quinta-feira, fevereiro 3
antes do debate
O mal-estar é evidente. Vê-se nas ruas no olhar desalentado das pessoas. Lê-se nos jornais, nos relatos desencantados dos fait-divers da campanha. Passa dos écrans dos telejornais para o remanso do sofá, como uma pulga que salta. E o pior é a abominável sensação de que não há nada a fazer, de que tudo está perdido e o país não tem solução. O debate desta noite, que certamente não vai ser campeão de audiências mas que vai chegar às pessoas, corre o risco de ser o momento chave desta campanha. Aconteça o que acontecer a forma, o estilo e o conteúdo deste debate vão definir o futuro próximo do país. Se a coisa descambar para um ataque à intimidade pessoal de cada um, num continuar da onda de boatos que encharcou Portugal, será de facto o fim da política. Será o destruir completo do ideal de liberdade e tolerância que se quis erguer depois de Abril para se abrir a porta a um poço escuro que ninguém sabe muito bem como será mas que colocará o país num limbo abjecto e ingovernável. Quando há uns meses se criticou o Dr. Soares quando este levantou a suspeita de que o país podia estar à beira de uma intentona não democrática e que tal só não tinha já acontecido por causa da condição de membro da União Europeia que o país hoje goza, não terão os críticos avaliado bem o estado em que se encontra Portugal. Esta é com toda a certeza a pior campanha eleitoral que já tivemos na nossa curta democracia, tal facto não é despiciendo nem o país passara incólume por esta doença. O clima de desconfiança e de vergonha com que as pessoas observam a refrega política deixará cicatrizes profundas na mentalidade comum que podem, como um enfarte, provocar lesões crónicas na nossa jovem democracia. O debate desta noite, e por arrasto os próximos vinte dias, serão decisivos para o resto do nosso tempo. Independentemente de quem ganhar, o género de política que se faz em Portugal não pode continuar a ser o mesmo. Tão importante como as reformas de fundo, na educação, na economia, na saúde, que o país tanto precisa, são também urgentes reformas na maneira de fazer política. Nunca na vida quereria concordar com o Prof. Cavaco, mas é urgente para todos nós um novo paradigma político. Não me canso de dizer: Merecíamos Políticos Melhores.
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