Os locais onde se vão assentar as primeiras povoações vão depender sempre e em todas as ilhas da existência de enseadas onde os barcos possam ancorar com segurança e que tenham fácil acesso a terra. Angra é o paradigma pela sua magnifica baia e baseará o seu desenvolvimento nessa característica natural tornando-se, por isso, cidade logo em 1534, Ponta Delgada só o seria 13 anos mais tarde em 1546. Desde o início que as principais actividades dos habitantes das ilhas serão a agricultura e a pecuária. Os solos férteis potenciam as culturas, primeiro trigo que dada a escassez a que se assiste no continente e nas praças africanas cedo se assume como a principal exportação local. Seguir-se-ão outras culturas que em ciclos de apogeu e declínio vão marcar a história do arquipélago. O pastel, a vinha, a cana-de-açúcar, as árvores de fruto de entre as quais a laranja será a mais marcante, depois o chá, o tabaco, o ananás e hoje a "vaca". Apesar da riqueza dos solos e das chuvas abundantes a severidade climática irá ditar grandes oscilações económicas nestas culturas ao que se associa uma incapacidade de competir com outros mercados produtores. Ao contrário da Madeira, por exemplo, que potenciará ao máximo a indústria da cana-de-açúcar os Açores nunca encontraram um pólo fixo que suportasse o seu desenvolvimento económico estando à mercê da imprevisibilidade dos elementos e dos ciclos económicos. Sendo certo que existem casos de relativo sucesso, tornados possíveis pelo engenho e criatividade nas soluções adoptadas para proteger as culturas de que são exemplos a vinha do Pico com os seus currais de pedra e os pomares de laranja de São Miguel protegidos dos ventos por abrigos altos de sebes vivas, a verdade é que em face de doenças, ou pragas, ou intempéries mais fortes as culturas são abandonadas. Num relance pela história dos Açores o que se constata é que apesar destas ilhas terem na actividade agrícola a base do seu sustento o facto é que nunca conseguiram ao longo do tempo conquistar níveis de riqueza e de desenvolvimento comparáveis com outras regiões. O rigor do clima e as catástrofes naturais são explicações plausíveis para esta realidade. É preciso ter em conta que nos últimos cinco séculos estão documentadas cerca de vinte e oito erupções vulcânicas, tanto no mar como em terra, que tiveram obviamente o seu peso no desenvolvimento da região. A isto temos de acrescentar os fenómenos sísmicos que ainda hoje causticam violentamente a vida nas ilhas. Os Açores foram ao longo da sua história uma terra em luta permanente com a natureza e essa luta tem necessariamente os seus reflexos no desenvolvimento da região e do seu povo. A população dos Açores contou sempre com oscilações e desde muito cedo a emigração fará parte da realidade insular. Por outro lado a adopção, logo após o povoamento, dos modelos administrativos hierarquizantes do reino, na figura dos capitães-donatários iria criar um sistema de morgadios que se perpetuaram nas ilhas até bem perto do final do século XIX, se não mesmo pelo século XX adentro, sendo que a consequência desta estrutura tutelar de organização da comunidade é uma desigualdade social profunda e perene, que ainda mais contribui para a pobreza económica da região. Na história dos Açores o elemento mais significativo é a sua posição geográfica. Desde os idos de quinhentos, em que os Açores eram plataforma atlântica tanto para navegadores como corsários, até aos nossos dias, em que os Açores são ainda preposição oceânica entre dois continentes, a localização foi a determinante principal dos acontecimentos. Os Açores foram sempre um entreposto atlântico entre Europa e Africa de um lado e as Américas do outro. Porém essa determinante geográfica é para a história dos Açores mais um motivo de cobiça e de aproveitamento por parte de outros do que propriamente uma plataforma de enriquecimento e desenvolvimento dos seus habitantes. Todas as riquezas que directa ou indirectamente estiveram ligadas à posição geografia dos Açores no mundo tiveram impactos quase tão fugazes como as dos ciclos económicos das culturas agrícolas. A estrutura social foi sempre contrária ao aproveitamento e multiplicar dessas riquezas. Tanto na época áurea das navegações, como na época do comércio com o norte da Europa, em que apenas uma diminuta parte da população tirava proveito dessa riqueza e, muitas das vezes, eram os consulos estrangeiros os beneficiários da mesma. Outro elemento que importa realçar na história do arquipélago é a sua relação ambivalente com o mar. O mar era porta de entrada e de saída mas ao mesmo tempo lugar de corso e pirataria até bem dentro do século XVIII. Veja-se o exemplo da actividade piscatória que nas ilhas sempre teve uma expressão diminuta e localizada, mesmo a actividade baleeira que tem o seu apogeu no virar do século XVIII para o XIX não conseguiu levantar as ilhas do leito de desconfiança com relação ao oceano. O mar será sempre para os Açores horizonte e prisão.
Nota: Mais uma vez, aqui fica um retrato impressivo e, necessariamente, sucinto dos traços mais marcantes do evoluir dos Açores no tempo e na história. Com estes dados podemos seguir para a caracterização do povo, as suas tradições, costumes, a identidade insular. Matéria para próximos posts. Chamada de atenção ainda para outros posts do Guilherme e da Mariana.
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