quarta-feira, junho 16

EUROPA 0 - ESQUERDA 1



Factos são Factos : Totais Nacionais 44,5 % para o PS e 33,2 % para o PSD-CDS...tendo por referência um valor abaixo da metade dos eleitores inscritos !

Porém, seguindo a melhor doutrina é pacífico que «qualquer que seja o nível da abstenção, há vencedores e vencidos». Quem o disse, do alto da sua mediática cátedra, foi o Professor Marcelo Rebelo de Sousa e, num léxico mais prosaico, ainda disse que estes resultados foram uma monumental banhada para o Governo de Durão Barroso e, porventura, um voto de protesto contra a retoma que já devia ter vindo e não chega, o estrangulamento da função pública nalguns casos governada a toque de caixa por estrelas da banca requisitadas ao sector privado com vencimentos arabescos, o carrossel deprimente de determinados processos judiciais que minam a confiança no Estado de Direito e que demandam reformas urgentes que todos reclamam, uma intervenção reformadora para sanar os virulentos déficits do passado mas que esbarra no pragmatismo do «carpe diem» Lusitano ... tudo isso e mais ainda concorreu para o recrudescimento da esquerda nestas eleições.

Todavia, na ressaca da noite eleitoral a espumante esquerda Portuguesa estava impante e só a toxicidade inebriante do momento justifica o teor de algumas análises absolutamente estapafúrdias. Destaque para a mensagem, martelada «ad nauseam», de que esta clara vitória do PS e dos seus primos à esquerda significava que quem detinha a maioria na Assembleia da República vira amputada a sua base de legitimação popular. Quem o disse foi Ferro Rodrigues na noite eleitoral e literalmente nestes termos: «Hoje várias coisas ficaram claras: por exemplo que quem tem a maioria da Assembleia da República não tem a confiança da maioria do povo Português» !!! Maioria do povo Português ? Onde está expressa essa maioria nos cerca de 40 % de eleitores que foram às urnas ? É com menos de metade do eleitorado que se cimenta a legitimação popular da «maioria do povo Português» ? Obviamente que não e a esquerda Portuguesa bem o sabe ! Aliás, é esta mesma esquerda Portuguesa, do PS ao POUS, que sempre que pode pretende inquinar os resultados dos últimos referendos Nacionais alegando que estes padecem do vício da escassa participação eleitoral, abaixo do limiar aceitável de votantes, com a consequente falta de legitimação popular dos resultados eleitorais.

Mais à esquerda o BE, na Caixa Económica Operária, não se continha e Miguel Portas ordenava : «Abra-se champanhe se houver champanhe» ! Enfim, a tradição já não é o que era e até a esquerda lupanar e trotskista já se banha em luxos burgueses ! Esquecendo o folclorização a que o BE já nos habituou retive do essencial que o BE, numa «cidadania activa», não fecha as portas a uma possível coligação com o PS ( o que não seria de todo contra-natura ) e com veemência quis passar a mensagem panfletária de que a «moção de censura» emergente dos resultados eleitorais era também um castigo pela presença portuguesa na guerra do Iraque. Pura demagogia em prime-time para deleite dos canais nacionais. Efectivamente, esta análise dos resultados não se percebe porquanto, por um lado, a vitória da esquerda agora a caminho do Parlamento Europeu não importa o regresso das forças militares Portuguesas e, por outro lado, não se compagina com o facto de aqueles que sempre se opuseram à intervenção «imperialista» terem, apesar dessa bandeira, sofrido uma hecatombe eleitoral. Entre eles destacam-se Schroeder e Chirac. Até o prazenteiro Zapatero enfrentou uma recuperação revanchista do Partido Popular ! Daqui só se pode concluir que meter o Iraque no boletim de voto Europeu é uma obscena desonestidade intelectual.

Mas factos são factos e penso que todos aceitamos que a máxima « One man , One vote » repõe a verdade de que por um voto se ganha e por um voto se perde...e desta feita o PSD pode ter a certeza de que perdeu muitos votos, designadamente, no centro-esquerda e no centro direita. Todavia, esta derrota não significa que a direita está desvalida e à beira da ruína.

Além da visão caseira importa aceitar que a maior derrota destas Eleições foi a da Europa ! Factos são Factos e as eleições Europeias, em bom rigor para o Parlamento Europeu, foram varridas por uma onda abstencionista que teve o seu surpreendente pico nos novos membros do Clube Europeu. Paradoxalmente quanto mais poderes tem o Parlamento Europeu menos os cidadãos da Europa votam.

A fechar uma nota para o miserabilismo da cobertura televisiva, com destaque para a TVI que colocou num palanque um diletante Miguel Sousa Tavares entremeado pelos ataques de escárnio de uma Constança Cunha e Sá , super-tia do audiovisual, desta feita acometida de uma jocosidade de hiena para a qual não havia pachorra...dei por mim agarrado a RTP-A com comentadores bem mais interessantes !

Finalmente, mas não menos relevante, permanecerá na memória de muitos a lição de empenho democrático, de respeito pelos outros e de entrega à vida protagonizada por Matilde Sousa Franco que, apesar do luto, mostrou que nem a morte desculpa o abstencionismo.

( post-scriptum : não ando distraído e prometo voltar à carga com o 6 de Junho ... eu não queria , mas factos são factos e alguns importa esclarecer )

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