quinta-feira, março 3

SOFIA AREAL : ALGUNS CÍRCULOS



Azuis, Óleo sobre tela, 120x120 cm., 2004


Inaugura hoje, quinta-feira, na Galeria Fonseca Macedo em Ponta Delgada, uma exposição de Sofia Areal subordinada ao título Beco do Jardim 33 que, segundo presumo, se reporta à morada da pintora quando aqui esteve na ilha. Se o Beco é aquele que eu julgo, o do Jardim António Borges, gabo-lhe o gosto e a forma recolhida como soube aperceber-se desta cidade. Ficamos também a saber, pela leitura do texto do catálogo, assinado por João Miguel Fernandes Jorge, que Sofia Areal procura na Caloura (o Vale de Cabaços dos antigos eremitas desta ilha) o vagar e a inspiração para as suas composições, nas quais os círculos, as espirais e os traços elípticos são elementos recorrentes do desenho. As cores, essas, apresentam-se por vezes muito abertas, quase que espanholas ou africanas, mas, pensando melhor, quando olhamos bem para os verdes secos e os pretos desbotados, são as faias e os loureiros, são as rochas encardidas pelo rocio do mar, que emprestam à geografia cromática das suas obras a marca deste Atlântico. E mais não digo porque só vi meia dúzia de trabalhos - graças à simpatia da Fátima Mota - antes da exposição estar montada.

Deixemos os pincéis para falar também das letras, do texto do catálogo, de quem o escreve e do círculo de amizades que nele se pressente. João Miguel Fernandes Jorge é um poeta que há muito admiro desde que num fim de tarde em Junho, quando a Feira do Livro ainda era na Avenida da Liberdade, comprei o seu livro de poemas Alguns Círculos (Moraes Editores, 1975). Joaquim Manuel Magalhães, outro dos habituais visitantes destas ilhas no Verão, é o autor de uma das mais interessantes obras contemporâneas de Literatura de viagens sobre os Açores (Do Corvo a Santa Maria, Relógio de Água, 1993), a qual foi sujeita a um autêntico Auto de Fé num programa da RTP-Açores que, por pudor, me dispenso de nomear. E, finalmente, a discreta anfitriã açoriana de todos eles, Maria de Fátima Borges, cuja desapercebida qualidade cultural e literária nesta ilha de vaidades pode, contudo, ser aquilatada pela leitura da sua ficção (A cor ciclame e os desertos, Livros Cotovia, s.d.), publicada em Lisboa.

Os Açores, cujo umbigo é muito sexy, por vezes nem se dão conta daqueles que, de passagem ou residentes, os sabem amar em silêncio.

Sem comentários: