segunda-feira, abril 3

Ponta Delgada está na moda

...
Apesar das respeitáveis 460 primaveras Ponta Delgada está cada vez mais na moda. Assim é, desde logo, porque não se deixou prostrar à adoração nobiliárquica do alvará régio de D. João III que, em 2 de Abril de 1546, elevou este burgo em que vivemos à categoria de cidade. Com efeito, a sua laboriosa população cedo meteu mãos à obra colocando a cidade de Ponta Delgada na linha da frente do "top ten" das cidades de Portugal. Ao contrário de outras cidades, Ponta Delgada não se deixou cair no torpor de uma entropia colectiva, que para outras latitudes se convencionou chamar de depressão colectiva. Na verdade, Ponta Delgada jamais teria vagar para se deixar deprimir pois, desde a sua fundação, anda há 460 anos absorta com o seu progresso, com a sua dinâmica empresarial, com a sua acção política e com as suas actividades culturais.

Mas, esta dinâmica de que hoje somos herdeiros tem um notável legado no Sec. XIX, pois é nesses memoráveis idos de oitocentos que encontramos a gesta que remonta aos "Bravos do Mindelo" que daqui partiram em 1832, foi também no ano seguinte de 1833 que os nossos antepassados tiveram a ousadia de declarar a independência da ilha (!), foi também aqui que em 1835 foi publicado o 1º número do Açoriano Oriental, o mais antigo Jornal Português, e foi também nesta cidade que nasceu Antero de Quental, e uma prole de visionários que soube arriscar o seu investimento nos Açores e outros tantos que ajudaram a construir o manifesto da nossa Autonomia. Importa pois olhar para este embasamento da modernidade micaelense, honrando-o no presente com a ambição futura de ir sempre mais longe.
Mas se é hoje pacífico que Ponta Delgada está na "pole position" dos desafios do futuro não é menos verdade que o grande desafio é continuar em primeiro lugar. Na viragem do Século XXI este desafio foi liderado por Berta Cabral que não se limitou a gerir a conta corrente do passado, mas também ousou investir no futuro, apesar do recrudescimento da política do garrote que o Estado teima em impor ao poder local. Porém, como habitualmente usa dizer Berta Cabral, para novos problemas novas soluções, e numa época de constrangimento financeiro do poder local a Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada avança para parcerias público privadas que têm o mérito de servirem de alavanca à dinâmica empresarial de que a cidade necessita. No resto, não valerá a pena desperdiçar os caracteres a que tenho direito nesta página com o rol de obras feitas pela actual equipa de Berta Cabral, pois elas, desde a rede de Mini Bus até à recuperação do Coliseu, estão já integradas no quotidiano desta cidade e dos munícipes. Contudo, sempre haverá quem desmereça tais feitos, nem que seja em louvor dos costumeiros paladinos do bota-abaixo que por ora andam entretidos com os candeeiros da matriz e outras minudências, enquanto não vislumbrarem outro motivo de escárnio que apelidam de oposição

Ao invés, prefiro aproveitar o tempo do leitor que teve a indulgência de aqui chegar para lhe lembrar que se mais não se faz em Ponta Delgada é por obra e graça das costumeiras "forças de bloqueio". E nisto não há qualquer demagogia quando nos lembramos, por exemplo, da emblemática candidatura da Polícia Municipal. Este caso ilustra bem o "bloqueio" da tutela da Administração Central do Governo da República pois, apesar da candidatura do Município de Ponta Delgada ter merecido aprovação técnica, continua pendente da luz verde do Conselho de Ministros. Depois de percorrido um árduo caminho que se destinava a avaliar o crivo técnico da nossa candidatura, a mesma depois de tecnicamente aprovada, "bloqueou" nos corredores do Terreiro do Paço e teima em de lá sair com destino ao Conselho de Ministros.
Outros exemplos do "modus operandi" da engenharia do "bloqueio" caberiam aqui nesta crónica, mas resta-nos a esperança de que esses outros enguiços que por aí andam embargados se resolvam com elementar justiça e bom senso. Ao invés, no fim, quem fica a perder é a cidade, sem que se enxergue qual a mais valia que as ditas "forças de bloqueio" têm para oferecer a Ponta Delgada.
...
JNAS na Edição de 4 de Abril do Jornal dos Açores
...

Sem comentários: