quinta-feira, abril 27
CHERNOBYL...
Retomando o post anterior sobre uma radiante motard Ucraniana é tempo de encerrarmos esta mini-série (em II curtos capítulos) sobre Chernobyl e Elena Filatova.
Quanto a Chernobyl nunca é demais assinalar a data pois o esquecimento cedo se abate sobre as tragédias e os acidentes. Mas há quem diga que a premonição da tragédia de proporções bíblicas vinha já anunciada no Livro. Com efeito, Chernobyl em Ucraniano deriva da palavra artemisia, sendo que a variedade artemisia absinthium é comum na Ucrânia e a sua evocação no Livro da Revelação, mais concretamente no Apocalipse de São João, não deixa de arrepiar pelo paralelismo com o actual cenário pós apocalíptico de Chernobyl. Refere o citado livro do Novo Testamento que pela mão de um anjo maligno cairá sobre a terra uma enorme estrela, ardendo como um sol, e a estrela mergulhará nos rios e nas nascentes...e o nome da estrela é artemisia(absinto). Logo, conclui a profecia, literalmente, que as águas tornar-se-ão amargas como absinto, e os homens perecerão ao beber daquela água, porque a água nas nascentes será venenosamente amarga. Claro está que tal premonição tem o valor que tem, mas para os Ucranianos este humor negro de raiz bíblica tem o valor de uma desgraça há muito profetizada e concretizada.
Porém, a previsibilidade da catástrofe não deveria ter sido lida nas entranhas de um texto bíblico com assombrações tenebrosas, mas sim na eminente derrocada de um regime comunista cuja tecnologia de ponta era cada vez mais uma arma de propaganda. Como se sabe o Nuclear foi para os sovietes uma demonstração de musculatura no ringue da guerra-fria, e o uso indiscriminado das proletárias virtudes da energia atómica não se entrosava, como se viu, com um País depauperado e com legiões de miseráveis. Na União Soviética, ao contrário do que os camaradas da Internacional queriam impingir, a negligência era uma metodologia e a corrupção uma moeda que fazia circular uma economia paralela que contornava o desvalorizado rublo. Não havia qualquer cultura de cidadania, de segurança, ou sequer de consciência ambiental. Cada um fazia por sobreviver quotidianamente ludibriando como podia os tiranetes de bairro que vigiavam tudo e todos em nome do Partido.
Claro está que, mesmo depois de Chernobyl ter exposto esta realidade, ainda abundam por aí espécies bípedes que de modo néscio, o que é desculpável, ou até mesmo dolosamente, o que já não tem perdão, negue tais realidades. Mas, ao contrário de outras monstruosidades, para o negacionismo dos crimes cometidos em nome do Comunismo e da União Soviética nunca calhou a moda penalística de tipificar tais condutas oligofrénicas como crimes!
Por tudo isto e por tantas outras razões o site de Elena Filatova tem também o mérito de arquivar, para mais tarde recordar, as fotos de Chernobyl, mas também do Gulag e dos campos de extermínio comunistas desviados da nossa vista para os confins da Sibéria. Do passado ainda mais distante o site também guarda fotos da II Guerra Mundial. Quanto ao passado recente fica a memória fotográfica da esperança que para aquela gente representou a Revolução Laranja.
Toda esta informação livre e independente justifica que o site de Elena Filatova tenha já ultrapassado os 15 milhões de hits e continue a somar visitas para quem busca compreender a vastidão da catástrofe de Chernobyl. Com efeito trata-se de tema actualíssimo já que os efeitos de longa duração da radiação libertada na explosão do reactor número quatro não pararam em 26 de Abril de 1986. Na verdade, hoje em toda a zona atingida pela nuvem radioactiva aumentam os casos de cancro, especialmente da tiróide, e entre a nova geração de ucranianos é elevada a malformação cardíaca congénita que mereceu o nome clínico de coração de Chernobyl! Mas, o pior ainda pode estar para vir com a instabilidade do reactor sepultado sobre o «Sarcófago» e com a actual laboração dos restantes reactores 1 e 2 de Chernobyl.
Se algo de positivo há a retirar deste pusilânime episódio da humanidade dúvidas não tenho que será o ter contribuído para o descalabro do comunismo e da União Soviética. Recordo, como se fosse hoje, que as imagens e notícias da época só relataram o desastre alguns dias depois do mesmo ocorrer. Retenho impressivamente o rosto de Gorbatchov anunciando ao Mundo o acidente, e nesse dia tive a certeza que, sem o saber, Mikhail Sergeyevich Gorbachev anunciava também, urbi et orbi, o fim da União Soviética. Contudo o Mundo continua a ser um lugar perigoso...que o diga a Elena Filatova que por ter sobrevivido a tudo isto pouca mossa lhe faz ter por desporto radical acelerar perigosamente pelas estradas de Chernobyl.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
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