terça-feira, março 29

UMA «ILHA» NO AÇORIANO ORIENTAL OU A BARBÁRIE DA IGNORÂNCIA?

A BARBÁRIE DA IGNORÂNCIA

1. Com George Steiner a erudição nunca é inútil. Porém, Steiner afronta a «aculturação» com um pessimismo elitista, colocando-nos perante o incómodo e a perplexidade da «Barbárie da Ignorância». Efectivamente, porque razão a ciência, o humanismo e a cultura não nos deram qualquer protecção contra a bestialidade? É este o objecto recorrente dos ensaios de Steiner que, designadamente, nos interroga: «porque é que efectivamente se pode tocar Schubert ao serão para, de manhã, se voltar, no campo de concentração, ao cumprimento do dever? Nem a grande leitura, nem a música, nem a arte puderam impedir a barbárie total. E foram até, muitas vezes, um adorno dessa barbárie!» (in. «A Barbárie da Ignorância», Ed. Fim de Século). Porventura, «a barbárie que sofremos reflecte, em numerosos pontos precisos, a cultura de onde brotou e quis profanar» (in. «No Castelo do Barba Azul», Ed. Relógio d´Água). Nesse esteio, mas noutro contexto, Salman Rushdie concluiu que afinal «a civilização é o truque de prestidigitação que nos oculta a nossa própria natureza». Pese embora esta desesperança no humanismo da cultura, vale a pena explorar a obra de Steiner na busca de algumas respostas, sobretudo para uma Europa que se quer Culta! Afinal é com o «suor da alma» que vamos sedimentando esta finíssima crosta civilizacional sobre a barbárie da ignorância. (de George Steiner recomenda-se a colectânea de entrevistas com o título «A Barbárie da Ignorância»; o clássico ensaio «No Castelo do Barba Azul - algumas notas para a redefinição da cultura»; e ainda a novela «The portage to San Cristóbal of A.H.» que resgata um Hitler nonagenário para o seu próprio julgamento.)

2. «Yoshimi Battles the Pink Robots», dos The Flaming Lips, é uma alegoria musical cujo enredo está centrado numa menina japonesa que trava uma titânica luta contra andróides e robôs cor-de-rosa! A novidade não estará possivelmente no argumento, mas sim na sonoridade deste CD. Esta banda de Oklahoma(!) concebeu um álbum ousado num mix de rock de garagem psicadélico cruzado com outras sonoridades que chegam à paródia de importar «videogame-music» num registo «tecno-doom»! «Yoshimi Battles the Pink Robots», tem o arrojo de seguir um libreto marcado por sonoridades sinfónicas em espaços que nos fazem lembrar, por exemplo, o melhor dos Camel! Quando mudamos de faixa parece-nos que mudamos também de quarto já que o ambiente cruza laivos de psicadelismo com uma colocação de voz a lembrar, por exemplo, Neil Young. Não sendo uma novidade é um must em qualquer discoteca!

3. A cultura não é só «suor da alma» ou divertissement musical é também memória. Recomendo assim uma visita, ou um regresso, aos capítulos da saga «Ponta Delgada - Vandalismo Cultural ou Desenvolvimento?», publicados pelo Dr.º Carlos Falcão Afonso no blog www.indispensaveis.blogspot.com. Enquanto não forem publicados em livro estarão disponíveis no arquivo blogoesférico.

João Nuno Almeida e Sousa / www.ilhas.blogspot.com
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colaboração no Suplemento de Cultura do Açoriano Oriental de 29 de Março, Coordenado pela Catarina Furtado e Mariana Matos.
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