terça-feira, maio 17

MEZINHAS AUTONOMISTAS E MODAS DE ULTRAMAR

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O «Jornal dos Açores» agendou o seu nascimento em data coincidente com o Dia dos Açores e dos Açorianos. Esta premeditação não poderia ser mais oportuna, deixando antever a ambição de que este diário seja não só editado nos Açores mas, que o seja por Açorianos ! Empresa esta que, nos dias de hoje, é não só um desafio editorial mas também um risco comercial.

Porém, este é um risco que nos convida ao desafio, especialmente, quando vivemos circundados por um mar de lamúrias que nos assola recorrentemente, e numa região na qual todos os dias dão à praia novos conformistas profissionais.

Entre estes também os há de cúria institucional que, incensados com o perfume do Império perdido, aqui regressam para em estilo paroquiano decretar a extrema-unção da Autonomia?que agora se diz esgotada ! Por muito que nos custe esta ladainha, que teima ancorar os Açores a uma rendição perante as nossas ambições, o certo é que nestas vozes existem verdades que não deixam de estar em contacto com a realidade da nossa Região Autónoma.

Uma destas realidades incontornáveis, quando não se faz uso das ferramentas Constitucionais ao dispor nos estaleiros dos obreiros da Autonomia de cooperação, é que por vezes o timbre das reivindicações do «aprofundamento da Autonomia» soa a peroração de falsete. Como se tal inércia não fosse suficiente para alimentar a argamassa de desalento que parece existir sempre que se fala de Autonomia ao comum dos Açorianos, ainda se vai mais longe, alimentando essa desinteligência emocional, quando se faz da Assembleia Regional mera caixa de ressonância da agenda política Nacional. Infeliz episódio paradigmático dessa falta de audácia, e de verdadeira autonomia pensante em relação ao que vem de fora, é o actual alinhamento do grupo parlamentar do Partido Socialista na Assembleia Legislativa Regional na mais recente moda nacional : a limitação dos mandatos !

No entanto, para os Açorianos este tema e outras minudências são questões acessórias que apenas servem para nos distrair do essencial. E o essencial é que a Autonomia não se concretizará enquanto os Açores não forem uma realidade quotidiana, mas uma efeméride que se assinala numa data sob o signo do Divino Espírito Santo, cujos predicados são também os da União ! De facto, a Autonomia não se realizará enquanto os Açores permanecerem um mistério para os Açorianos. Esse mistério ainda persistirá enquanto para um Micaelense a Graciosa ou as Flores constituírem um destino mais exótico e dispendioso do que umas férias em família no Algarve ou nas Canárias ! O mistério tenderá a manter-se enquanto for impossível, ou constituir uma obscura extravagância, ler-se o «Diário Insular» numa mesa do Café Royal em Ponta Delgada ou, ao invés, constituir uma bizarra ousadia folhear--se o «Jornal dos Açores» numa qualquer pastelaria de Angra do Heroísmo. O mistério jamais dará lugar ao desassombro enquanto «unir» estas ilhas e estes ilhéus um decrépito serviço de Navegação que, apesar de ostentar o pomposo nome de «Açorline», é apenas uma linha deficitária com uma «frota» subsidiada pelo Governo, e que em nada nos dignifica nem honra a nossa vocação marítima !

São nestas pequenas pechas quotidianas que nos apercebemos que de nada vale uma Autonomia, reivindicativa ou cooperativa, se por cá a Autonomia mais parece uma profissão de fé do que uma realidade quotidiana dos Açorianos. Na concretização dessa realidade é necessário redescobrir um ânimo e uma esperança nos Açores, cujo eixo nunca poderá ser uma Assembleia Legislativa Regional acomodada a regurgitar as novidades de Lisboa a que se juntam umas mezinhas Autonomistas e modas de Ultramar que não têm aproximado os Açores dos Açorianos.

João Nuno Almeida e Sousa / www.ilhas.blogspot.com

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a partir de hoje, e sempre à Terça Feira, participo com uma crónica semanal no novo Jornal dos Açores...até eu querer ou até os critérios editoriais assim o entenderem. Seja como for, deixarei por aqui réplica do «artigo de opinião» para o habitual contraditório dos comments !

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