Se fosse só pelo futebol, nem publicava este post. Mas o Benfica consegue ser mais do que isso, é uma família a que me orgulho de pertencer desde menino e moço. Desde que o meu pai, sportinguista da geração dos cinco violinos, me levava de eléctrico até ao velho José de Alvalade para assistir a jogos contra equipas que hoje já desapareceram do mapa, engolidas no pântano dos Distritais, como o Atlético da Tapadinha, ou a Sanjoanense, por exemplo.
Sou do contra, bem entendido, mas houve outros factores que me empurraram para o Benfica: o mais decisivo, sem qualquer margem de dúvida, chamava-se Eusébio e o seu marisco preferido era o tremoço. Além disso, há muito, muito tempo atrás, quando começaram a chegar ao nosso campeonato as vedetas estrangeiras, o Teófilo Cubillas, que era peruano e jogou no Porto, ou o Hector Yazalde, que veio das pampas argentinas para o Sporting, o Benfica fazia gala em só ter jogadores portugueses.
Não me tenho na conta de lampião, no sentido taxista do termo, nem fui mais de cinco vezes bem contadas ao Estádio da Luz em toda a minha vida, mas sou um benfiquista sadio cuja têmpera se enrijeceu nestes anos de jejum. É nas travessias do deserto que se avalia o nervo de um clube. O meu Benfica da América, os Boston Red Sox, esteve oitenta e sete anos sem ganhar qualquer título, mas até por isso os seus adeptos têm uma mística inigualável nos USA e foi um consolo estar em Boston quando aí se festejou a conquista da World Series em 2004.
Ao contrário da Red Sox Nation, cujas fronteiras coincidem praticamente com a área da Nova Inglaterra, a nação benfiquista extravasa para fora de Lisboa e do próprio país. Hoje à noite houve festa um pouco por todo o lado, de Díli a São Paulo, passando por Luanda e pelo Mindelo, isto para não falar de outras geografias mais óbvias e das diversas colmeias urbanas formadas pela diáspora portuguesa.
Diz-se, do Benfica, que é Portugal. Nada disso, é do tamanho da língua portuguesa. Talvez seja essa a razão do meu benfiquismo. Não é preciso sair de casa. Ou por outra, não importa em que rua, está-se sempre em casa.
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