domingo, agosto 31

Weekend Postcards

Durante o fim-de-semana decorreu o Voo Fest/RTP 2008, organizado pelo Clube Asas de São Miguel, naquele que é um bom exemplo das iniciativas desportivas que devem ser, estas sim, motivo do incremento da promoção turística das ilhas. Foto do Francisco.

Noutro extremo radical_

Mega Concentração de Motard de Ponta Delgada reune bikers nos Mosteiros (...), que mais do que promover a paixão comum pelas motas, a troca de experiências e a amizade, através de vários eventos de animação e reunião previstos no programa, terá uma forte componente pedagógica.
Gosto particularmente do alinhamento do programa "pedagógico": «(...) jogos tradicionais, às 15h00, e depois do jantar, há música com a Banda Larga, striptease, Morbideath e DJ».

Cenas de um Verão Micaelense...

sábado, agosto 30

GUSTAV




Com o final do mês de Agosto, cai o pano sobre a silly season. Vem aí o lado B das melodias de Verão, a hurricane season, que aliás já começou há algum tempo atrás, como comprova o nome do furacão que se segue, Gustav de sua graça. Ainda estamos longe do fim do alfabeto, mas o Gustav, que neste momento atravessa as províncias ocidentais de Cuba (onde são produzidos os Puros), prepara-se para assinalar da pior maneira o terceiro aniversário do Katrina de má memória e, infelizmente, poderá tornar a chicotear New Orleans. Os meteorologistas calculam que o landfall possa ocorrer na próxima segunda feira, dia em que se inicia a Convenção do Grand Old Party no Minnesota. O afamado cineasta Michael Moore, num comentário de muito mau gosto a respeito desta potencial ocorrência, afirmou o seguinte : "Proof there is a God in Heaven". É deplorável que se politizem as calamidades naturais. Sugiro ao Michael Moore que no próximo domingo vá fazer sky diving no olho do furacão.

:agenda



Para que não passe imaculado convém referir que Rodrigo Leão toca hoje, sábado, no anfiteatro das Portas do Mar (site incompreensivelmente desactualizado).

sexta-feira, agosto 29

Cherchez la Femme (encore)



Estimado João Nuno,


Voilá o que de mais parecido com a Kate Bush encontrei na densa floresta da world wide web. Encantadora orelha, não é verdade? Desculparás o close-up literal da fotografia, o excessivo detalhe da dentição em detrimento do decote, mas a senhora exerce funções governativas na res publica e foi impossível encontrar dela imagens, como soe dizer-se, “graficamente explícitas”. Ah, mesmo assim, mesmo do tamanho de uma estampilha fiscal, que mar de promessas voluptuosas não se esconde no olhar desta femme à trente ans! Calculo que estejas curioso acerca da sua identidade – mais a mais tratando-se de uma mulher de Estado – mas, por ora, detenhamo-nos apenas na contemplação analítica deste estimulante perfil. O cabelo apanhado num tótó encantador, aquela inquietante armação dos óculos sugerindo intelecto acima da média, um certo ar Penélope Cruz, mas mais robusto – e ainda bem. Tudo, portanto, aponta no sentido de estarmos perante uma ministra de Zapatero, ou, como tu próprio dirias, uma Pasionaria pink pós-moderna.
Mas, meu caro João Nuno, é certo que as mulheres não param de nos surpreender e esta senhora, não obstante a sua allure europeia, tem passaporte americano e relações de grande proximidade com os mísseis russos. Sarah Palin, de seu nome, é a Governadora do Alaska e empresta redobrado sentido à série televisiva “Amor no Alaska”. A série é uma treta, claro, embora cenicamente refrescante nos dias quentes que se avizinham e, por falar nisso, confesso-te que não desdenharia passar um longo Inverno no Alaska a comer peixe, desde que a Sarah me fizesse companhia na log cabin. Enfim, deixemo-nos de devaneios boreais e falemos de coisas sérias. A senhora Governadora tem outros predicados que, para ti, não deixarão de ser sexys: é Republicana! Mais ainda, João Nuno, não faltam pundits americanos a apostar nela para Vice President do teu dilecto John McCain. Vamos lá a ver se o Mac é um cavalheiro de bom gosto.


Post Scriptum – Sarah Louise Heath Palin nasceu em Sandpoint, Idaho, a 11 de Fevereiro de 1964. Não é, em rigor, uma femme à trente ans, mas com os avanços da esperança média de vida a idade das balzaquianas merece alguma margem de tolerância.

Pósfácio - Creio que a actualidade deste post, publicado a 5 de Junho de 2008, justifica hoje a sua reedição, acompanhado da seguinte pergunta: is she ready to be commander in chief?

O Futuro Começa Hoje!



É difícil acrescentar qualquer coisa de válido à fotografia de Callie Shell, para a Time Magazine, e ao discurso de aceitação da nomeação democrata que Obama ontem fez em Denver. Talvez se justifique apenas transmitir uma preocupante sensação com que fiquei da minha recente passagem por Massachusetts e Rhode Island: os próprios apoiantes de Obama já tiveram mais certezas sobre o resultado das Eleições de Novembro. Mas, then again, é por isso mesmo que esta candidatura é especial. Sendo pelo futuro e pela mudança, não poderia ser fácil - como não tem sido - nem poderia ser garantida - como não será, até ao fim.

PS - Penso que terá sido o Carlos a fazer um interessante post sobre a Senhora Governador Palin, a mulher que vinha do frio do Alaska. Pois agora é Senhora Governadora candidata a Vice-Presidente Palin. E eu fico cada vez mais com a ideia de que a equipa de consultores de Mc Cain é de grande qualidade. Infelizmente.

Convenção Democrata



Barack Obama, o improvável, aceitou ontem a sua nomeação como candidato do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos da América. Perante mais de 80.000 pessoas, fez um discurso notável e sem qualquer concessão às flores de retórica. David Gergen, um dos comentadores da CNN, chamou-lhe uma sinfonia. Valeu a pena ficar acordado até de madrugada para a ouvir em directo. Quarenta e cinco anos depois de Martin Luther King ter dito I have a Dream, apareceu finalmente um candidato negro à Casa Branca fora dos guiões das séries televisivas. Aquilo a que se assistiu ontem à noite no Invesco Field, Denver, Colorado, foi ao American Exceptionalism no seu melhor. Edward Kennedy, no primeiro dia da Convenção, já tinha avisado: the Dream lives on. E eu acrescento, roubando o título de um livro de poesia de Sebastião da Gama, Pelo sonho é que vamos.

quinta-feira, agosto 28

Alta Fidelidade



Os Sigur Rós ao vivo no MoMA. Uma experência possível via Current (o projecto televisivo fundado por Al Gore).

* adenda ao post * Anda tudo a meter água (:ILHAS, incluído) e nada melhor do que os islandeses para ilustrar o postal.

Ruído silencioso

Linkado daqui.

cenas do verão açoriano

conduzir de janela aberta e levar com salpicos da merda de vaca que inunda as estradas...

quarta-feira, agosto 27

Aviso à navegação

E já que no país o clima é de insegurança juntamo-nos à onda: o header do :ILHAS foi desviado daqui.

provocações

O Presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, admitiu hoje em conferência de imprensa no Kremlin que o seu governo segue atentamente os movimentos autonomistas açorianos, tendo mesmo admitido a existência de conversações informais com representantes locais no sentido de um futuro apoio da Rússia a uma eventual independência dos Açores. O Presidente da Federação Russa proferiu estas afirmações na sequência de uma comunicação relativa ao recente acordo militar entre os EUA e a Polónia tendo mesmo afirmado que para a Rússia o posicionamento estratégico do arquipélago dos Açores obriga a que a Rússia siga atentamente as questões internas desta região. Medvedev afirmou que “a Rússia estará sempre do lado da vontade daqueles povos que queiram fazer ouvir a sua voz individual no contexto de um mundo cada vez mais oprimido pela vontade de hegemonia de uma determinada potência”. O Governo Regional dos Açores não se demonstrou disponível para comentar estas declarações.

segunda-feira, agosto 25

Money talks



O regresso dos Verve à estrada e aos discos. Forth saiu hoje.

Entre o Real e a Ficção

«(...) "A arquitectura da cobertura plana, da caixa é uma abstracção e uma provocação. Desligou-se demasiado do mundo real, e a arquitectura, antes de querer ser arte, tem de ser solução e, para isso, tem de ser engenharia, planeamento e política." Ele espanta-se com este comodismo na arquitectura, mas acredita que essa atitude pode ser um sinal de desorientação, de perda de caminhos.»
Entrevista de Bernardo Rodrigues à Pública (de 10.08.08). Para ler na integra aqui.

Coisas Realmente Importantes

Projecto MIT pode transformar os Açores em termos energéticos
[outras CRI] entre o + e o -

Incontinências

Apesar do título foi um dos vencedores de sábado à noite. Uma representação desta lapa.

sábado, agosto 23

Num estudo realizado por alunos do curso de Comunicação e Marketing, de um escola profissional da região, que visava perceber se os títulos influenciavam ou não na escolha de um livro para férias, o resultado foi surpreendente. Contactadas as livrarias de todas as ilhas, o inquérito demonstrou que este Verão muitos açorianos não cairam na tentação dos best sellers dos tops e optaram, em número bastante considerável, pelo multi-premiado romance "Ou César ou Nada" de Manuel Vázquez Montalbán.
Há títulos assim.

Summer Tape #5



Os Stereolab têm novo disco lançado através da consagrada 4AD. Mais um exotismo de época para acompanhar o peixe de ocasião. Altamente recomendável.

Joe is Right



Joe Biden é o homem que acompanha Obama às presidenciais nos EUA.

quarta-feira, agosto 20

Reporter X

Verão Quente*

1. As férias. A ilha “esgota-se” em Agosto. A cidade está disforme, revela-se impraticável e é um caos tornado gravoso devido às inúmeras empreitadas em curso. Os serviços de restauração e similares não têm capacidade de resposta. Aliás até podem ter, mas o serviço deixa muito a desejar por aquilo que se paga. A animação parece muita mas na realidade está descoordenada e é pouco diversificada. E grande parte das belezas naturais da ilha não está preparada para responder qualitativamente às solicitações de quem as procura neste período. Há muito por fazer no turismo que se quer amigo do Ambiente. E no outro que vendemos como qualificado.

2. Os Jogos Olímpicos decorrem até 24 de Agosto numa China que se diz aberta ao mundo. Têm sido vários os episódios na ocultação da rigidez do sistema “democrático” chinês, os quais têm sido prontamente desmascarados, para desespero das autoridades locais. Não obstante isso, as competições têm decorrido com a normalidade que se impõe e na exacta magnitude dos palcos dos jogos. Infelizmente, a participação portuguesa tem sido mais do que modesta e até à data conseguimos apenas pontuar com Vanessa Fernandes. As desculpas (!) para as parcas prestações da comitiva nacional têm tido a marca “lusa”, facto que já levou o presidente do Comité Olímpico de Portugal a pedir “profissionalismo e brio” aos atletas que estão a representar o país nestas olimpíadas. Uma reacção provocada, quiçá, pela resposta de Marco Fortes (lançamento do peso) que, perante a falha no apuramento para a final, respondeu: “(...) já cheguei à conclusão que de manhã só estou bem na caminha”. Extraordinário!

3. Quase em simultâneo com o arranque dos jogos em Pequim, a Rússia invadiu a Geórgia, pretensamente como resposta a uma agressão georgiana à província da Ossétia do Sul, uma espécie de Estado independente que não é reconhecido por ninguém mas protegido pela mãe-pátria Rússia. Neste reposicionamento à “força”, da Rússia perante a Nato e os EUA, joga-se uma densa malha de interesses com epicentro nas reservas gasíferas e petrolíferas do Mar Cáspio, que aumentaram ainda mais a importância estratégica do Cáucaso. Assistimos a um perigoso esgrimir de posições a lembrar os tempos quentes da guerra fria, situação à qual, presumo, ninguém quererá regressar. Este é, sem sombra de dúvida, um cenário tenso e de contornos sinuosos. Explosivo.

[+] O Verão tem sido particularmente quente e com um azul invulgar nas ilhas (pelo menos em São Miguel). Sufocante.


* edição de 19/08/08 do AO
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segunda-feira, agosto 18

The Summer Wind


Depois de uma volta completa pelos membros do :Ilhas, numa clara demonstração de ecletismo musical, a jukebox regressa a este vosso criado. Numa mistura entre sons quentes e actualidade, entre a batida própria da saison e o mínimo de decência, a lista inclui: Madonna em parceria com o produtor da moda (de longe mais catchy que "4 minutes", o single de lançamento), em vésperas de visita a Portugal; os magníficos Lefties Soul Connection, a demonstrar que, 30 anos depois do apogeu, ainda há quem seja capaz de produzir soul instrumental de qualidade; pegando no ritmo, a homenagem obrigatória a Isaac Hayes; Madcon e o hit do momento, ainda nas margens da soul; e, para fechar, os suecos Lykke Li, em mixagem da responsabilidade de outras das grandes bandas in da actualidade, os Black Kids. Enjoy yourselves.

Feios, Porcos e Maus *


«Uma cidade e um concelho afirma-se pelos homens das letras e não pelo betão que se constrói»
Rui Melo, autarca de CMVFC, na edição de de 07.08.08 do Telejornal/RTP-A

«Ninguém se atreve a estabelecer uma relação directa entre o (aparente) aumento da contundência presidencial em relação ao governo e a eleição de Ferreira Leite para a liderança do PSD, mas a verdade é que ambos vêm dizendo a mesma coisa (...)»
Cristina Figueiredo na edição de 09.08.08 do Expresso

«(...) como já aqui expliquei, não faço, não alimento e não leio blogues. Terão, certamente, muitas vantagens e utilidades, mas eu não me habituo a viver em territórios onde vivem o anonimato, a calúnia, a usurpação de autorias e a impunidade»
Miguel Sousa Tavares na edição de 09.08.08 do Expresso

«Ninguém ousa, por exemplo, criticar o pensamento político da presidente do PSD. Por uma razão extremamente simples: ninguém sabe qual é. Quando recusa participar em eventos nos quais há o perigo de ter de o revelar, Ferreira Leite está a preservar um trunfo inestimável para as próximas eleições legislativas. O povo ganhou uma certa aversão ao discurso político. É muito provável que esteja disposto a votar numa muda».
Ricardo Araújo Pereira na edição de 14.08.08 da Visão

«(...) Putin deixou clara a mensagem para a Geórgia e para o Ocidente: o alargamento da NATO até às suas fronteiras é uma brincadeira perigosa. A sua posição é imoral? Claro. Mas depois do Iraque, de Guantánamo e do Kosovo, quem lhe pode dar lições de moral?»
Daniel Oliveira na edição de 15.08.08 do Expresso

«O governo em Lisboa está a forjar números para facilitar as eleições aos socialistas nos Açores»
Alberto João Jardim num comício no Porto Santo em 15.08.08


* O Lado B do Vox Populi

domingo, agosto 17

Ambição & Esforço q/b

«(...) de manhã só estou bem na caminha».
Via 31 da Armada

...Eu hoje deitei-me assim

...
"I stand for freedom of expression, doing what you believe in, and going after your dreams."
...

Madonna and Stallion by Steven Klein.
...
Madonna Louise Veronica Ciccone é a superlativa diva da pop. Mesmo no maior imediatismo da pop nunca foi para mim um guilty pleasure, mas sim um objecto de pura veneração. Venero-a desde o dia em que a descobri em 86 em "Live to Tell". De lá para cá Madonna tem vindo a viver para dizer, a quem ainda duvidar, que ela é a quintessência da pop moderna com tudo o que tem de vulgar mas também de iconoclasta. Desde o glamour da fase de Vogue até ao despudorado voyeurismo de Erotica, passando pelo inolvidável Sex Book de Steven Meisel, Madonna é uma agente da provocação cujas ondas de choque se propagam à escala planetária. Longe vão os tempos dos fetiches em cone de Jean Paul Gaultier que completavam um par de talentos que raramente escondia, bem como já passaram à pré-história da pop as encenações onanistas de gratuito afrontamento da moral conservadora, e é hoje também apenas um fotograma no álbum de memórias o french kiss que pespegou em Britney para escândalo do prime time da TV made in USA. Madonna superou todos esses fantasmas e fantasias que foi vestindo ao longo da sua carnavalesca vida. Na última fase da sua carreira produziu os notabilíssimos "Ray of Light" e "Confessions on the Dance Floor". Madonna é hoje, como sempre, e acima de tudo, frivolamente dançável. Hoje completou uns belíssimos 50 anos de vida com a certeza de que ainda tem raça para ser a dominatrice da pop dos anos zero. Long live the Queen

sexta-feira, agosto 15

Assim vai o Mundo...

Conjunto impressionante de fotografias - que relatam a actualidade da situação na Georgia - disponíveis através da galeria do The Guardian.

Coisas Realmente [Muito] Importantes

Moscow warns it could strike Poland over US missile shield
Revivalismo desproporcional e perigoso.

Coisas Realmente Importantes

Tbilissi assina acordo de cessar-fogo com Rússia
A Rice & Fogo.

CineClube



O Segredo de um Cuscuz - La Graine et le Mulet É um dos mais extraordinários filmes que vamos poder ver todo este ano, por tudo aquilo que é sem nunca realmente o ser: não é um panfleto social, não é um melodrama lamecha, não é uma comédia truculenta, mas a história do sr. Beji, um operário desempregado que decide arriscar tudo na concretização do seu sonho secreto de abrir um restaurante, é tudo isso ao mesmo tempo. Sobretudo, é uma história de família, com o clã alargado do sr. Beji (a exmulher, a companheira, os filhos, a enteada) desenhado de modo lúcido por um realizador sensível e incrivelmente generoso para os seus actores (todos não profissionais), que se recusa a entrar no jogo do final feliz para agradar ao público e trata todas as suas personagens com a dignidade que elas merecem e um pudor extraordinário. "O Segredo de um Cuscuz" (mas que raio de título português é este?) é um filme que respira a vida como ela é e tem gente de carne e osso lá dentro, tratada com a dignidade que ela merece. É uma lição de cinema (Jorge Mourinha in Público).

Em exibição na Sala 2 do Solmar.

quarta-feira, agosto 13

Publicidade institucional

Em Agosto na Bertrand os preços convidam à festa de alguns clássicos - uns mais do que outros mas todos de valor acrescentado.

Ambientalistas Anónimos

A incredulidade aqui.

Chore, está a ser filmado

À entrada dos balneários da Praia da Ribeira Quente está um pequeno sticker com os dizeres "Sorria, está a ser filmado". Ora, tendo em atenção que as pessoas utilizam os balneários para determinadas acções que não pretendem, por pudor, executar em público, não deixa de ser incómoda a sugestão de que, de facto, possam existir câmaras de vigilância no interior do espaço.
Sosseguem, porém, os mais exaltados, porque, inquirida a funcionária de serviço, ficamos a saber que as ditas câmaras não existem e que a placa visa apenas "evitar que as pessoas partam os duches", que, de facto, estão já todos partidos. Como dizia o meu filho Gonçalo, quando mais pequeno, "grande boa ideia!".

Summer Tape #3



Os australianos Cut Copy passaram recentemente por Portugal e são frequentemente comparados aos New Order. Etiquetagem e saudosismo nostálgico à parte por aqui passa uma óptima banda que domina magistralmente a transposição da dinâmica orgânica vs electrónica. Em shuffle.

terça-feira, agosto 12

Portugal Olímpico


Tenho visto intermitentemente as transmissões televisivas dos Jogos Olímpicos (e procurado não ouvir os lamentáveis comentadores portugueses, tanto os especialistas como os generalistas). De um modo geral, não domino as modalidades em que os portugueses têm participado, "com esperança", e, por isso, não me sinto habilitado a considerações de natureza técnica, eu que até pensava que wasari era uma variante de sushi. Contudo, vou conhecendo alguma coisa da psique humana e não posso deixar de lamentar a auto-desconsideração da generalidade dos atletas portugueses.
Não acredito que se trate de uma estratégia colectiva da delegação nacional aos Jogos de Pequim. Parece-me, antes, que é algo que finca mais fundo e radica na mentalidade competitiva deste infeliz país de quase-campeões. Até Vanessa Fernandes - simplesmente uma das três melhores atletas do mundo de todas as modalides - chegou à capital chinesa dizendo que "os Jogos Olímpicos são uma prova muito especial porque toda a gente está no máximo da forma". Que raio! "Toda a gente" inclui a própria Vanessa Fernandes e se ela ganha tudo, também pode, legitima e categoricamente, ganhar uma medalha nos Jogos Olímpicos, ou não?
O problema é que na mente dos portugueses a preparação da desilusão está sempre primeiro do que a inconsciência da ilusão. Dito de outro modo, o medo de poder perder, e de por isso ser censurado, é muito mais forte do que o desejo de ganhar.
Ficar em 7º ou em 9º no Judo, ou em 23º na natação, não me causa qualquer espécie; agora entrar em prova a falar da excessiva velocidade do vento, da forma dos adversários, da qualidade das arbitragens ou do carácter exótico da comida, isso já me provoca um gélido arrepio de espinha, porque é mais português do que ganhar. E não há programa olímpico que o possa mudar.

* Na fotografia, à direita, Nino Salukvadze, atiradora georgiana que obteve a medalha de bronze e que tinha todas as razões e mais alguma para ser portuguesa e ficar em décimo.

O Círculo de Giz Caucasiano



O Círculo de Giz Caucasiano, porventura a mais famosa das peças de Bertolt Brecht, foi escrita em 1944 nos Estados Unidos da América e pela primeira vez levada à cena em 1948 no Carleton College, Minnesota. Em termos sumários, o drama desenvolve-se a partir de uma jovem mulher que rouba o bebé aos seus pais naturais, mas que o trata melhor do que eles. Os recentes conflitos no Cáucaso, a invasão da Geórgia pela Rússia, têm algumas analogias com a parábola de Brecht. O urso russo saiu da sua hibernação e o Ocidente assobia para o lado. Que é feito da Nova Europa de que falava Rumsfeld? E que tal estamos de falcões em Washington? Tudo a ler a cartilha arquirealista do Henry Kissinger, não é verdade? Pois, pois, uma Rússia imperial dá muito jeito ao Pentágono para manter o Irão sentado. A participação de 2.000 soldados da Geórgia na guerra do Iraque bem pode ir às malvas. E a Europa onde está? Faz-me lembrar aquele hit dos anos 80, You allways find me in the kitchen at the parties. O senhor Sarkozy e a senhora Merkel estão muito preocupados com a guerra da pipeline que lhes aquece os pés no Inverno. Querem lá saber da democracia e da soberania da Geórgia, cujo excesso de zelo em integrar a NATO e a UE já se começa a tornar inconveniente. Da próxima vez que os líderes europeus reconheçam alegremente a independência de outro Kosovo, é bom que pensem duas vezes no que irá sair dessa caixa de Pandora. Os senhores do Kremlin agradeceram o precedente. Agora, como diria António Vitorino, habituem-se.

Top of the Pops



Isaac Hayes (1942-2008)


Morreu ontem o Isaac Hayes. Para muitos será uma não notícia, mas sempre é pretexto para eu preencher com ela a minha quota de cota deste blog. O Isaac não era homem de confusões e gostava de nadar contra a corrente. Quando a estética do cabelo afro se impunha nos anos 60-70, foi dos primeiros a rapar o crânio à navalha. Quando toda a gente se pelava por melodias cantadas em voz alta, introduziu nas suas músicas umas lyrics lidas com voz cava de barítono, a que chamava raps. Por falar em rap, foi também pioneiro no franco uso de cordoaria dourada pelo corpo abaixo. Filho do Tenessee, nunca vestiu a camisola da Motown e criou um estilo próprio de soul music que, cruzando funk com Burt Bacharach, abriu as portas ao império do disco sound na década de 70. Foi projectado para a fama pela theme song do filme Shaft, estreado em 1971, e que lhe valeu um Óscar da Academia de Hollywood. A sua voz, o seu look, o seu vagar, colocavam-no nos antípodas de James Brown. . Deu outra solenidade à mitologia sexual do afro-americano e, de certa maneira, pode-se dizer que foi o inventor da estética cool. Neste clip do Youtube, captando imagens de um concerto do Isaac Hayes em 1973, o personagem com cabeleira afro que o introduz em palco é o actual Senador Jesse Jackson. O velho Isaac, falecido ontem nos subúrbios de Memphis, deixa órfãos 12 filhos, mas foi paizinho de muito mais gente.

domingo, agosto 10

Desculpe, importa-se de repetir?!

«Tenho de lhe colocar esta questão: esta não é a mesma crítica que o PS fazia quando estava na oposição ao governo social-democrata de Mota Amaral? Será um problema das maiorias absolutas demasiado prolongadas no tempo? Uma maioria demasiado prolongada no tempo não creio que seja vantajosa. A alternância traz sempre algo de positivo e, naturalmente, que o facto de os partidos estarem demasiado tempo no poder acaba, mais cedo ou mais tarde, por trazer alguns vícios. Agora, creio que é extremamente injusto fazer a comparação do que existe actualmente, nomeadamente – e vou utilizar uma palavra que o PS não gosta nada de ouvir – da “falta de oxigénio” que se sente hoje em dia, com o que se passava no tempo de Mota Amaral. Seguramente, não se dificultava o acesso à informação ou até – e estava a tentar não utilizar esta palavra – não quase que se “comprava” as pessoas, para que elas não sejam adeptas de um determinado projecto. Hoje em dia, a “asfixia” é maior (...)»
Discordo com a necessidade recorrente de ressuscitar o tempo perdido para a inevitável comparação com a implementação de novas políticas governativas. Mas, perante declarações como esta (António Soares Marinho em entrevista ao Açoriano Oriental de 09.08.08), apetece-me exultar: a memória não é um exercício de estilo ou no tempo em que não havia internet, existia apenas 1 única estação de rádio (as locais davam os primeiros passos e a informação não era prioridade), 1 única estação de televisão e em que determinadas edições de jornais nacionais nunca alcançaram território regional, esses não constituíram, indubitavelmente, tempos de “oxigénio”. O meu não o tomo “rarefeito”. Mas, eventualmente, para quem o conceba dessa forma talvez não dê, sequer, pela palette de sabor(es)...

Coisas Realmente Importantes

Ban urges immediate end to fighting across Georgia
O Mundo anda perigoso.

Espírito Olímpico

Telma Monteiro diz que arbitragem favoreceu as adversárias
A lamúria tuga já chegou ao judo. Será do clube de origem?!

sábado, agosto 9

Fruta da época

Após algumas tentativas de links falhadas parece-me que finalmente rola no :ILHAS a selecção de música da época com actualidade q/b, num registo bubblegum com o intuito se ser lido em loop hipnótico: 1º Gamma Ray para a apresentação do belíssimo Modern Guilt de Beck; 2º Air France outra dupla sueca que promete fazer correr tinta aqui com Collapsing at your doorstep do No Way Down EP; 3º Os brasileiros CCS numa mix dos Cut Copy para Move; 4º Hercules and Love Affair em + 1 mix electro qualquer coisa de Riton (dificilmente auscultável numa mala de discos dos dj's da estação); 5º Um final pacífico ao som de uma das descobertas do ano Quiet Village. Conduzam com precaução.

quinta-feira, agosto 7

Music For The Masses



Até dia 10 de Agosto decorre na Herdade da Casa Branca o Sudoeste (com um cartaz suculento devido, muito provavelmente, à concorrência). Para acompanhar a esta distância.

quarta-feira, agosto 6

Incontinências

A Worten em Ponta Delgada está com uma super-promoção fundo de catálogo: muitos CD's a € 1 e DVD's desde € 3. Escusado será dizer-vos quanto poupei...

World Press Photo'08

Últimos dias.

e Propaganda

…afinal o "computador Português" é mais um embuste da máquina do ministério da propaganda do Governo do Sr. Pinto de Sousa. Magalhães, o verdadeiro, merecia melhor do que esta demagogia do prime-time
...

...

"Primeiro foram as notícias que davam conta de uma nova fábrica da Intel em Portugal. Um sucesso, garantia-se, que já tinha 4 milhões de encomendas ainda antes de ser instalada a primeira pedra. Um investimento que iria criar 1000 postos de trabalho qualificados, na zona de Matosinhos, graças à diligência do Governo. A apresentação foi ontem. Com pompa e circunstância a imprensa andou dois dias a anunciar o “primeiro portátil português”. O Magalhães é um computador inspirado no navegador, diziam ontem as televisões em coro. Para dar credibilidade à coisa, o mais famoso relações públicas nacional e o presidente da Intel subiram ontem ao palco do Pavilhão Atlântico para a "apresentação mundial" deste computador de baixo custo.

Um único problema. Não só o computador não tem nada de novo como a única coisa portuguesa é a localização da fábrica e o capital investido. A "novidade mundial" ontem apresentada, já tinha sido
anunciada a 3 de Abril - no Intel Developer Forum, em Shangai - e foi analisada pela imprensa internacional vai agora fazer quatro meses. O tempo que tem a segunda geração do Classmate PC da Intel, que é o verdadeiro nome do Magalhães. De resto, o primeiro computador mundial para as crianças dos 6 aos 11 anos, características que foram etiquetadas pela imprensa lusa por ser resistente ao choque e ter um teclado resistente à agua, já está à venda na Índia e Inglaterra. No primeiro país com o nome de MiLeap X, no segundo como o JumpPC. O “nosso” Magalhães é isso mesmo, uma versão produzida em Portugal sob licença da Intel, uma história bem distinta da habilmente "vendida" pelo governo para criar mais um caso de sucesso do Portugal tecnológico.

Fábrica da Intel nem vê-la e os tão falados 1000 novos postos de trabalho ainda menos, tudo se ficando por uma extensão da actual capacidade de produção da fábrica da JP Sá Couto. Serão
80 novos empregos, 250 se conseguirem exportar para os Palops. Os tais 4 milhões, que já estavam assegurados, lembram-se? Só que as 4 milhões encomendas não passam de wishful thinking do nosso primeiro. E muito pouco credível. Em todos os países onde o computador está à venda é produzido através de licenças com empresas locais. Como explicou o presidente da Intel, a empresa continua à procura de parceiros locais para ganhar quota de mercado com o Classmate PC, não o Magalhães.

A guerra de Intel é outra, como se pode perceber no
relato que um dos mais reputados sites tecnológicos - a Arstechnica, do grupo editorial da New Yorker - faz da apresentação da Intel e do governo português: espetar o derradeiro prego no caixão do One Laptop for Child, o projecto de Nicholas Negroponte e do MIT para destinar um computador a cada criança dos países do terceiro mundo. É essa a importância estratégica para a Intel. O resto é fogo de vista para português ver.

PS: Não tenho nada contra a iniciativa em si, parecendo-me meritório um projecto para garantir um contacto precoce de milhares de alunos com a informática. Mas isso não quer dizer que aceite gato por lebre. Não seria nada mau sinal se a imprensa nacional, que andou a vender uma história ficcionada, também cumprisse o seu papel
."

Por Pedro Sales no Zero de Conduta
...

...

terça-feira, agosto 5

Cesar, Cavaco, o Estatuto e o "Amante deste"...

ou de como, por vezes, quem está de fora vê melhor o que se vai passando cá dentro...
Tradicionalmente o PS/Açores tinha uma desvantagem comparativa face ao PSD regional: era visto como um partido com reservas face ao aprofundar da autonomia. Com a sua comunicação, Cavaco Silva conseguiu consolidar a inversão de posições relativas – colocou o PSD/Açores na posição muito desconfortável de não poder, ao mesmo tempo, criticar abertamente o Presidente e distanciar-se da defesa do Estatuto tal como aprovado pelo Parlamento Regional. Com um crescimento do PIB bem superior à média nacional, com um conjunto de investimentos públicos, mas, também, privados muito significativos e com ‘superávit’ orçamental, Carlos César preparava-se para ter mais uma vitória nas próximas eleições regionais. Cavaco Silva, ao encostar o PSD/Açores a um dilema insuperável, ofereceu a Carlos César um presente com que o próprio não sonharia: um triunfo muito folgado.


a análise muito precisa de Pedro Adão e Silva, para ler mais aqui.

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EPARAA*

O país foi surpreendido pelo anúncio de uma declaração “importante” ao país por sua Exa. o PR. Este só havia efectuado algo semelhante aquando do referendo sobre o aborto. Os media especularam sobre a repentina convocação e a nação esteve 1 dia em suspenso para assistir ao que tão “grave” suscitou tamanha “interrupção” para falar a uma nação em férias. As televisões elaboraram um minucioso plano – directos e comentadores em estúdio - mas tudo ruiu ao fim dos primeiros 30 segundos ao verificar que o tema a concurso era a do Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores. A incredulidade instalou-se. 10 minutos de um discurso intrincado de pressupostos jurídicos, “esotéricos” para a grande maioria da população nacional (açoriana, incluída!) – «Uma tempestade num copo de água», disse Miguel Sousa Tavares. O país em uníssono corroborou e mudou de canal.

Daqui surgem várias leituras. A forma terá sido a ideal? Duvido. Com a agravante do timing - a última noite de Julho, altura do ano na qual uma larga maioria do Portugal está de calções e havaiana. Cavaco correu ainda outros 2 riscos, como sublinha José Manuel Fernandes (Director do Público): «(...) criou uma enorme expectativa para uma comunicação cuja importância a maioria dos portugueses não terá percebido. Quando quiser de novo chamar a atenção para um tema que considere tão ou mais importante poderá não conseguir a mesma atenção que ontem conseguiu». E «ao não ter enviado para fiscalização pelo Tribunal Constitucional (TC) alguns dos pontos que ontem considerou politicamente graves, (...), cria uma perplexidade: porque não o fez?». E o conteúdo?

Esse é um problema complexo e que se situa num campo abstracto e longe do quotidiano das populações. Os partidos políticos deviam preocupar-se em aproximar o discurso desta e de outras matérias relevantes da dos seus concidadãos. Apesar da proximidade das eleições regionais, em outubro próximo, o discurso e as reacções partidárias deviam pautar-se por um esclarecimento alargado (já que unanimidade havia, pelo menos, de forma aparente). E que este não estivesse submetido apenas ao “barómetro autonómico”, no qual as duas maiores forças partidárias reivindicam o seu contributo em prol da “autonomia progressiva” e das “conquistas autonómicas”. Na essência tudo isto é um dislate e um mero exercício de estilo que pouco ou nada significa. Não devemos cair no erro do PR, «(...) que em vez de olhar para os problemas reais do País olha para os perigos virtuais dos excessos de voluntarismo formal das Autonomias (João Nuno Almeida e Sousa, :ILHAS).

Será que o país passou a olhar os Açores com desconfiança?! Provavelmente, não. Passei, isso sim, a olhar com “forte depreciação” para o prime time atribuído à “palavra presidencial” e a registar o(s) déficit(s) associado(s). E atenção: esta encenação de Silly não teve nada...


* edição de 05/08/08 do AO
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*** Imagem X Expresso

Summer Tape #2



Primal Scream novo álbum novo look novo som. Nada de extraordinariamente novo mas ao qual é-me impossível ficar indiferente. Rock n' Roll & Glam Q/B. Em repeat.

segunda-feira, agosto 4

contradiscurso

...é longo, mas instrutivo, este post do Professor José Adelino Maltez. Com o habitual brilhantismo no Sobre o Tempo Que Passa.
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"Lá ouvi o senhor presidente. Depois de delicadamente ter recusado ir a uma televisão comentar o não-facto antes de ele ocorrer. Apenas disse à Rádio Renascença aquilo que afinal se confirmou, o presidente fez propaganda sem parecer propaganda para que fossem testadas as expectativas que a comunidade nacional nele depõe. Mas a comunicação seria bem menos dramática do que as especulações e a boataria, que até chegaram à hipótese da renúncia presidencial, embora realmente esperassem uma espécie de contra-relatório face ao de Vítor Constâncio.

Por mim, confesso, não gostei que a ameaça de bomba atómica se volvesse numa má interpretação do princípio da subsidiariedade, permitindo que florescessem de imediato aquelas ideologias que batem sempre na parte mais fraca: a autonomia política e legislativa daquele segmento do povo português que tem a sorte de poder conformar-se organicamente através do parlamento do Faial. Que, nas matérias que fazem parte da sua competência, e para cumprimento da natureza das coisas, tem aquela plenitude da autonomia que equivale à autonomia sem limites, mas dentro dos limites.

Os antiquados preconceitos e fantasmas do centralismo, incluindo os assumidos pelas costelas jacobinas, logo retomaram o discurso da incompreensão, não faltando os que insinuaram que o parlamento açoriano, que não é a assembleia consultiva de um distrito dito autónomo, está hierarquicamente dependente do parlamento da república... Como se a autonomia em causa não obedecesse ao clássico princípio da subsidiariedade, segundo o qual uma sociedade de ordem superior não pode interferir na esfera de autonomia de uma sociedade de ordem inferior. E até apareceram falsos nacionalistas que logo aplaudiram certas tresleituras, esquecendo-se que, amanhã, serão as instâncias de Bruxelas a comprimir as liberdades nacionais em nome das mesmas raízes absolutistas e até concentracionárias.

Se a Constituição não permite a audição das instâncias regionais para a dissolução de órgãos regionais é a Constituição que está mal. Pronto! Sou pluralista, regionalista e até nem me repugna aplicar o federalismo no espaço da autonomia portuguesa. Julgo que não é pecado e lutaria para modificar a constituição nesse sentido. Logo, que mal faz o presidente ter que ouvir instâncias regionais antes da eventual dissolução de órgãos regionais?

Aprendi que os Açores não são as ilhas Aaland, onde uma minoria de suecos é tutelada pelo Estado Finlandês. Aprendi que há muitas autonomias na Europa que são traumáticas, nesta Europa dos paradoxos, onde os pactos de sujeição ainda não se conseguiram harmonizar com os pactos de associação ainda por cumprir. Não é o caso dos Açores.
Há muitas autonomias regionais da Europa que representam nações sem Estado. Continua a não ser o caso dos Açores. Algumas delas até são nações antes de haver nacionalismo, como é o caso da Escócia, dependente de um atípico Estado Unitário, o Reino Unido, onde existe uma espécie de poder constituinte permanente no Parlamento. Daí o paradoxo presente, o de se introduzir autonomia sem federalismo, nesse modelo de Estado sem conceito de Estado e até sem constituição escrita.

Por nós, não basta o tópico constitucional do Estado Unitário Regional, onde os autonomistas utilizam o subversivo jogo retórico da autonomia sem limites, aproveitando a circunstância de a regionalização política estar proibida na maior parte do território da República. Logo, o federalismo é impossível, porque só depois de haver regiões políticas é que é possível o máximo de pluralismo de uma federação.

Logo, o princípio da subsidiariedade não consegue libertar-se das barganhas negociais dos grupos de pressão e dos grupos de interesse, como tenta expressar Alberto João Jardim, ou como o faz silenciosamente Carlos César. E a política a sério das autonomias não o bairrismo da futebolítica, mesmo quando, em desespero, alguns líderes regionais caem na tentação caciquista e nas brincadeiras dos césares de multidões, mesmo quando não se chamam César...

Já na Escócia e na Catalunha, as regiões assumem-se como uma espécie de Estados Clandestinos que proclamam o respectivo europeísmo, num jogo complexo, visando enfrentar os jogos de poder dos defensores do unitarismo soberanista dos velhos Estados Modernos, plurinacionais e imperialistas.

Não gostei do discurso, Senhor Presidente! E como Vossa Excelência é institucionalista, acredito que vai fazer o contradiscurso, de defesa de uma das mais belas conquistas deste regime. Por mim, não subscrevo os aplausos dos habituais cantaroladores do capitaleirismo castífero. Qualquer dia, até pedem ao Presidente para interferir numa assembleia municipal, quando já chega o que estão a fazer a certos segmentos daquilo que era universidade da "alma mater", onde não falatará que usem "chips" de termo de identidade, residência e estacionamento. Espero entrar daqui a uns minutos de férias, superiormente autorizadas. Não o farei, como hoje me diziam as irmazinhas do Convento do Menino Deus, que visitei em subsidiariedade da entrega de roupa. Um militante cívico nunca tem férias, quando muito "retiros" espirituais, que dão bem mais trabalho do que picar o ponto, especialmente quando se tem obra a aperfeiçoar, até quebrarmos a teia de Penélope...
"
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Summer Postcards

Um país ao Sol. Não obstante, sempre que isso é possível, opto por ficar à sombra...

domingo, agosto 3

sábado, agosto 2

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Qual dos inquéritos apresentados não pertence a um orgão de comunicação social regional (clique na imagem)?

Jazz em Agosto'08

Um dos mais importantes acontecimentos jazzísticos, em território nacional, celebra 25 anos e acontece de 1 a 9 de Agosto no anfiteatro ao ar livre da FCG. Concertos, documentários e algumas novidades. Uma proposta irrecusável para quem fica por Lisboa na época estival ou para quem vá de férias para a capital... Os parabéns ao Rui Neves.

sexta-feira, agosto 1

Já percebi que gostaram muito da minha selecção musical e que será muito difícil elevar o nível mas sinceramente até a mim começa a cansar.
Provisoriamente, nova playlist...

O fácies do centralismo

O centralismo é um cancro. (A sua metástase típica emerge no proteccionismo de Estado que alimenta monopólios que, a pretexto do serviço público ou de outras mitomanias, servem-se a si próprios atoucinhando os oligarcas do costume e os habituais "filhos-família" da República.). Uma etiologia da nossa República há muito que sustenta que o centralismo é de facto uma das causas do atraso, e até regressão, desta terra hipotecada a Bruxelas. Porém, as Autonomias de qualquer poder (regional ou local) são sempre vistas como corpos estranhos cuja presença se tolera com incómodo. No picaresco percurso da revisão do Estatuto Político Administrativo da Região Autónoma dos Açores – (para abreviar: a nossa constituiçãozinha) – era já previsível a sua ampla mutilação quando o centralismo da República obrigou, com a cumplicidade dos nossos deputados, à ablação da referência ao "Povo Açoriano" num atavismo de medo que se perpetua ao longo dos séculos. Consequentemente, era de esperar que o Senhor Presidente da República, exercendo os seus poderes, logo tranquilizasse os Portugueses garantindo férrea fiscalização preventiva da constitucionalidade do diploma que, ab initio, até fazia a herege referência ao "Povo Açoriano" ! Poderia era ter o pudor de disfarçar o gáudio que teve em relação ao seu dever de ofício. A surrealista comunicação ao País foi um acto de júbilo para Cavaco Silva e a sua oportunidade de afirmação como macho alfa dominante da República Portuguesa.

Paradoxalmente, a caravana passa ao lado do vociferante alarde de alerta para as perigosas Autonomias quando o País, no seu todo, vive uma crise real. Ademais, esta exibição de músculo, e de viril testosterona, contra as Autonomias podia e deveria ter sido canalizada tempestivamente para a Pátria que, recentemente, chegou ao cúmulo de ter a capital sitiada por uma greve de camionistas à conta da falta de coragem dos donos da República para tomarem as medidas que se exigiam. Estes e outros exemplos, como o caso das assinaturas de favor de um putativo licenciado em engenharia que é hoje, por força dos epifenómenos da mediatização, primeiro-ministro, nunca motivaram sequer um comunicadozito da Presidência da República. Nunca demandaram sequer um decreto de autoridade pondo ordem na choldra ! Pasmo agora que, à conta de meia dúzia de normas estatutárias, o Senhor Presidente da República suba ao púlpito desta República para zurzir o seu sermão aos farisaicos delatores da sua Constituição ! O País real que não fez zapping ficou moído com tanta justificação de forma para tão pouca substância. Além disso, há um manifesto erro de casting quando o Tribunal Constitucional já se tinha pronunciado sobre a matéria e, entretanto, o Senhor Presidente da República, porventura, querendo fazer notar aos Senhores Juízes do TC que ele é que é o mais alto magistrado da Nação, ainda se lembrou de suscitar mais umas quantas dúvidas sobre a parametrização Constitucional de umas quantas normas de absoluta inutilidade prática.

Em suma: vimos no fácies de Cavaco Silva um indisfarçável prazer em fustigar as Autonomias que diz prezar apenas porque o "politicamente correcto" assim o exige. Nós por cá ficamos a saber o quanto ainda hoje os Portugueses desprezam a Autonomia dos Açores e da Madeira. Eles por lá ficam a saber que têm um Presidente da República, com a mentalidade de um amanuense, que em vez de olhar para os problemas reais do País olha para os perigos virtuais dos excessos de voluntarismo formal das Autonomias.