O Cardeal prostrou-se naquele chão frio, da sua catedral fria, escura e vazia, como sempre a esta hora de uma terça-feira invernal. Era nestas horas de abandono que preferia captar a atenção do seu Deus e Senhor. Encostando a sua testa e as palmas da mão àquela humidade continuou rezando piedosamente.
Aproximei-me e perguntei - Por quem rezas meu filho?
Ele respondeu como que a murmurar para as veias daquele mármore - Por mim Senhor! Por mim!
- É muita e fervorosa a tua fé meu Príncipe. - sussurrei-lhe - E porque rezas tu?
- Meu divino Senhor! Peço-vos que a morte do nosso adorado Papa seja marcada para as vésperas da celebração da liturgia da Páscoa.
Como que surpreendido, escapou-me um - Ó meu Deus!?!
Afastando a testa, marcada de vermelho, daquele mármore frio e olhando-me por debaixo das sobrancelhas para o altar, o cardeal perguntou - Porque usais o vosso nome em vão Senhor?!?
Respondi-lhe - Neste preciso momento mais quatro dos meus príncipes me fazem o mesmo pedido e mais dezassete o farão nas próximas horas. Tendo sido, até agora, João Paulo, o príncipe dos príncipes, uma boa Pedra do meu templo, dizei-me, pois preciso de o ouvir da voz de um pecador, porque o quereis morto em vésperas da Páscoa da Ressurreição?!?
- Meu Senhor! Sabeis bem o peso da agenda de um cardeal durante as liturgias da Páscoa. A libertação do espírito eterno de João Paulo da sua carcaça humana, que o aprisiona, é piedosamente inevitável. Tal facto provocará, quando assim o quiserdes, o chamamento dos Vossos príncipes às cortes do Vaticano, aonde nos isolaremos do mundo, e, em Vosso nome, e por Vós iluminados, escolheremos a nova Pedra. Que assim seja! E assim sendo que seja na dita data pois salvar-nos-á do sacrifício das nossas obrigações mundanas.
-Salvo seja! - Exclamei. - É só isso??? Farei chover nas vossas procissões!
Incapaz de abandonar qualquer sítio, ignorei-o, aos outros, e a suas preces.
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