palavras mais vivas e actuais em português, francês e inglês, não se perdendo todavia a relação com a palavra e, sobretudo, a voz, a um nível eminentemente plástico. (...) O jogo de complementaridades entre instrumentais e canções, onde por vezes frases de umas entrecruzam as melodias de outras ,vinca a ideia de banda sonora virtual, como se de facto estivéssemos perante um filme.» Nuno Galopim in Diário de Notícias (25/6/2004)

nº 4

quinta-feira, junho 16

elogio,

ao núcleo da MUU, ontem, na estreia da 3ª Mostra de Teatro. Apelidaram-nos de Comité Central - Lindo! Gostei, igualmente, do trabalho do MR e da Catarina - o que é necessário é continuar a lutar!...

terça-feira, junho 14

VOX POPULI

A semanada de excitações e reflexões, acondicionada entre aspas, para guardar e, de vez em quando, revisitar na persistência da memória.



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«A Autonomia é, ainda hoje, uma solução portuguesa nos Açores. Mas, com o tempo, o futuro vai dar-nos razão: A Autonomia vai ser ainda uma solução açoriana para os Açores.»
João Paz, segunda-feira, 6 de Junho, no Jornal dos Açores

«O espírito do «6 de Junho» está a finar-se... a tão celebrada Alma Açoriana definha-se.»
Jorge do Nascimento Cabral, quarta-feira, 8 de Junho, no Correio dos Açores

«Consigo perceber perfeitamente a Autonomia Regional, o seu percurso histórico e a sua evolução, sem a menor referência ao 6 de Junho de 75.»
Dionísio de Sousa, quinta-feira, 9 de Junho, no Da Autonomia

«Raul Brandão escreveu sobre os da ilha do Corvo: «eu não podia viver como estes homens, mas na hora da morte queria ser um destes homens». Li isto, porque estou, enfim, a ler de novo. O livro é sobre uma viagem aos Açores e à Madeira, feita em 1926, e chama-se «As Ilhas Encantadas». O Corvo «tão humilde, tão feio, tão só, que me mete medo. Um penedo e vento na solidão do Atlântico», «onde a paisagem não sorri nem as raparigas cantam». E, no entanto, «quando as raparigas embarcam para a América até das pedras se despedem, abraçando-as». Fosse assim a vida, fosse assim comigo, essas raparigas, na hora de partirem.»
José António Barreiros, quinta-feira, 9 de Junho, no Mundo em Gavetas

«Cunhal, um português que se tornou o símbolo sexual de várias beatas do salazarismo era uma versão de Salazar, vermelha, mas uma versão do autoritarismo da não tolerância.»
António João Correia, terça-feira, 14 de Junho, no Resistir

«Reacções: «grande patriota»! Desde quando os comunistas são patriotas? O comunismo não é uma corrente universalista que, precisamente, queria desfazer as nações e unir os homens numa grande irmandade?»
Henrique Raposo, terça-feira, 14 de Junho no Acidental

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AMANHÃ | 21H30

No Coliseu Micaelense.
Em ambiente de café-teatro, o humor inteligente dos Ri-te Rita.

Com Catarina Ferreira, Lúcia Caixeiro, Mário Roberto e Miguel Carvalho.
Vídeo e som de Marc Fernandez
com a colaboração de Joana Dias, Bruno e Steven

Bilhetes à venda nas bilheteiras do Coliseu Micaelense - 2,5 euros

segunda-feira, junho 13

...O COMPANHEIRO VASCO



«força, força, companheiro Vasco
nós seremos a muralha de aço»...

felizmente esta cantilena de Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo, que também fazem parte do folclore revolucionário, é hoje apenas ferro velho Marxista-Leninista. Vasco Gonçalves (1922 - 2005), ou o «companheiro Vasco» como era louvado nas «manifes» do «verão quente» de 1975, faleceu, no passado dia 11 de Junho, numa burguesa piscina do decadente Algarve! Deixou-nos o Gonçalvismo como referência de um dos períodos mais vermelhos da nossa história, o que é o mesmo que dizer um dos tempos mais negros e sinistros do Portugal de Abril. No legado político deste ex-primeiro ministro não eleito inscrevem-se, designadamente, os saneamentos, os mandados de captura a executar por Otelo Saraiva de Carvalho, as acções de dinamização cultural e, como em tempos afirmou, a repulsa por tudo e todos os que pudessem macular a Revolução com algo de semelhante a uma «democracia política burguesa, dessas vulgares que existiam na Europa».

Infelizmente, essa aventura da «revolução científica», mancomunada com a «revolução anarquista», entremeada com umas pinceladas de Marx, Engels e Lenine, não se quedou pelo mal fadado ano de 1975! Na pesada herança de Vasco Gonçalves contabilizam-se ainda as ocupações da Reforma Agrária e as Nacionalizações que atiraram o País para um atraso económico dificilmente recuperável 20 anos após o projecto de Nacionalizações da Banca e dos Seguros.
Em suma: Vasco Gonçalves fez parte da tribo militar que sob a sigla «Povo-MFA» congeminava a cubanização de Portugal.

Hoje, longe desses tempos, não deixa de ser preocupante o branqueamento da história a propósito da necrologia de um homem de Abril! No caso de Vasco Gonçalves há muito mais do que um indivíduo! Há um esboço de uma ideologia ditatorial que caiu após a sublevação da Direita no Norte de Portugal, o movimento Independentista nos Açores, e a acção luminosa dos Socialistas em Lisboa após o «caso República», no qual, é bom não esquecer, o «companheiro Vasco» e os seus camaradas tinham aplicado, em substituição do lápis azul, o lápis vermelho da censura do PREC. Ora, a ser assim, como efectivamente o demonstra a história, não deixam de ser bizarros os elogios «post mortem», especialmente o de Mário Soares, elevando Vasco Gonçalves ao Olimpo dos defensores da Democracia. Porém, este é apenas mais um exemplo típico do «vira casaquismo» Português com o qual ninguém se indigna. Efectivamente, o nojo de Mário Soares não justifica que o próprio se esqueça das tribos militares, às quais Vasco Gonçalves deu guarida, e das quais se destaca o inesquecível Otelo Saraiva de Carvalho, que em tempos anunciava que para a Revolução prosseguir necessário seria acantonar a reacção, na Praça de Touros de Campo Pequeno, para que fossem todos «passados» à metralhadora!

Estes e outros desmandos ignóbeis são hoje convenientemente esquecidos no momento do epitáfio fúnebre, para o qual os jornais apenas convocam os companheiros de luta! Nestes por certo ainda ecoam as palavras do Generalíssimo Vasco Gonçalves, «humanista e democrata», quando no celebérrimo Discurso de Almada se despediu do palco da política vociferando: «Só o Socialismo, o autêntico, dará a cada um de nós o pão e as rosas, o sustento e o saber». Entretanto, Vasco Gonçalves despediu-se da vida numa piscina Algarvia, gozando de uma tolerância que ele próprio e os seus camaradas não ambicionavam para Portugal! Porém, no requiem pelo seu projecto juntaram-se coros de encómios que só me fazem lembrar as palavras de Jim Morrison quando sabiamente vaticinava: «death makes angels of us all»!
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JNAS na Edição de 14 de Junho do Jornal dos Açores.

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Tinham Dúvidas?!...

Eu, infelizmente, NÃO...!

Os tempos estão propícios a lágrimas mas estas anunciam um regresso - o de Brett Anderson e Bernard Butler (2 ex-SUEDE) que voltam a trabalhar juntos depois de 10 anos de interregno. Um bom prenúncio daquilo que foram capazes de fazer e que podem ser capazes de voltar a fazer. Nada de particularmente novo mas um bom disco pop, como convém em época estival. Ouvi, acidentalmente, os Tears na emissão radiofónica do HM que carece de actualização virtual. E como os tempos são de Crise os comeback's anunciados pela imprensa musical florescem a cada dia que passa - Flowered Up, The Farm e Happy Mondays já estão nos alinhamentos dos maiores festivais ingleses...um verdadeiro baggy revival!

junto com o tempo que passa

lá fora, há um país que desvanece. Toda uma geração que parte, que abre a porta aos novos, não vou escrever mais sobre estas mortes sucessivas e quase matemáticas, porque a morte não se deixa escrever, muito menos aqui onde tudo tem que ser vida e fenómeno e actualíssimo, os blogues têm pouco espaço para outras mortes que não a de si próprios. Um certo Portugal acabou. Link | Link | Link | Link

o pós-10 de Junho,

na ressaca de um fim-de-semana alucinante, para que aqui conste o registo desta desonestidade, do FdP de serviço e de uma entrevista (que será tudo menos "uma" mera entrevista) com as declarações - inenarráveis - do director do maior semanário português. Amanhã prometo +.

domingo, junho 12

mais um questionário

a Clara envia-me esta obrigação, aqui ficam as respostas possíveis neste momento.

Tamanho total dos arquivos no meu computador?
tenho pouca música no computador e apesar dos enormes elogios que este bom amigo faz ao ipod ainda não aderi ao objecto, mas de qualquer modo e se serve como resposta posso dizer que na última actualização a minha lista contava com 1589 títulos. (já não tenho espaço para guardar discos, nem livros, preciso de uma casa...)

Último disco que comprei:
Gorillaz

Canção que estás a escutar agora?
vou ver... tema 10 do disco 3 da Colecção Let's Jazz do Público, Earl Hines, Fantastic That's You.

5 discos/músicos que ouço frequentemente ou que têm algum significado para mim:
esta não é fácil, muda ao longo dos tempos, mas posso dizer que os que mais me têm acompanhado (pelo menos os que me vêm agora à cabeça) são:
tudo do Miles Davis,
Five Tango Sensations dos Kronos Quartet com Astor Piazzolla,
Purple Rain do Prince,
Stabat Mater do Pergolesi,
e qualquer disco da Christina Pluhar.
(é claro que estes são os que me vêm agora ao ouvido, daqui a pouco seriam outros e depois outros e...)

Não faças aos outros... olha, que se lixe. Vou mesmo desafiar os seguintes bloggers:
já deixei aqui outros desafios semelhantes, aos quais ninguém respondeu, eu não custumo ser teimoso, mas, vou mais uma vez, deixar o desafio aos meus colegas de blogue que, ainda por cima, têm a mania que são DJ's.

3ª Mostra de Curtas Metragens

Dia 12 - últimas exibições

16h00
Programa 6 | Independent Exposure 2 | 57 minutos

18h00
Programa 5 | Lightstruck | 65 minutos | m/16

21h30

Programa 4 | Nocturnes | 77 minutos

Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. Entrada Livre.

sábado, junho 11

ANTÓNIO

...Há quem defenda que a «pena é mais forte do que a espada». Ora, o traço acutilante de António é um verdadeiro sabre a cortar ou a podar rente nas personalidades mediáticas deste Mundo (uns mais do que outros é certo!)... A partir de hoje e em Ponta Delgada, numa iniciativa da Câmara Municipal e do Anima, no Centro Municipal de Cultura está parte de 30 anos de Cartoons numa retrospectiva que merece a visita.



Uma exposição comemorativa dos 30 anos de carreira do famoso cartonista António, intitulada «Cartoon Ponta Delgada», vai ser inaugurada no próximo dia 11 de Junho, no Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada. Conhecido pelo seu talento, António é um nome incontornável da imprensa portuguesa, desde as páginas do vespertino «República», mas sobretudo nas edições do jornal «Expresso».

A sua crítica social, por vezes cáustica, mordaz e impiedosa é mostrada nos seus cartoons, desenhos que, através do traço de António, ganham contornos de crónicas ilustradas, que podem ser muito bem ser consideradas um acompanhar atento aos primeiros 30 anos de democracia em Portugal.

Protagonista de várias exposições individuais no país e no mundo, e ganhador de inúmeros prémios pelo trabalho feito, o desenho crítico de António chega agora aos Açores, para ser visto e comentado, no Centro Municipal de Cultura de Ponta Delgada, numa exposição a inaugurar pelas 18h30, do próximo sábado.


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sexta-feira, junho 10

SARL



N.º 3 | Destaque - Mário Cabral

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...LAGER , LAGER , LAGER...



...procurar e encontrar Cerveja Especial da Melo Abreu tem sido uma tarefa digna de uma saga cinematográfica! Iniciado o percurso em qualquer «hiper» local ou mercearia de canto logo nos apercebemos que a nossa Especial anda desaparecida. Enquanto não se desvenda o mistério resta-nos ir consumindo a ÚNICA lager capaz de superar a qualidade, sabor e deleite da nossa ESPECIAL...

quinta-feira, junho 9

Esquiços para uma ideia de açores VIII

No texto de 13 de Fevereiro de 1928, O Açoriano e os Açores, preparado para uma conferência na Universidade de Coimbra e posteriormente publicado na revista A Águia, Vitorino Nemésio esboça uma caracterização da região e dos seus habitantes que toca todos os aspectos mais factuais (e já descritos nestes esquiços), a situação geográfica, o clima, a sismicidade, o povoamento, a história de dificuldades, o parco desenvolvimento económico, a indolência do povo, o isolamento, etc. Mas a descrição de Nemésio está de tal maneira trespassada por uma nostalgia literária que obriga a uma enorme cautela em quem o lê hoje, com distancia de quase um século. Nesse texto Nemésio glorifica o povo açoriano, baseado em impressões pessoais e, por isso mesmo, suspeitas e parciais. E Nemésio balança constantemente entre uma tentativa de autonomização do carácter açoriano da sua matriz portuguesa mas ao mesmo tempo vincado a inclusão do açoriano no todo português. É neste texto que Nemésio tenta uma definição de três grandes tipos - o Micaelense, o Picoense e o Terceirense - para descrever o açoriano. Mas por todo o texto há uma excessiva glorificação do açoriano que é absolutamente chocante.
O termo açorianidade surge em 1932 num texto da revista Insula publicado a propósito do V centenário do descobrimento dos açores. Nesse curto texto onde, mais uma vez, o determinismo geográfico é figura central da descrição do tipo açoriano, Nemésio tenta uma definição da sua consciência de ilhéu que na sua expressão radica em dois pontos fundamentais, a saber: o apega à terra e a grandeza do mar. Mas a frase essencial deste texto, e estranhamente a menos citada ao longo dos tempo é esta: "...a minha açorianidade subjacente que o desterro afina e exacerba." É portanto, e primordialmente, uma espécie de saudade inerente a quem está longe da sua terra, mas que não pode ser posta como sendo a alma de um povo. A açorianidade em Nemésio é, antes de mais, um rasgo poético. É uma criação quase instintiva do poeta, mas que carece de confirmação histórica, etnográfica, sociológica e, até mesmo, literária. Nemésio apropria-se, como todos os grandes criadores aliás, de um conceito estrangeiro e recria-o no contexto do arquipélago. Herdeiro de Unamuno que Nemésio conheceu e com quem se correspondeu durante a vida deste, o conceito de açorianidade é uma tentativa do poeta de expressar uma vontade pessoal, diria mesmo uma ambição literária, mas que não pode nunca ser entendida como uma verdade absoluta. Vou mais longe, existe muito mais verdade numa inclusão, por mais paradoxal que pareça, do povo dos açores no universo da hispanidade do que no da própria açorianidade. Lendo os textos de Nemésio sobre os Açores e a açorianidade fica-me uma sensação de profundo exagero nas palavras e visões por ele expressas. (A certa altura Nemésio faz uma comparação entre as Furnas e Yelowstone!) Muitas das análises são pessoais, por vezes infundamentadas, sempre poéticas, muitas vezes hiperbólicas. A açorianidade de Nemésio é um conceito profundamente marcado pelas correntes filosóficas e politicas do seu tempo, uma era de nacionalismos exacerbados, e com a mesma profundidade pela alma e espírito poético do próprio Vitorino Nemésio, se há ou não uma correspondência desse conceito na realidade dos povo das ilhas é uma questão que ainda carece de ser resolvida, mas eu sou levado a crer que não. E é o próprio Nemésio quem em todos os seus textos se contradiz pois recorrentemente refere o carácter português do açoriano.

Mas então porque é que este conceito repercute pelo abismo da história e é ainda hoje tão presente e polémico? Porque como todas as grandes invenções poéticas têm uma potência metafórica impressionante, quase como se Nemésio tivesse criado todo um povo que se esforça para ser como foi criado pelo poeta. No fundo os Açores e os açorianos lutam por realizar a visão de Nemésio. Essa luta está presente na literatura e na política. Lugares para onde quero ir a seguir.

...EU HOJE DEITEI-ME ASSIM !

...

«Man, I see in fight club the strongest and smartest men who've ever lived. I see all this potential, and I see squandering. God damn it, an entire generation pumping gas, waiting tables; slaves with white collars. Advertising has us chasing cars and clothes, working jobs we hate so we can buy shit we don't need. We're the middle children of history, man. No purpose or place. We have no Great War. No Great Depression. Our Great War's a spiritual war... our Great Depression is our lives. We've all been raised on television to believe that one day we'd all be millionaires, and movie gods, and rock stars. But we won't. And we're slowly learning that fact. And we're very, very pissed off...

...

BUT You're not your job. You're not how much money you have in the bank. You're not the car you drive. You're not the contents of your wallet. You're not your fucking khakis. You're the all-singing, all-dancing crap of the world.»

...see you around

TYLER DURDEN

terça-feira, junho 7

PLANETA AÇORES

«Ao abrir os olhos, vi o Aleph.
- O Aleph? - Perguntei.
- Sim, o lugar onde estão, sem se confundir, todos os lugares do mundo, vistos de todos os ângulos.»

Jorge Luís Borges, In o Aleph.



Condensar esse inconcebível universo num objecto é entrar no domínio do fantástico; mas agregar num blog o diâmetro da blogoesfera com epicentro nos Açores não deixa, também, de ser uma ideia fantástica. Este Planeta Açores é obra notável de Milton Gago da Câmara Moura a quem se deseja que nunca esmoreça o entusiasmo dos blogs, e ainda, que vá adicionando não só posts mas também novas entradas na lista dos links disponíveis.

6 de JUNHO 1975/2005



Quando vejo estas fotos (as da manifestação de 6 de Junho de 1975), as pessoas, os cartazes, os dedos indicadores esticados ao ar, não me passa pela cabeça outra coisa senão a enorme quantidade de «fascistas» e «grandes capitalistas» presentes, «treinando» para o 25 de Novembro que seis meses depois viria a acontecer em Portugal.

Como senão fosse da independência dos Açores do que se travava. Sinceramente!

Após vários anos de oportuno ostracismo, do tipo: «usar e deitar fora», foi já na era dC (C de César) que o 6 DE JUNHO teve «honras» de data institucional. A memória colectiva estava então tão eficazmente anestesiada, muito embora, quando a jeito, sempre alguém a espevitasse, que no debate que a RTP/A promoveu sobre o assunto a 6 Junho de 97, entre a «velha tese» de uma primária luta anti-comunista, ou outra já então a ganhar corpo, o ensaio geral para o 25 Novembro, foram do saudoso Albano Pimentel (em 6/6/75 do outro lado da barricada) os mais lúcidos e coerentes depoimentos!

Hoje, para dar sentido ao 6 de Junho, há que erguer a cabeça e olhar em frente. Não ter de pedir licença para ensinar ao Povo a que pertencemos a nossa própria História, nela incluindo todos os 6 de Junho que precederam o de 1975, entre outros, o de 1 Março de 1821, ou o de 2 de Março de 1895; Revoltarmo-nos contra a subjugação das leis que nos conotam com o fascismo por defendermos a nossa independência; Indignarmo-nos por nos impedirem de organizar em partidos aqui originários, único modo democrático de lutar, sem subtilezas, pelos nossos próprios interesses!

Como tributo ao 30º aniversário do 6 de Junho, aqui fica um trecho de uma polémica conferência de imprensa (Lisboa, Nov. /1986) do Dr. José de Almeida: «A independência não passa, assim, de conclusão lógica e natural desse processo histórico que tem vindo a desenvolver-se e a tomar corpo através dos séculos.»

Under Permisson of João Pacheco Melo/In Açoriano Oriental/Crónicas do Aquém

CdG

Momento mais importante do programa de hoje. 2ª parte. Substituição desastrosa. Retirar a Susana e colocar o Pedro a libero - é coisa que não se faz! Tinha tudo para triunfar. Andou às voltas e não fez golo...

«AINDA SOMOS UM POVO QUE QUER SER RESPEITADO»



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«Um, dois, três, fascistas pró xadrez» era o slogan jacobino da contra-manifestação que palmilhou as ruas de Ponta Delgada, no remoto dia de 17 de Junho de 1975, a favor da expurga dos supostos cérebros do 6 de Junho de 1975. Essa turba revolucionária, que marchava sob a batuta proletária dos «ideais de Abril», seguia animada pelo ímpeto de varrer do roteiro do PREC os «reaccionários» cuja amostra mais simbólica estava encarcerada na Terceira depois do «raid» nocturno de 9 de Junho de 1975. Hoje os ecos dessas vozes não estão nas ruas mas são ainda perscrutáveis noutros palanques do poder.

Volvidos 30 anos sobre o «verão quente», apesar da distância que o tempo concede, o erro revolucionário da prisão sem justa causa de 32 Açorianos, operada por militares na calada da noite de 9 de Junho de 1975, e executada por esbirros colaboracionistas com o Gonçalvismo, à laia de retaliação contra a manifestação de 6 de Junho de 1975, permanece até hoje como uma nódoa na bandeira da nossa Autonomia. A mesma bandeira que hoje nos une sob um protector Açor, e que, em 1979, mereceu a reserva do Partido Socialista no Plenário da Assembleia Legislativa Regional por fazer lembrar o Milhafre da bandeira da FLA! Hoje, todos o sabemos, a realidade é outra - é a vida, ou como diriam os clássicos: sic transit gloria mundi.

Seja como for a história da Autonomia dos Açores não poderá ser escrita deixando em branco as páginas do 6 de Junho de 1975 e das suas consequências. Antecede o 6 de Junho de 1975 a «questão do leite», que alimentou o desagrado da lavoura Micaelense, e foi o pretexto para a sublevação mas, o contexto era mais vasto e tinha no seu horizonte travar os desmandos sovietizantes que à data colocavam Portugal à beira de um precipício comunista, instigado pelo COPCON e pela restante tropa que se revia constantemente em ícones revolucionários, cujo paradigma oscilava entre Fidel Castro e Nicolae Ceausescu. Não admira pois que a execução das prisões dos supostos organizadores da revolta de 6 de Junho de 1975 tenha sido marcialmente encenada, permanecendo até hoje o mistério de saber se resultaram do livre arbítrio do General Altino Magalhães ou se este, enquanto Comandante Militar dos Açores, cumpriu ordens de Lisboa. Esta poeira do acessório não deve contudo desviar-nos da principal conclusão histórica de que o 6 de Junho de 1975 marcou o início da queda do Gonçalvismo, pelo que, a primeira derrota do projecto comunista para Portugal teve lugar em Ponta Delgada e não na Fonte Luminosa em Lisboa. Efectivamente, o 6 Junho de 1975 está, nos seus efeitos, para os Açores e para a Autonomia, como o 25 de Abril de 1974 está para Portugal e para a Democracia.

Na verdade, após as eleições de 25 de Abril de 1975, o PCP com a cumplicidade do MFA, preparava-se para usurpar o poder, argumentando, com a cassete do costume, que o resultado eleitoral era a materialização da «reacção contra-revolucionária»... isto apesar de 91 % dos Portugueses terem acorrido às urnas. Recusava também essa realidade o camarada Otelo Saraiva de Carvalho que, desde Julho de 1974, era o Comandante do COPCON e que ostensivamente ambicionava a cubanização de Portugal. Ora, este pesadelo sofreu o seu primeiro revés nos Açores com a revolta do 6 de Junho de 1975 que ficou assim geneticamente imbricada na futura consagração Constitucional da Autonomia. Esta veio a ocorrer menos de um ano depois do alevante Independentista, quando a Assembleia Constituinte, em 2 de Abril de 1976, aprovou e decretou a Constituição da República Portuguesa.

Apesar da bonomia fraterna do texto Constitucional, é crível que a Autonomia, além de se fundar nas ditas ancestrais aspirações das populações insulares, foi para o centralismo, e, seus sequazes continentais ou insulares, o contrafeito e forçado golpe de misericórdia nas aspirações de Independência vigentes nas vésperas da Constituinte. Assim se compreende e faz sentido que, decorrido menos de um ano sobre o 6 de Junho de 75, o poder Constituinte tenha reconhecido a Autonomia como uma medida política, de natureza integracionista, que inquinaria irremediavelmente qualquer intentona pró-Independência.

Embora omissos nas páginas da história oficial do poder há Açorianos, designadamente os do 6 de Junho de 1975, que mereciam, ainda que a título póstumo, ver o seu nome em letra de forma ao lado de outros como Aristides Moreira da Mota, Mont'Alverne de Sequeira e Caetano de Andrade de Albuquerque. Sob a legenda dessa gesta de homens, que fizeram dos Açores a sua pátria, poderia com justiça ler-se apenas um outro slogan (em contraponto à marcha de má memória do «um,dois,três, fascistas pró xadrez»), que em 6 de Junho de 1975 pulsava num dos cartazes da manifestação: «Somos um povo que quer ser respeitado».

João Nuno Almeida e Sousa; Edição de Hoje do Jornal dos Açores.

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(post-scriptum: ainda sobre o 6 de Junho de 1975 e embora divergente da perspectiva que aqui deixo recomenda-se a leitura do post do João Pacheco Melo, no lugar do costume; em termos Jornalísticos a melhor cobertura do 6 de Junho de 75, e dos seus actores, poderá ser encontrada no notável trabalho de Nuno Costa Santos para a revista Grande Reportagem... do qual facultarei cópia aos interessados (se aindo os houver!); finalmente, mas não menos relevante, seria tempo de coligir todas as brilhantes (à falta de melhor predicado!) entrevistas ao elenco de personagens que estiveram dos dois lados do 6 de Junho de 1975, e que o Nuno Costa Santos executou para o Açoriano Oriental)... prometo voltar a postar sobre o 6 de Junho de 1975 na data do seu cinquentenário!!!
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Ruído!?...

Democracia!? A opinião pessoal não "tem validade"!? "Saber vestir o casaco de Ministro?!? Parece-me que ninguém está muito interessado em discutir este assunto (a Constituição Europeia)...e ainda falam de credibilização da política e dos políticos em Portugal!? HIPOCRISIA (servida à boa maneira lusitana com todos)!...

6 de Junho

Ontem, 1º dia da 3ª Mostra de Curtas, não me cruzei com nenhum autonomista ao fervor separatista...e por esse facto só tenho a dizer - ainda bem!...

segunda-feira, junho 6

3ª Mostra de Teatro de Ponta Delgada


Bilhetes à venda nas bilheteiras do Coliseu Micaelense das 13h00 às 20h00.

Planeta Açores

Post telegrafico, feito num hall de hotel numa porcaria de um posto de internet que trabalha a velocidades perfeitamente pré-históricas, apenas para vos chamar à atenção este excelente trabalho do Milton Moura que dá pelo nome de Planeta Açores.

domingo, junho 5

RELVÃO: MEMÓRIA E ESQUECIMENTO

O topónimo "Relvão" surge com alguma frequência nos Açores e designa, por regra, uma zona chã sem coberto lenhoso e atapetada de erva. As características orográficas deste tipo de terreno transformaram-no muitas vezes em campo de treino militar, como foi o caso do Relvão de Angra do Heroísmo, situado entre o perímetro fortificado do Monte Brasil e o calhau da Silveira, ou ainda o Relvão de Ponta Delgada, contíguo ao Cemitério de St. George e implantado a noroeste do Alto da Mãe de Deus, na coroa periurbana da cidade oitocentista.

Em qualquer um dos "Relvões" o Exército Liberal reunido por D. Pedro IV levou a cabo exercícios militares quando aqui esteve estacionado em 1832, mas foi no de Ponta Delgada que a memória desses acontecimentos ficou gravada no espaço, quanto mais não seja porque o topónimo "Relvão" (talvez por arrastamento ou analogia com o de Angra) se sobrepôs à primitiva designação - "Campo dos Dízimos" - pela qual era conhecido esse arrabalde da cidade micaelense até à primeira metade do século XIX.

Apetecia-me entrar em floreados retóricos sobre as botas cardadas que pisaram aquele chão e o nome dos homens que as calçavam - Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Luz Soriano, Mouzinho da Silveira e tantos outros - mas a forma mais eloquente de despertar a atenção dos leitores para o significado do local é evocar os milhares de recrutas açorianos, alguns deles de pé descalço, que dali marcharam a 23 de Junho de 1832 para o célebre desembarque na praia do Mindelo que, como é sabido, antecedeu a tomada do Porto e a subsequente implantação definitiva do Liberalismo em Portugal.

Ironia da História, o nome pelo qual ficaram conhecidos estes homens -"Os Bravos do Mindelo"- sublinha apenas a importância da praia de desembarque e não o porto de partida. A nossa memória colectiva reteve igualmente quantos foram esses bravos - 7500, números redondos - mas quase ninguém faz a mais pálida ideia de que parte significativa da tropa rasa, aquela que habitualmente apanha com a primeira salva de tiros, eram homens destas ilhas. Passe o anacronismo, dir-se-ia que o contributo açoriano para o "25 de Abril" do século XIX é um detalhe aparentemente despiciendo da nossa História Contemporânea, o que aliás não admira se tivermos em consideração a forma madrasta como os portugueses quase sempre desvalorizaram a sua própria Revolução Liberal. Triste mania esta, que nos consome desde os tempos de Antero de Quental: falar mal dos pais fundadores do Liberalismo, apesar de terem sido eles que nos deram a liberdade de falar.

Vou adiantar uma prova singela: quase todos conhecemos a "pérfida" figura do Duque de Ávila, porque este proibiu as Conferências do Casino em 1871, mas alguém sabe que esse mesmo António José de Ávila foi quem arregimentou em 1832, enquanto Presidente da Câmara da Horta, os contingentes faialenses que iriam integrar o exército de D. Pedro IV? Ou alguém cura de saber que o morgado Fernando Quental, pai de Antero, foi um dos Bravos do Mindelo?

Bem, o que é facto é que a moda dos Liberais mal amados pegou de estaca e propagou-se como fogo em pradaria seca ao longo de todo o século XX português. Os "Teófilos" da 1ª República viram no Liberalismo um sinónimo odioso do Constitucionalismo Monárquico. O Prof. Salazar e os integralistas da 2ª República associavam-no à ideia, para eles muito pouco simpática, de liberdade libertina. E o nosso actual regime político, o da 3ª República, parece rever-se em conjunto na biografia política do Dr. Soares, para quem a mãe de todas as coisas é o laicismo republicano da Revolução de 1910.

Por todo este conjunto de razões, o desprezo a que se encontra votado o Relvão até acaba por ser natural. Mas há um pormenor que torna o silêncio do esquecimento ainda mais ensurdecedor: D. Pedro IV, em pleno cerco do Porto, escreveu à Câmara de Ponta Delgada uma recomendação: a de que fosse projectada nesse campo uma Alameda ou Passeio Público que perpetuasse a memória dos que de lá partiram. Desde os idos de 1833, quando a carta foi escrita, que essa recomendação caiu em saco roto e tanto assim foi que Aristides Moreira da Mota, nas vésperas da Visita Régia de D. Carlos e D. Amélia aos Açores em 1901, confidenciava ao seu amigo Luís de Magalhães a seguinte proposta:

"(...) Para o Rei, pensa no que te vou dizer. Como sabes foi nesta ilha que se organizou definitivamente a expedição dos 7.500 bravos e justamente formaram eles, antes de embarcarem para o Mindelo, nos terrenos onde se vai realizar a Exposição. Sabes também que são datados desta cidade os célebres Decretos de Mouzinho, que operaram na legislação a revolução liberal. Pois bem, não há aqui um único monumento que recorde aqueles factos sobre os quais se tem desenvolvido toda a história moderna do nosso país. Não é esse monumento devido?(...) Já fiz lançar esta ideia aqui no público, pela imprensa e pela nossa propaganda local. Tem tido uma excelente aceitação. Neste sentido escrevo ao Paçô e ao Mota Prego. Colabora com eles no que te for possível. É negócio em que todos os partidos devem pôr-se de acordo. O Rei, portanto, lançaria aqui a pedra central do monumento(...)".

Ora, não obstante este propósito do grande atleta da Autonomia, o monumento nunca viria a ser erguido, como qualquer cidadão poderá verificar ao passar pela Rua da Mãe de Deus e, já quase a fechar o século XX, no ano de 1998, a Câmara de Ponta Delgada, em conjunto com a Reitoria da Universidade dos Açores, procurou promover a reabilitação do Relvão mas, por razões que desconheço, o projecto nunca chegou a sair da gaveta. Ou muito me engano, ou a razão deste impasse prende-se de alguma forma com o campo de jogos Marquês Jácome Correia. A única boa notícia é que tudo ainda permanece em aberto, pelo que seria desejável reinterpretar as preocupações urbanísticas e comemorativas de D. Pedro IV à luz do que é hoje Ponta Delgada, transformando a reabilitação do Relvão num plano de pormenor que envolvesse também o Observatório Afonso Chaves, o Cemitério dos Ingleses e o Alto da Mãe de Deus, criando-se assim um circuito urbano e museológico de cariz predominantemente oitocentista que tarda em aparecer nesta cidade.

Património não nos falta, faltam-lhe é as legendas. E também falta, por vezes, um bocadinho mais de respeito por aquilo que já fomos. Se porventura esse respeito sair muito caro, sugiro de imediato uma alternativa barata: ao lado da placa que, à entrada do Relvão, assinala estarmos defronte da "Alameda do Duque de Bragança", poderia colocar-se uma outra com o seguinte dizer de Jorge Luís Borges nela gravado:

"A memória e o esquecimento são igualmente significativos".

3ª Mostra de Curtas Metragens

Começa amanhã, às 21h30, a 3ª Mostra de Curtas Metragens.
O programa desta 3ª edição é composto por uma selecção de filmes de curta metragem provenientes de agências e associações de cinema independente que privilegiam a exibição em circuitos alternativos e nos maiores festivais internacionais do género.
Serão exibidos programas do EMAF - European Media Art Festival - Alemanha, Antimater - Underground Film Festival - Canadá, Independent Exposure - Microcinema International - Estados Unidos e uma colecção de trabalhos audiovisuais de alunos da Universidade Lusófona.

Todas as sessões são de entrada livre.
Programa completo e sinopses em http://www.muu.pt/eventos.php

CCCaloura

Inaugurou ontem, com muitos amigos e convidados, o projecto de vida de Tomaz Borba Viera - o Centro Cultural da Caloura. O artista partilha num espaço idealizado para o efeito a sua colecção de arte, na qual encontramos obras de: Álvaro França, Luís França, França Machado, José Nuno da Câmara Pereira, Paula Rego, Sofia Areal, Filipe Franco, Nina Medeiros, Victor Almeida, Catarina Castelo Branco, Carlos Mota, Carlos Carreiro, Ricardo Lalanda, Eduardo Nery, entre muitos outros. O espaço envolvente é paradisíaco, numa das zonas de veraneio da ilha, entre a Lagoa e Vila Franca do Campo. Um novo espaço periférico, também ele à ilha, mas importante na descentralização da cultura e como alternativa ou um refúgio para os demais artistas e curiosos. O CentroCculturalCalora poderá ser visitado, nos dias úteis, entre as 10h30 e as 17h30.

sábado, junho 4

Esquiços para uma ideia de açores VII

A 19 de Dezembro de 1901 nasceu Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva, na ilha Terceira, mais precisamente na Praia da Vitória. Nemésio faz os estudos de liceu entre Angra e Horta até 1919 data em que embarca para Lisboa a fim de cumprir o serviço militar. Em 1931 licencia-se pela Faculdade de Letras de Lisboa em Filologia Românica, após passar pelos cursos de Direito em Coimbra e Ciências Histórico-Geográficas em Lisboa. A primeira edição de Mau Tempo no Canal data de 1944. Professor, comunicador, homem de letras e maçom Nemésio é uma das grandes personalidades intelectuais da cultura de língua portuguesa e a sua influência como ensaísta, poeta e romancista coloca-o, muito justamente, como uma das figuras cimeiras do século XX português.

Para compreender Nemésio é necessário inseri-lo no seu tempo, esse extraordinário século XX que então se iniciava e em cujas tendências políticas e intelectuais Nemésio vai mergulhar. No ano do nascimento de Nemésio morre a rainha Victória, em Portugal é criado o Partido Regenerador-Liberal de João Franco e Eça de Queiroz publica A Cidade e as Serras. Em 1905 Albert Einstein apresenta a sua teoria da relatividade. A República é implantada em Portugal em 1910, após o regicídio em que a Maçonaria e a Carbonaria têm um papel fulcral. Em 1913 Marcel Duchamp exibe o quadro Nu Descendo as Escadas. Em 1914 inicia-se a I Guerra Mundial após o assassinato a 28 de Junho do Arquiduque Franz Ferdinand por um nacionalista sérvio. Em 1917 dá-se a Revolução Russa. A 28 de Junho de 1919, em Versalhes, precisamente no mesmo local onde em 1783 havia sido assinado o tratado que pôs fim à Revolução Americana, são assinados os tratados que põem fim à I Guerra Mundial. Em 1922 Gago Coutinho e Sacadura Cabral fazem a sua travessia aérea do oceano Atlântico e Benito Mussolini marcha sobre Roma e funda o seu governo fascista. Em 1923 William Butler Yeats ganha o prémio Nobel da literatura. A 28 de Maio de 1926 dá-se a Revolta Militar em Portugal que marca o início da Ditadura Militar, nesse ano Ernest Hemingway publica The Sun Also Rises. A 27 de Abril de 1928 toma posse como Ministro das Finanças o professor da Universidade de Coimbra António de Oliveira Salazar. Em 1932 o partido Nazi vence as eleições na Alemanha, Adolf Hitler é nomeado chanceler a 30 de Janeiro de 1933. Em 1934 Mao Zedong, também conhecido por Mao Tse-tung, lidera a Longa Marcha, 9.656 km, do exército vermelho entre as províncias de Jiangxi e Shaanxi. Às 20 horas e 30 minutos do dia 30 de Novembro de 1935 morre Fernando Pessoa. Em Junho de 1936 inicia-se a Guerra Civil de Espanha que opõe a Frente Popular e o Exercito Nacionalista do Generalíssimo Francisco Franco. A 3 de Setembro de 1939 rebenta a II Guerra Mundial. Em 23 de Junho de 1940 Salazar inaugura a Exposição do Mundo Português. Em 1941 Orson Welles escreve, produz, realiza e representa o papel principal em Citizen Kane. A 18 de Agosto de 1943 é assinado um acordo secreto com as forças aliadas para a utilização do aeroporto das Lajes. A 6 de Junho de 1944 os aliados desembarcam na Normandia. A 30 de Abril de 1945 Hitler suicida-se, nesse ano é construído o primeiro computador e os USA lançam duas bombas atómicas em Hiroshima e Nagasaki. Em 1946 Juan Péron é eleito pela primeira vez Presidente da Argentina, em Portugal dá-se a tentativa de revolta Militar que fica conhecida como Revolução da Mealhada e Natália Correia publica o romance Anoiteceu no Bairro. Em Junho de 1947 é apresentado o Plano Marshal. A 30 de Janeiro de 1948 Ghandi é assassinado por um fanático Hindu, nesse ano é publicado o relatório de Alfred Kinsey Sexual Behavior in the American Male e a peça A Streetcar Named Desire de Tennessee Williams ganha o prémio Pulitzer. Em 1949 realizam-se eleições presidenciais, o general Norton de Matos apresenta-se como candidato, Carmona, o candidato do regime, vence as eleições. Em 1950 as forças comunistas da Coreia do Norte invadem a Coreia do Sul, o presidente dos Estados Unidos da América, Henry Truman, ordena a construção da bomba de hidrogénio e Bertrand Russel ganha o prémio Nobel da literatura.

A história destes 50 anos é a matéria onde se vai imprimir Nemésio e é daqui que vai brotar a açorianidade.

Para carregar a pilha neste fds.

Everything Ecstatic - Four Tet
Take London - The Herbaliser

A Certain Trigger - Maximo Park
Army of Me: Remixes and Covers - Björk

sexta-feira, junho 3

JUNHO VAI SER DURO

Mas vamos agarra-lo pelos ditos.

MAX ROACH AND THE PIANO MAN

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1. No Jazz pressentimos a visceral e atávica origem da música no balanço e nas secções rítmicas. Daí que não cause espanto afirmar-se que as revoluções no Jazz são, no seu cerne, revoluções na secção rítmica. Podemos assim afirmar que Max Roach é um revolucionário e um visionário. Acresce que se percorrermos o elenco dos «monstros» do Jazz tropeçamos inevitavelmente no nome de Max Roach que tocou com mestres como Charlie Parker, Duke Ellington, Dizzy Gillespie ou até mesmo Miles Davies com quem gravou, em 1948, o seminal Birth of the Cool. A partir daqui, e durante a maior parte da década de 50, o Jazz seria uma revolta contra a música excessivamente arranjada e estereotipada nos padrões das Big Bands de Swing. Curiosamente esta revolução do bebop tornou-se popular. Max Roach é um dos pais fundadores deste estilo que abandonou as convenções estruturais de tempo e, mais tarde, abriu as portas ao free jazz. Em suma, ao nome de Max Roach ficará para sempre colado o rótulo de «avant garde».

Todavia, entre o bebop e o free Jazz, estilos próprios a um consumo moderado e não diário, Max Roach gravou «Jazz in ¾ Time», um disco da Editora Mercury-EmArcy que é uma pérola do Jazz. São três standards ( I´ll Take Romance ; Lover ; The Most Beautiful Girl in the World ) e três originais ( Blue Waltz, Valse Hot; Little Folks ) embrulhados e servidos em ritmo de valsa ! Uma raridade que nos agarra logo na primeira faixa e da qual nos tornamos viciados para o resto da vida. Descobri esta jóia no acervo de Jazz da Disrego em Ponta Delgada que, a partir desta semana, muda-se para o Parque Atlântico no espaço da CD Music Store. Procurem pelo afável Carlos Pacheco que por certo será um excelente guia para a descoberta de algumas raridades, ou novidades, no admirável mundo, sempre novo, do Jazz.

Max Roach ; «Jazz in ¾ Time» ; Editora Mercury-Emarcy ; 10.60 Euros na Disrego


2. Max Roach sempre foi um músico destemido o que justifica, por exemplo, que em dada altura da sua carreira, e ante a dificuldade de encontrar um eleito para a cadeira de pianista no que seria o quinteto «Max Roach Plus 4», tivesse optado por prescindir da linha melódica do piano ficando-se por um quarteto sem pianista que, ainda assim, gravou um memorável «Max Roach plays Charlie Parker.». Quem por certo não dispensa o dito instrumento é o misterioso Piano Man. A história tem corrido os teclados da internet e resume-se a um enigmático jovem incapaz de falar ou escrever, mas que se revelou um virtuoso do piano, e apesar de estar mudo desde que deu à costa deste mundo tem composto algumas obras...até à data sem autoria que lhes dê a decência da paternidade !

O enigma remonta a um dia de Abril em que numa praia em Sheerness, Kent, e após uma tempestade, a polícia local deu com um náufrago encharcado até aos ossos e a vaguear sem rumo. O homem vestia um elegante fato preto e camisa de linho branco o que, apesar de todas as etiquetas da roupa indiciarem terem sido arrancadas, conferia-lhe um distinto look com estilo adensando assim o mistério. Incapaz de falar foi-lhe facultado papel e lápis e numa folha lisa desenhou um impecável e intrincado sketch de um grand piano.



Conduzido à Capela do Hospital onde foi internado consta que mergulhou no modesto piano da mesma tocando com extâse ao longo de várias horas ! Desde então tem continuado esta bizarra carreira e também tem composto alguma música. Enquanto pela net viajam pedidos de ajuda pelo Mundo inteiro afim de se identificar o homem, e várias orquestras Europeias negam saber de quem se trata, será que nesta história original jamais saberemos de quem se trata ! Porém, se algum dia depararmo-nos com um CD do Piano Man já conhecemos o argumento de uma matéria prima ideal para um biopic de Hollywood....Afinal os mistérios da vida por vezes superam a arte do grande ecrã!

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JNAS na Edição de Hoje do SARL do Jornal dos Açores

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...espero que o próximo post seja do regressado Carlos Riley...