A semanada de excitações e reflexões, acondicionada entre aspas, para guardar e, de vez em quando, revisitar na persistência da memória.
«Zeca Medeiros acertou outra vez. Absorveu o luar, aprisionou os seus actores nos anos sessenta e no primeiro de Maio de 1975, cercou tudo de criptomérias e, apesar disso, construiu o que vai ser o acontecimento cultural mais importante do ano nos Açores, pela criatividade, pelo inovador da interacção que chega a intimidar o espectador menos esquerdista, pela luz, pela música, e também pelo diálogo, pese embora o preconceito anti direita subjacente e talvez já desnecessário».
Carlos Melo Bento, quarta-feira 2 de Março no Açoriano Oriental.
«O PSD perdeu as eleições, mas ocupa o seu lugar de partido de alternativa política. Hoje não faz oposição, porque iniciou um processo de designação de novo líder. Amanhã, retomará o lugar para o qual o eleitorado o remeteu, com uma carta de recomendação: nova atitude e nova liderança. A maioria socialista não é eterna».
Pedro Gomes, quarta-feira 2 de Março no Açoriano Oriental.
«Algumas raparigas ainda parecem pensar que a sua única função no Universo consiste em desempenhar os papéis de esposas devotadas, seres paranoicamente ocupados com a limpeza do pó e mães tão excelsas quanto a Virgem Maria. De certa forma, o destino das raparigas na casa dos trinta ou quarenta anos corre o risco de ser pior do que o meu. Quando casei, o que de mim se esperava, além da procriação continuada, era que passasse o dia a arrumar a casa, a cozinhar pratos requintados e a vigiar a despensa. Hoje, a estas tarefas vieram juntar-se outras. As mulheres modernas são também supostas ser boas na cama, profissionais competentes e estrelas nos salões. Mas isto é uma utopia. Nem a mais super das supermulheres pode levar as crianças à escola, atender os clientes no escritório, ir à hora do almoço ao cabeleireiro, voltar ao escritório onde a espera sempre um problema urgente, fazer compras num destes modernos supermercados decorados a néon, ler umas páginas de Kant antes de mudar as fraldas do pimpolho, dar um retoque na maquilhagem, telefonar a três "babysitters" antes de arranjar uma, ir ao restaurante jantar com os amigos do marido, discutir a última crise governamental e satisfazer as fantasias sexuais democraticamente difundidas pelos canais de televisão. Estou a falar, note-se, de mulheres socialmente privilegiadas. A vida das pobres é um inferno sem as consolações de que as suas irmãs de sexo, apesar de tudo, usufruem».
Maria Filomena Mónica, quarta-feira 2 de Março no Público.
«Estes últimos seis meses de vida partidária envenenaram tudo à volta. Dividiram o PSD como nunca tinha acontecido, deixaram uma herança de ajustes de contas e ódios, alguns dos quais vão minar o futuro imediato. Não é preciso ir mais longe do que o mal-estar larvar contra Cavaco Silva que vai ter consequências nas presidenciais».
José Pacheco Pereira, quinta-feira 3 de Março no Público.
«Sócrates, como de resto o «socialismo» indígena, julga que aprendeu a lição de Blair: dar simbolicamente o que se recusou substancialmente. Blair sobrevive assim: a promover, e a satisfazer, o «ódio de classe» e o horror ao «imperialismo» inglês. Inventou a «princesa do povo» contra a monarquia; criou parlamentos regionais na Escócia e no País Gales (duas ficções) contra a Inglaterra; expulsou a aristocracia hereditária da Câmara dos Lordes; e agora proibiu o desporto por excelência aristocrático (a caça a cavalo). Nada mais simples: a inveja igualitária goza e o mundo continua na mesma. Infelizmente para Sócrates, não há em Portugal uma «classe" privilegiada», antiga e reconhecível, que lhe sirva de bode expiatório. Em Portugal, os «ricos» são um grupo indistinto, no sentido pleno da palavra. Para uma boa imitação de Blair, falta o principal».
Vasco Pulido Valente, sexta-feira 4 de Março no Público.
«Portas ficaria surpreendido com o número de pessoas que votaram nos trotskistas sem saberem quem é trotsky. Ou serem trotskistas».
Clara Ferreira Alves, sexta-feira 4 de Março na Sábado.
«Portugal está na sala de espera, vive dias de um intervalo entre o «já era» e o «há-de ser». O ciclo político mudou, mas não abundam entusiasmos».
António José Teixeira, sexta-feira 4 de Março no Jornal de Notícias.
«Depois de tanta expectativa este Governo soube a pouco. É uma aliança do PS com alguns conhecidos do engenheiro José Sócrates».
Miguel Relvas, secretário-geral do PSD, Sábado 5 de Março no Público.
«O novo Governo não surpreende nem emociona. A surpresa vem mais dos que ficam de fora, dos que agora sobem a ministros, se bem que a ida de Freitas do Amaral para Ministro dos Negócios Estrangeiros (depois das radicais posições públicas quanto às relações com os EUA) se arrisque a destoar no capítulo que tem sido uma constante política em Portugal, entre os dois partidos de alternância: a política externa».
Pedro Gomes, segunda-feira 7 de Março no Anjo Mudo.
«O facto do INAC não ter aceite a candidatura da Air Luxor com base na defesa das obrigações de serviço público é não só justo, como é no interesse dos Açores e dos açorianos, uma vez que voar é, no nosso caso, respirar».
André Bradford, segunda-feira 7 de Março no Sala de Fumo.
«Não é politicamente sério dizer que o Código do Trabalho é em si mesmo negativo».
Ana Drago, segunda-feira 7 de Março na Capital.
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