Uma atracção fatal
Na triste e presumivelmente longa guerra que opõe o Coliseu Micaelense ao Teatro Micaelense, que ninguém assume mas que é não só plausível como inevitável, o Coliseu, apesar de mais novo, ganhou já a primeira batalha - a batalha da projecção mediática. Passados poucos dias da sua reabertura o Coliseu viu o seu nome repercutido em tudo o que é órgão de comunicação social, indo mesmo ao pico da exposição mediática contemporânea que é a TVI e as revistas do "socialight", suplemento de cultura do Expresso incluído. A pompa e circunstância posta pelos responsáveis do Coliseu na gala e bailes de carnaval deu os frutos que estes esperavam: valiosos segundos de exposição televisiva. Declaro desde já que não tenho nada contra este tipo de mediatização de um espaço cultural. O meu grande medo está antes na evolução futura destas duas salas de espectáculos. Que os Bailes de Carnaval sejam uma importante tradição micaelense e que a edilidade ponta-delgadense os queira preservar não me choca nada, tenho é um verdadeiro receio de que o Coliseu não venha a ser mais do que um enorme salão de bombeiros armado ao chique. Do que já se conhece da programação cultural prevista para os próximos meses, confesso que o Ballet Russo ou o Folclore Brasileiro não me entusiasmam por aí além enquanto propostas culturais. Chamem-me elitista, vanguardista, erudito, convencido, ou o que quiserem, mas para mim cultura é bastante mais do que isto. Em abono da equidade devo dizer que sou também frontalmente crítico dos ditos "Concertos Íntimos", um pincel sensaborão que o Teatro Micaelense engoliu sem pestanejar e que nos tenta impingir sem apelo nem agravo. Se queriam importar alguma coisa da Terceira que fosse o AngraJazz e não essa patranha comercialóide chamada "Concertos Íntimos". Estou à espera, comodamente sentado na minha poltrona, de mantinha que faz frio, rodeado dos meus livros e dos meus discos, que me sugiram alguma coisa vagamente cultural que me obrigue a sair de casa e a comprar um bilhete para a plateia de uma destas duas salas. Ao Coliseu ainda não fui e pelo programa não devo ir tão cedo, ao Teatro já fui uma mão cheia de vezes, mas confesso que para seis meses é pouco, muito pouco. A cultura não dá lucros financeiros, dá lucros sociais em educação e formação das pessoas. É por isso que estas duas salas não podem nem devem ser vistas como auto sustentáveis, quiseram recuperá-las agora dêem-lhes a utilidade que merecem e preparem-se para gastar dinheiro, mas por favor gastem dinheiro em CULTURA.
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