domingo, janeiro 2

no Cinema

São estes os filmes em destaque, esta semana, no Cine Solmar. A fuga ao DVD caseiro. E a alternativa, possível, às versões dobradas em português dos filmes da saison (obviamente, sem recurso às versões originais).


A suprema inteligência do filme de Jonathan Demme consiste na capacidade para fazer coexistir o imediatismo da intervenção política com uma tremenda intemporalidade da acção: o discurso vazio e sem sentido sobre a Democracia existe paredes meias com o terror contemporâneo, marcado pelo 11 de Setembro e pelas ameaças de uma estratégia globalizante do poder do dinheiro e do tráfico de influências. Em Frankenheimer, a ilógica do argumento correspondia a um delírio onírico provocado. Em "O Candidato da Verdade" existe um "vale tudo" que os anacronismos do sistema justificam. Na personagem do candidato a vice-presidente, Ben, Liev Schreiber exagera os tiques de Laurence Harvey (o intérprete da versão de 1962), acentuando o desconforto e a paranóia, na medida em que parece ainda mais desamparado perante o labirinto de interesses à sua volta. + info aqui.


"De-Lovely", de Irwin Winkler, funciona como uma "revisionista" biografia pós-moderna de Cole Porter. Até o título, aproveitando uma famosa canção do compositor e letrista, "It's de-lovely", aponta para essa revisão da matéria biográfica: como dissemos, a anterior tentativa para romancear a vida de Porter centrava-se numa estrela "impoluta" como Gary Grant (apesar de muitas possíveis ambiguidades da sua vida sexual desveladas, mais tarde, no livro "Hollywood, Babylon") e branqueava as evidências da homossexualidade de Porter. Era um "biopic", em que o embelezamento ("lovely") da vida particular e do amor por Linda, a mulher, excluía quaisquer "manchas". Esta nova visão opta pelo conceito de "desembelezamento ("de-lovely"), mostrando os escolhos do casamento, as chantagens e os amantes ocasionais, sem prescindir de uma colagem das grandes canções à musa inspiradora, no que permanece fiel à lógica clássica: as canções ao serviço da ficção, como motor da acção e dos amores. A menção a "Fantasia Dourada" e o diálogo (qualquer coisa como, se passámos por esta mistificação, escaparemos a qualquer problema) que se lhe refere tem a carga de uma autoreferencialidade distanciadora. + info
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