segunda-feira, abril 10

anti-partidarismo

O estudo pós-eleitoral feito para o Instituto de Ciências Sociais pela Universidade Católica apresentado na edição de hoje do Público e as análises de André Freire e Pedro Magalhães que o acompanham são peças interessantíssimas para a compreensão do actual estado da política portuguesa. Para além de outras conclusões, como a separação ideológica, ou a importância do "centrão", ou, espantoso, a principal razão para a abstenção ser o "estar farto da politica e das eleições", um dado é para mim fulcral: o poder que a mensagem anti-partidos tem neste momento em Portugal. Os candidatos mais votados e que de facto maiores simpatias colheram no eleitorado foram os que mais se afastaram do estigma partidário e, consequentemente, todos os candidatos mais fortemente penalizados foram aqueles cujas campanhas se amparavam mais nos respectivos partidos apoiantes. Este olhar desconfiado com que o país olha para os partidos, que já nas autárquicas tinha sido visível, com os candidatos que transmitiram uma mensagem contra as lógicas partidárias a ganharem em toda a linha, levanta muitas questões importantes e, a meu ver, alguns problemas sérios. Ao fim de trinta anos de democracia é consensual que o sistema precisa de uma reforma, mas será que são os partidos os verdadeiros cancros do sistema? O problema é que sem partidos que tipo de democracia teremos? Bem ou mal, mais ou menos obscuros, a realidade é que os partidos têm mecanismos internos de auto controlo. E formas de legitimação e de escrutínio pela sociedade. Descredibilizar a actividade partidária é uma das mais perigosas formas de demagogia. A fulanização do regime, em que desde a Junta de Freguesia até ao Presidente da República votamos apenas pela cara do candidato, pode levar o país ao pior dos populismos, à pior das tiranias.

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