É dizerem-me com dever de ser cidadão do mundo, dizerem-me português e saber que não sou, que me sabe a pouco, que sou mais.
Não aceito que me digam que sou filho de todos os pais e pai de qualquer filho pois só o sou sendo filho dos meus pais e pai dos meus filhos e assim sendo, então serei filho de qualquer pai e pai de todos os filhos.
É dizerem-me que eu poderia ter conhecido os meus avós em qualquer sito para onde um avião me levasse, mas eu saber que foi aqui.
É dizerem-me que todas as praias brancas são de areia preta, mas foi nestas que eu queimei os pés.
É dizerem-me que o bolo lêvedo, não deixou memória, nem a morcela, e dizerem-me que a memória não é a diferença de ser aqui, neste verde, neste cinza, neste azul, o que poderia ser noutro sítio qualquer e eu saber que a memória queima e que a cicatriz é construção que dói e fica.
É o ser eu e não ser outro qualquer igual a mim próprio. É ter rosto de cão e rabo torto e em Rabo de Peixe ser filhe de putcha du caralhe da pintcha de tue mã.
É ser eu e ilhéu em Nova York, ou na Ponta da Ferraria, é ver da Calheta de S. Jorge o Pico do mundo e não a torre Eiffel.
É quando cheio do tudo e despido da ilha me sentir vazio do mundo e cheio da falta desta relação entre a pedra e o mar.
Enfim, é ser quem eu sou e escolher ser daqui mesmo quando sou, ou posso ser, noutro sitio qualquer.
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