quinta-feira, maio 5

O que é ser um Pensador Açoriano?

"Pensador Açoriano é quem vive nos Açores? Quem vive noutro lado, mas é Açoriano? Quem é "amigo dos Açores"? Afinal de contas, o que é ser um Pensador Açoriano?"


A Mariana levanta a pergunta. Eu respondo pelo princípio, não o Verbo mas, a palavra. Diz-me o meu velhinho Cândido de Figueiredo que Pensador é aquele que pensa. O que faz profundas observações; filósofo. O impecavelmente novo e acabado de adquirir no ano passado, numa edição do Circulo de Leitores, Houaiss confirma, por seu lado, que Pensador é 1 que ou aquele que pensa, reflecte 2 que ou aquele que estuda e faz reflexões; filósofo. A segunda premissa da questão está no Açoriano. Ao que ambos respondem: o que é natural ou relativo aos Açores. Pelo que se conclui que Pensador Açoriano é um filósofo natural ou relativo aos Açores, ou seja: Anthero Tarquinio de Quental, o único verdadeiro filósofo na história dos Açores. Se bem que Anthero muito pouco, ou quase nada, tenha reflectido sobre o seu local de nascimento e de morte. Mas abrindo um pouco o espectro e considerando que pensador é aquele que pensa então uma lista extensíssima de nomes emerge desde o escuro da história começando em Gaspar Fructuoso e acabando... nunca mais acabando. Vista por este prisma a pergunta é interessantíssima e reveladora que tu, Mariana, és uma pensadora ao que acresce, como sabemos, o seres açoriana, mas o apontar de dedo no fim levanta outras questões que têm mais a ver com o Choque de Gerações e com a condição de ser açoriano. O meu lado pessimista leva-me a pensar que o que queres salientar é a questão da naturalidade dos comentadores do último programa do Choque de Gerações, a sua condição de não açorianos. O meu lado optimista quer acreditar que esse é um pormenor sem importância quando o que se pretende é levantar perguntas e reflectir sobre aspectos da nossa condição, tanto nos Açores, como no resto do mundo. Pensar é formular perguntas, é querer obter respostas. Ser açoriano é uma fatalidade ou uma escolha conforme o estado de espírito. Pensar os Açores é algo que está aberto a quem o quiser fazer, sem impedimentos de origem metidos pelo meio. Quando Tabucchi, ou Romana Petri, escrevem sobre os Açores estão também a pensar os Açores. Serão Pensadores Açorianos? Porque não, se estão a pensar os Açores? Será que eu, que nasci em Lisboa e escolhi viver nos Açores, quando penso, ou escrevo, ou comento, questões relacionadas com os Açores sou mais ou menos açoriano do que o foi António Tabucchi em Mulheres de Porto Pim, ou do que Nemésio em Mau Tempo No Canal, por exemplo (salvaguardando-se, obviamente, a devida diferença em qualidade literária)? Eu não sou provedor do Choque de Gerações e posso até concordar com um certo ridículo da expressão, mas este sugestionar de condição que está insinuado na tua pergunta perturba-me, principalmente porque considero que as pessoas que participam no programa apesar de nenhuma delas se considerar um pensador açoriano, ou sequer o pretender ser, são, independentemente do local de nascimento, pessoas interessadas em reflectir sobre múltiplos aspectos da vida alguns deles relacionados com os Açores. Isso devia ser o suficiente, até porque enquanto não descobrirmos todos os mistérios da vida e da morte ser-se açoriano é um acaso, ou uma escolha.
"Mas todos nós somos pensadores. Todos nós queremos saber porquê. O ser humano é o animal que pergunta."
Daniel J. Boorstin

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