sexta-feira, janeiro 14
PSD
Por esta hora deverá estar a ter início numa Ribeira Grande fustigada por grandes ondas o XV Congresso do PSD-Açores. Um congresso que não o é porque nele nada se irá discutir, nada se irá debater, nada se irá disputar. Este congresso do PSD-A é, acredite-se ou não, a cerimónia de entronização do maior derrotado das últimas eleições legislativas regionais, Vítor Cruz. Num fingimento lamentável, demonstrativo do grau zero a que chegou a política e os políticos deste país, o principal partido da oposição nos Açores e um dos dois mais importantes partidos da democracia portuguesa, prepara-se para não só se enganar a si próprio como para tentar enganar todo o eleitorado regional. Convém lembrar que no último congresso do PSD-A, realizado à há pouco mais de um ano, a moção de Vítor Cruz foi aprovada por quase unanimidade e que as directrizes políticas apontadas nessa moção levaram o PSD-A à maior derrota na história deste partido. Mas o que acho verdadeiramente lamentável no actual estado do PSD-A é o absoluto esvaziamento do partido no que toca a figuras de peso para uma disputa de liderança. Como é possível que um partido com a história e a relevância política do PSD-A não encontre dentre os seus militantes duas ou três figuras de mais ou menos monta disponíveis para dar a cara pelo partido num momento difícil dando-lhe assim a honra de uma liderança renovada? Ao ponto a que chegou a política quando ninguém se apresta a pegar no leme do barco que está de velas rasgadas à deriva com um capitão destroçado. Como poderá o PSD-A olhar-se ao espelho e ver que não houve ninguém que se assumisse como líder, mesmo que temporário, dando não só ao partido, mas ao próprio Vítor Cruz, a honra de uma esperança no futuro? Em política a regra do tempo é de um valor incalculável. O tempo de agir, o tempo de esperar, o tempo de assumir, o tempo de "atravessar o deserto". Todos sabemos que pela sua juventude Vítor Cruz não estaria nunca acabado para a política depois das últimas eleições, mas era de elementar bom senso, tal como o próprio assumiu, sair de cena e deixar o partido recuperar o capital político com uma nova liderança. O acto de cobardia protagonizado por todos os dirigentes do PSD-A ao nenhum se assumir como possível sucessor de Vítor Cruz é de tal modo constrangedor que corre o partido o risco de nos próximos anos nunca reconquistar o poder na região. O acto patético de após a morte do rei se fazer vivas ao esqueleto do rei é uma farsa medonha da qual o PSD-A pode nunca vir a recuperar. Não existem partidos de uma só pessoa, bom em boa verdade há a Nova Democracia, como conseguirá o PSD-A explicar ao eleitorado a sobrevivência de um derrotado, derrotado esse que irá acumular derrotas sucessivas nos próximos meses? Como pode o próprio Vítor Cruz aceitar tal papel? Quererá este levar ao extremo da letra do seu nome o papel de crucificado do PSD-A? Esta falta de lisura, de honradez, de coragem demonstrada pelo PSD-A é lamentável para o futuro da democracia açoriana. Vítor Cruz tinha que sair, alguém no partido tinha que assumir a liderança, demonstrando-se assim aos eleitores que o partido está vivo, com alternativas e pronto para a oposição e o embate. Mas quem sou eu para falar que até nem sou do PSD e que só estou chateado com o congresso por este ser na Ribeira Grande e eu ser cliente habitual, aos sábados, da deliciosa sopa de carne da Cascata.
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