Acordar de manhã com um hino laudatório no bom estilo elegíaco do meu querido amigo João Nuno é logo razão para acordar sorridente, quando não verdadeiramente escangalhado a rir, como foi o caso de hoje. A notabilíssima prosa do meu amigo causídico provocou-me boas risadas, mas conhecendo-o como o conheço já não esperava outra coisa que não fosse a defesa e o elogio da obra da CMPD e da sua presidente apesar, e como já disse, de o tom e a forma me darem vontade de rir. Como se o restauro do Coliseu fosse o equivalente moderno da invenção da roda. Todos estes investimentos são muito bonitos, sim senhor. O lindíssimo teatro da Horta, o prático teatro da Ribeira Grande, o Centro Cultural de Angra, o Auditório do Ramo Grande, o Cine ValeFormoso, o teatro Micaelense e, sim também, o Coliseu Micaelense, para falar só dos que conheço, tudo isto são importantes investimentos no futuro conjunto de todos nós, até aí concordo com o João Nuno. O problema, meus senhores, é quando nos limitamos a ver isto no pequeno contexto do xadrez político e não percebemos o alcance estratégico que estas coisas têm que ter. O facto é que nos Açores não existe um "conservatório de artes" na verdadeira acepção da palavra. Uma escola de artes do palco que prepare e eduque os nossos jovens para as artes. Não existe uma orquestra, não há uma companhia de bailado, não há uma companhia, nem mesmo semi-profissional, de teatro, não há uma programação regular no domínio das artes de palco que eduque e cultive os públicos. De que servem os edifícios se depois não há nada para por lá dentro? Se dez por cento do investimento que é feito em obras fosse posto na programação e no apoio às artes, aí sim podíamos falar de políticas culturais. Espero sinceramente pelas estratégias programáticas de gestão do Coliseu para avaliar a sério do futuro dessa maior sala de espectáculos dos Açores, para que esta seja mais do que madeira para as térmitas, ou mais do que um salão de bombeiros armado ao chique para massajar o ego da pequenina sociedade micaelense.
Quanto à patetice protocolar dos que estiveram ou não presentes na Gala de Abertura não vou sequer comentar, é como já disse um folhetim partidário ao qual não dou a menor importância, até porque acho uma profunda falta de respeito não convidarem as instituições e empresas da cidade, mesmo da região, ligadas à promoção de eventos e espectáculos. A MUU não foi convidada para a gala de abertura - conhecendo-nos como conheço, provavelmente, o convite seria amavelmente recusado -, mas que ficava bem o convite, ficava. Mas já nem falo da festarola, falo de convidarem as instituições e empresas locais para uma visita de apresentação da sala, das suas especificações técnicas e capacidades. Não julguem os maldosos que eu estou chateado por não ter sido convidado para a dita Gala. Quem me conhece sabe que eu detesto gravatas quanto mais smokings. O que me irrita mesmo é esta constante
obceção obsessão regional pelo acessório, pelo inefável betão e o menosprezo constante pelas coisas importantes, como por exemplo o investimento nas artes. Restaurar o Coliseu por si só não é investir na cultura. E sobre Coliseus é só isto, até amanhã camaradas...
P.S. Este texto expressa apenas as minhas opiniões. A MUU-Produções são quatro pessoas, qualquer coisa para vincular a MUU tem que ser assinada por pelo menos dois.
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