sexta-feira, abril 28

segundas impressões

Primeiro deixem-me fazer um ponto prévio - o meu único ódio de estimação na política é o Cavaco. É um trauma de adolescência contra o qual não consigo fazer nada. Portanto já sabem que tudo o que eu disser sobre o nosso Presidente padece desse preconceito. Digo isto para esclarecer que as minhas criticas à actuação do Governo Regional ou de um certo e determinado executivo autárquico são apenas isso, criticas à actuação. Mais, na minha modesta perspectiva uma critica não é necessariamente um insulto, nem uma ofensa, nem tem que estar carregada de negativismo. A crítica é uma forma de exigência. Se se critica uma coisa é por que se pretende que essa coisa melhore. Quando aqui deixei um lamento por o Presidente do Governo Regional ter limitado, numa conferência de imprensa sobre cultura, o seu discurso a despejar milhões de euros sobre imóveis degradados e com nomes esdrúxulos foi porque me pareceu que em matéria de cultura isso é manifestamente pouco. Aqui perdoem-me os meus amigos jornalistas, mas se Carlos César anuncia a criação de um Centro Regional de Expressões Contemporâneas e nenhum jornalista o questiona sobre o que é que isso é exactamente isso é, desculpem mais uma vez, incompetência. E este é que é o ponto principal da minha critica à actuação do Presidente e do seu Director Regional. Não me parece aceitável que se anuncie um investimento desta importância sem ao mesmo tempo descrever, nem que seja sucintamente, o que se pretende desse investimento. Eu sou um defensor da criação nos Açores de um museu de arte contemporânea e é por isso que preciso que me expliquem que tipo de instituição vai ser esta. O mesmo para a Casa Armando Cortes Rodrigues ou Morada da Escrita ou lá como se chama. É que o pouco que foi dito levanta uma série de questões importantes. Se o dito Centro de Expressões Contemporâneas é "um novo espaço expositivo de arte que ficará sob a tutela do Museu Carlos Machado" então é pouco. É importante, criar um edifício para colocar em condições condignas a colecção de arte pertencente à Região que actualmente está dispersa por museus e secretarias, é um investimento importante mas não chega. Mais importante ainda seria dar orientações e orçamento para que esta instituição tenha uma politica activa na criação de uma verdadeira colecção de arte contemporânea com sede nos açores, e não regional, e nesse sentido torna-se extremamente importante saber quem vai ser a pessoa responsável pela gestão desta instituição. Manter a tutela na orbita do Museu Carlos Machado parece-me a mim um erro, aliás dos outros investimentos anunciados (Museu de Arte Sacra e Recolhimento de Santa Barbara) mantê-los todos sob a tutela do Museu é um erro, quanto mais não seja pela sua deslocalização geográfica. A questão da localização é também extremamente importante, se por um lado me parece interessante a descentralização cultural, por outro todos sabemos, pelo menos as pessoas ligadas à cultura e aos fenómenos artísticos da contemporaneidade que quanto mais longe se está dos centros urbanos mais difícil se torna atrair públicos. É por isso que estas instituições têm que ter orçamentos e programas de actividade bastante amplos e ambiciosos. Mais uma razão para que em paralelo com o investimento na recuperação do património se estivesse já a fazer um estudo sobre o programa a desenvolver por estas instituições. Tudo isto são perplexidades, algumas de muitas, que eu gostaria de ver esclarecidas, de preferência pelos responsáveis, mas se estes não quiserem então que seja pelos jornais. Um passo no sentido de haver melhores políticos seria estes disponibilizarem-se para explicar abertamente aos cidadãos o alcance e a pertinência das suas medidas. 5,4 Milhões de euros para recuperar a casa Armando Cortes Rodrigues, sim senhor, muito bem, sou só aplausos, mas o que é que essa casa vai ser no futuro é que a mim me interessa realmente saber.

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