"[...] As furnas são nossas,
As pipas do vinho velho são nossas,
As carroças do peixinho nossas,
O leite das tetas que ordenhamos,
As pontas com poucos faróis e muitas craca,
Os caminhos seculares mal calçados.
Os chafarizes com um tapete de bosta quente cheiram bem.
Vamos salvar as Ilhas: eu tenho lá ossos de Pai e Mãe.
Sujo seria se não acudisse ao chamado. Rufo ou roqueira, fogueira
acesa aos piratas,
Urro de caldeira arrebentada, qualquer apito de dedos na goela
Serve para a porrada. [...]
Eu agarro uma insónia, além de perder a noite a berrar da ciática,
Mas estes filhos de mamã hão-de pagar tudo o que nos fizerem,
Estes filhos da cerva hão-de afinal entrar na linha,
E levar nas canelas,
Metidos nos porões
( As Moças às janelas),
Os grilhões
Que nos queiram enfiar à socapa nos pulsos duros da canga,
Eles que nos tratam como se andássemos de tanga.
( Até que me passe a zanga)."
Corsários à Vista, Vitorino Nemésio, 31.03.1976
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