sexta-feira, junho 3

MAX ROACH AND THE PIANO MAN

...



1. No Jazz pressentimos a visceral e atávica origem da música no balanço e nas secções rítmicas. Daí que não cause espanto afirmar-se que as revoluções no Jazz são, no seu cerne, revoluções na secção rítmica. Podemos assim afirmar que Max Roach é um revolucionário e um visionário. Acresce que se percorrermos o elenco dos «monstros» do Jazz tropeçamos inevitavelmente no nome de Max Roach que tocou com mestres como Charlie Parker, Duke Ellington, Dizzy Gillespie ou até mesmo Miles Davies com quem gravou, em 1948, o seminal Birth of the Cool. A partir daqui, e durante a maior parte da década de 50, o Jazz seria uma revolta contra a música excessivamente arranjada e estereotipada nos padrões das Big Bands de Swing. Curiosamente esta revolução do bebop tornou-se popular. Max Roach é um dos pais fundadores deste estilo que abandonou as convenções estruturais de tempo e, mais tarde, abriu as portas ao free jazz. Em suma, ao nome de Max Roach ficará para sempre colado o rótulo de «avant garde».

Todavia, entre o bebop e o free Jazz, estilos próprios a um consumo moderado e não diário, Max Roach gravou «Jazz in ¾ Time», um disco da Editora Mercury-EmArcy que é uma pérola do Jazz. São três standards ( I´ll Take Romance ; Lover ; The Most Beautiful Girl in the World ) e três originais ( Blue Waltz, Valse Hot; Little Folks ) embrulhados e servidos em ritmo de valsa ! Uma raridade que nos agarra logo na primeira faixa e da qual nos tornamos viciados para o resto da vida. Descobri esta jóia no acervo de Jazz da Disrego em Ponta Delgada que, a partir desta semana, muda-se para o Parque Atlântico no espaço da CD Music Store. Procurem pelo afável Carlos Pacheco que por certo será um excelente guia para a descoberta de algumas raridades, ou novidades, no admirável mundo, sempre novo, do Jazz.

Max Roach ; «Jazz in ¾ Time» ; Editora Mercury-Emarcy ; 10.60 Euros na Disrego


2. Max Roach sempre foi um músico destemido o que justifica, por exemplo, que em dada altura da sua carreira, e ante a dificuldade de encontrar um eleito para a cadeira de pianista no que seria o quinteto «Max Roach Plus 4», tivesse optado por prescindir da linha melódica do piano ficando-se por um quarteto sem pianista que, ainda assim, gravou um memorável «Max Roach plays Charlie Parker.». Quem por certo não dispensa o dito instrumento é o misterioso Piano Man. A história tem corrido os teclados da internet e resume-se a um enigmático jovem incapaz de falar ou escrever, mas que se revelou um virtuoso do piano, e apesar de estar mudo desde que deu à costa deste mundo tem composto algumas obras...até à data sem autoria que lhes dê a decência da paternidade !

O enigma remonta a um dia de Abril em que numa praia em Sheerness, Kent, e após uma tempestade, a polícia local deu com um náufrago encharcado até aos ossos e a vaguear sem rumo. O homem vestia um elegante fato preto e camisa de linho branco o que, apesar de todas as etiquetas da roupa indiciarem terem sido arrancadas, conferia-lhe um distinto look com estilo adensando assim o mistério. Incapaz de falar foi-lhe facultado papel e lápis e numa folha lisa desenhou um impecável e intrincado sketch de um grand piano.



Conduzido à Capela do Hospital onde foi internado consta que mergulhou no modesto piano da mesma tocando com extâse ao longo de várias horas ! Desde então tem continuado esta bizarra carreira e também tem composto alguma música. Enquanto pela net viajam pedidos de ajuda pelo Mundo inteiro afim de se identificar o homem, e várias orquestras Europeias negam saber de quem se trata, será que nesta história original jamais saberemos de quem se trata ! Porém, se algum dia depararmo-nos com um CD do Piano Man já conhecemos o argumento de uma matéria prima ideal para um biopic de Hollywood....Afinal os mistérios da vida por vezes superam a arte do grande ecrã!

...

JNAS na Edição de Hoje do SARL do Jornal dos Açores

...

...espero que o próximo post seja do regressado Carlos Riley...

Sem comentários: