sexta-feira, junho 4

AINDA A POESIA AÇORIANA...

O CONVERTIDO

Entre os filhos dum século maldito
Tomei também lugar na ímpia mesa,
Onde, sob o folgar, geme a tristeza
Duma ânsia impotente de infinito.

Como os outros, cuspi no altar avito
Um rir feito de fel e de impureza...
Mas, um dia, abalou-se-me a firmeza,
Deu-me rebate o coração contrito !

Erma, cheia de tédio e de quebranto,
Rompendo os diques ao represo pranto,
Virou-se para Deus minha alma triste !

Amortalhei na fé o pensamento,
E achei a paz na inércia e esquecimento....
Só me falta saber se Deus existe !

Antero de Quental
1842 ? 1891
Poeta, Filósofo e também Socialista





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