quinta-feira, março 5

Um congresso autista

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Decorreu sem história o congresso autista do PS. A reunião magna dos Socialistas foi uma liturgia de fiéis rendidos ao culto de Sócrates. Sem dissonâncias ou divergências dos cânticos de glorificação ao "Grande Líder" este congresso, até na sua encenação, evocou os unanimismos populares de esquerda cujo paradigma o Sr. Pinto de Sousa parece ter tomado de empréstimo ao seu amigo Chávez. Na procissão dos devotos não se viram históricos do PS -(excepto Almeida Santos)- mas em lugar de honra lá estavam os pares ministeriais para a inevitável genuflexão. Aquilo não foi um "congresso" foi uma verdadeira "missa" cor-de-rosa, incluindo a inevitável epístola laudatória dos milagres do sumo-sacerdote da congregação!
Em circuito fechado para os crentes lá foram desfilando os ministros da fé sempre repudiando os hereges como, por exemplo, o fez ostensivamente a Ministra da Educação ao recusar qualquer declaração para a comunicação social. Para quê prestar contas a esses infiéis da comunicação social a soldo de uma "campanha negra" contra o "Senhor Engenheiro" ? Assim, os discípulos de Sócrates reduziram o "congresso" a um acto de veneração sem ideias para o País! Medidas concretas e "pró-activas" para contrariar o abismo para o qual caminhamos ? Um rol de generalidades sem concretização foi o mínimo que se ouviu na ladainha do costume. Mas, no embrulho da recorrente propaganda, em suporte digital "simplex", não houve uma luz neste conciliábulo do PS que indicasse o caminho para a paz social, para a prosperidade e, sobretudo, para a libertação da crise que emergiu ao longo deste Governo de maioria absoluta Socialista.
Mesmo assim o líder do PS toma o congresso apenas para pedir um voto de fé em mais uma maioria absoluta em "nome da decência da democracia Portuguesa". Dito de outro modo: quaisquer outras maiorias, relativas ou não, seriam indecentes? Indecente é o grau de pauperização a que chegou Portugal e o nível de indigência ideológica a que desceu o PS. Sinal dessa realidade é a aclamação de uma única moção aprovada por todos os militantes com apenas uma única excepção, cujo voto contra terá sido, porventura, um lapso remível desde que o prevaricador passe pelo refrigério da disciplina férrea de adoração ao líder. Afinal, o "congresso" ficou reduzido às costumeiras diatribes de Sócrates contra uma suposta conspiração e ainda ao episódio do cabeça de cartaz para as eleições Europeias. Até neste capítulo o casting de Vital Moreira não tem outra justificação que não seja a de gratificação da bajulação do socialismo free-lancer. Com efeito, o Professor Vital Moreira, nado e criado na escola do marxismo-leninismo, é agora o candidato independente no topo da lista do PS para as eleições Europeias. Estranha opção para uma personagem que nunca foi um paladino da causa Europeia…pelo menos daquela que ficava do lado de cá da "cortina de ferro". Ora, tal como nunca foi um europeísta empedernido é certo e seguro que também nunca foi solidário com as Autonomias as quais, aliás, recorrentemente acusou de serem sorvedouros da República. Será uma aquisição de luxo para o centralismo de Lisboa mas não será seguramente um aliado dos Açores e da Madeira.
Entre o show off e as manobras de contorcionismo ideológico, como a do avanço de Vital Moreira, o "congresso" do PS foi um ritual de adoração. Um hapenning manipulado para consumo dos crentes, sem ideias ou projectos para o país real. Nada mais.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiario.com

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