terça-feira, abril 11
tomar partido
Vejamos. Não creio que defender o sistema partidário e almejar por políticos melhores seja uma contradição. Pode ser uma dupla quimera, mas no fundo é uma luta convergente. O que se pretende ao ter melhores políticos é, por maioria de razão, ter melhores partidos. Não há um sem o outro. A minha preocupação com a deriva anti-partidária nacional prende-se com o meu medo das maiorias, pior, das maiorias com líder. A história está cheia de exemplos do perigo dos iluminados. (Para quem gosta de séries vejam a fantástica Rome que têm passado na 2 e que vai estar à venda em DVD.) O poder, ainda por cima legitimado pelo voto popular, colocado nas mãos de uma pessoa é um perigo tremendo. É, também, a antítese do pluralismo. A nossa vontade colectiva de um líder salvador só é comparável à nossa necessidade de acreditar num Deus redentor, mas este sebastianismo é altamente pernicioso. Um homem, ou uma mulher, não pode nunca ser representativo de toda uma sociedade. Num estado de direito democrático os partidos políticos são uma forma de expressão do pluralismo. Devidamente estruturados, carregando um ideário politico, um programa e, mais importante, uma carga ideológica, os diversos partidos são, perante a sociedade, a expressão de diferentes visões da governação. Apresentam-se a eleições, ganham, perdem, governam, vão novamente a eleições e são avaliados pelos cidadãos. Representam a sociedade no seu todo. É claro que os partidos são feitos por pessoas e têm, por isso, defeitos. No caso português é também verdade que os maiores e piores casos de populismo individual têm nascido nos e dos partidos, mas o problema aí é das pessoas e não dos partidos per si. Aliás no nosso país em trinta anos de democracia temos assistido, exceptuando o caso de Alberto João Jardim que apenas confirma a regra, a um esforço dos partidos em controlar as derivas populistas internas. As lutas pela liderança são uma forma de auto regulação interna dos partidos e obrigam o líder a uma responsabilização para com os órgãos do partido. O discurso anti partidos, a que temos assistido, em que se acusa os partidos de serem uma corja de malfeitores culpados dos maiores males, perverte a própria democracia. Primeiro porque não apresenta uma alternativa plural e, mais grave, porque pretende sugerir que a alternativa são os próprios detentores desse discurso, numa visão personalista e populista da governação. Esforçarmo-nos por políticos melhores é esforçarmo-nos por partidos melhores e, na minha perspectiva, por uma democracia melhor. Mas e antes que me comecem a atirar pedras não pretendo com isto dizer que a democracia se esgota nos partidos, longe disso. Acredito e defendo todo o tipo de associações cívicas e qualquer forma de participação dos cidadãos na sociedade e na vida pública. Oxalá houvesse mais pessoas empenhadas em contribuir, seja de que forma for, mais para o bem público do que para a satisfação pessoal.
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