quinta-feira, março 5

dia F

...


...
O óbito da Fajã do Calhau ocorreu há muito, mas a inumação do seu cadáver não se faz, ficando o seu corpo exposto num ataúde obsceno cujo leito regista, para memória futura, a vergonha do vil crime ambiental ali cometido. No lugar outrora vivificado por um santuário ecológico, inscrito numa Zona de Protecção Especial, na rota do Parque Natural da Ilha de São Miguel e nas cercanias da magnifica Serra da Tronqueira, agora jazem insepultos os restos mortais da Fajã do Calhau. A profanação da terra fez-se à conta da vaidade humana e para a contingente satisfação de uns quantos usufrutuários da Fajã, porventura, a troco de meia dúzia de votos caucionados pelos caciques locais. Não há interesse público que justifique a cicatriz que ali se cravou na encosta da Fajã, e no leito marítimo da mesma, agora mortificado pelos detritos escorrentes da obra em curso. O comissário da obra é, como se sabe, a Direcção Regional dos Recursos Florestais mas, o seu autor moral, e verdadeiro comitente, permanece na sombra. A mesma sombra que enegrece todo o procedimento.
...
Tem projecto a obra?
- Alegadamente não.
Cumpre com os parâmetros mínimos de segurança e estabilidade?
- Não se sabe, até porque não foram feitos estudos, bastando para a sua execução a fé no "know how" dos serviços.
Foi aberto concurso público para a sua execução ?
- Presume-se que não!
Qual o custo de tal malfeitoria?
- Não se faz a "mínima ideia" para citar o dono da obra, mas apesar do Director Regional ter confessado não ter sequer um vislumbre do cômputo geral, estima-se que a "parte bruta" da empreitada, em meados de 2008, rondava os 800.000 euros!
...
Com tantos pontos de interrogação estranha-se também a passividade da comunicação social que, salvo honrosas excepções, deixou-se vender corporativa e pessoalmente ao manto de silêncio que caiu sobre a Fajã. Não se compreende a inexistência de qualquer sindicância das entidades oficiais, designadamente do Ministério Público e do Tribunal de Contas, às alegadas irregularidades noticiadas em 2008.
Resta-nos a certeza de que no meio de tanto lixo ainda há na blogosfera espaço para fazer a necrologia da nossa terra, na esperança de que o presente não se repita no futuro. Hoje, em nome individual, estou solidário com a campanha promovida pelo Fiat Lux*Carpe Diem. Estou pois de luto pela Fajã do Calhau mas consola-me a certeza de não estar sozinho no nojo.
...
Posted by : João Nuno Almeida e Sousa

Sem comentários: