Ou de como ser açoriano no mundo e do mundo nos Açores.
Vou simplificar e dizer uma coisa que vai certamente chocar alguns, nomeadamente o TóZé, mas é aquilo que sinto e acho que vem a propósito nesta discussão já demasiado emotiva sobre os Açores e a Europa. Até porque o principal do meu argumento é que não acredito que os interesses dos Açores só possam ser defendidos e, até, que sejam melhor defendidos, apenas, por açorianos.
Adoro os Açores, mas não tenho por estas ilhas uma entrega mais ou menos profunda do que tenho por Lisboa, por Puerto Escondido, pelo Hawaii, ou por uma outra qualquer parte da Terra. Os Açores são o sitio onde escolhi viver e, também, o sitio de onde vêm as minhas raízes familiares. Mas aquilo que eu sou como pessoa é tanto dos Açores, como de Lisboa, como do México, da California e de tantos outros lugares que nunca visitei. Aquilo que sou como pessoa é tanto de Antero, como de Nemésio, como de Pessoa, de Whitman, de Shakespeare, de Dante, de Homero, de toda a literatura do mundo, a que li e a que não li. Aquilo que sou como pessoa é tanto daqui, destas pessoas que habitam nestas nove ilhas, como de todas as outras que habitam tantos outros cantos do mundo. Recuso-me a entender os Açore por antítese ao que quer que seja. Somos diferentes, somos particulares, somos distintos dos outros, mas não somos, nem podemos ser vistos, nem tomarmo-nos, como sendo mais especiais, mais necessitados ou mais aptos do que ninguém. A Europa Comunitária é uma ideia de governo ampla e utópica. É a compreensão profunda de que as diferenças são passíveis de unificação, que é possível viver em conjunto, em harmonia de vontades diferentes. Baseada no respeito pela diferença. É nessa Europa que eu acredito. Da mesma maneira que acredito num Portugal coeso e pacificado em toda a sua especificidade regional, Regiões Autónomas incluídas.
O meu argumento é que não podemos imaginar um futuro em que os nossos interesses só possam ser defendidos por outros como nós. Se eu não puder pôr o meu destino nas mãos de outros e acreditar que eles farão o melhor para me defender, então o mundo não tem futuro. Posso não concordar com o Presidente da Junta, com o Presidente da Câmara, com o Presidente do Governo, com o Primeiro Ministro, com o Presidente da República, com o Presidente da Comissão, com o Conselho de Ministros, com o George Bush, posso não concordar com as opções deles todos, mas se eu não acreditar que o objectivo de todos eles é o bem comum, então nada faz sentido. Se tudo o que reivindico para mim, não o reivindicar também para os outros, então o mundo nunca evoluirá. Somos ilhas mas não estamos isolados do mundo. Tudo isto pode parecer mais um manifesto poético do que político, mas não é. O que aqui expresso são princípios orientadores de todas as decisões, das mais pequenas ás maiores.
Mas se calhar, e para continuar na simplificação, a pergunta que seria importante fazer neste momento e que pensasse-mos todos nela é esta: o que é ser açoriano e o que é que isso tem de diferente de ser de outro ponto qualquer do mundo?
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