Aparentemente terá causado algum desagrado em determinadas hostes o facto de um padre de uma paróquia de Lisboa ter afirmado alguns preceitos da moral cristã e a sua correlação com o dever cívico do voto. Contestam alguns a descarada ingerência da Igreja nos assuntos da democracia. Lá estão os padres, conservadores empedernidos, a fazer campanha pela direita, parece ser o espírito das críticas. Ao que parece o senhor padre fez ver aos seus paroquianos que a Igreja é contra o aborto, o casamento homossexual, a eutanásia, o divórcio, e outras questões, como a poligamia, por exemplo, que são no mínimo, digamos, fracturantes. E que como tal um bom católico deveria votar num partido que, como a Igreja, fosse contra tais fenómenos. Perdoem-me não levantar a minha voz progressista contra o inquisidor do padre, mas acho isto a coisa mais natural da vida, tão natural, sei lá, como duas gajas ou dois gajos aos beijos no meio da rua, e não, não estou a gozar. A Igreja Católica tem a sua moral, pratica e defende essa moral, expressa essa moral em liberdade. Essa moral não é a minha. Mas numa democracia todas as opiniões são respeitáveis, todas as opiniões são livres de serem veiculadas, todas sem excepção. Não me interessa que estejamos em período de campanha eleitoral e que isso possa influenciar o voto. O que é que andamos todos a fazer se não a influenciar o voto uns dos outros? Não há nada pior do que os moralismos da esquerda que se irrita sempre que há uma opinião diferente da sua. É obvio que todos, pelo menos os que pensamos, ambicionamos uma democracia evoluída em que os cidadãos sejam informados, cultos, livres, que exerçam o direito e o poder do voto com consciência e sempre com o fim último de preservar os valores da própria democracia. Mas numa democracia evoluída haverá sempre aqueles que defenderão uma moral conservadora e restritiva e votarão de acordo e estarão no seu pleno direito ao fazê-lo. O papel dos que acreditam verdadeiramente na democracia é lutar pelo valor mais alto da liberdade e da tolerância. Da diversidade de opiniões. É claro que há aqui problemas. O poder e influência da Igreja que lhe permitem emitir juízos e opiniões via Antena 1 é injusto e até abusivo. Mas o importante é antes de cercear o poder da Igreja criar as condições para que outros grupos e outros interesses se manifestem em pé de igualdade na sociedade portuguesa. É uma péssima comparação, mas se por exemplo a QUERCUS viesse agora apelar ao voto nos partidos que defendessem o Lince da Malcata e o Priôlo, quem é que ia levantar a voz em protesto? A minha esquerda será sempre aquela que defende a liberdade de expressão como um direito fundamental, seja qual for a opinião, mesmo que seja o mais contrária à minha, esse é o risco da democracia, mas é um risco que é vital que seja corrido. A Igreja é a Igreja, deixem-na estar. E para a esquerda mais radical, lembrem-se dos "padres vermelhos"...
São milhares as razões que levam as pessoas a um determinado voto, a Igreja é apenas mais uma delas.
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