Então se calhar o melhor, é começarmos por definir liderança. O que é a liderança e o que faz um líder? Acordemos que liderança é a capacidade de agregar vontades para um fim, no sentido em que se leva um grupo a agir com um determinado objectivo que pode até não ser comum a todo o grupo e que um bom líder é aquele que o conseguir. Ou seja, a liderança é tanto a capacidade de comando como o desígnio, o fim último e o objectivo dessa liderança. Há aqui conscientemente uma questão valorativa, de moral mesmo, sobre a apreciação desse desígnio. Uma avaliação dos méritos, dos objectivos de uma determinada liderança. Alguém que comanda eficazmente caciques é um bom líder? É. Mas, será que isso é boa liderança? Não. Fazer, como eu fiz, a aclamação de líderes passados pressupõe uma valoração dos méritos das suas conquistas. Um ditador sanguinário que se sustente no poder durante vários anos é um bom líder, mas a sua liderança não. Ao contrário de um líder humanitário cujos objectivos sejam a paz e o progresso social mas incapaz de atingir o poder. O que eu entendo por boa liderança é a permanente preocupação com o bem comum e a capacidade de agregar vontades no sentido de atingir esse fim. Sendo que definiria o bem comum como o progresso da sociedade, o bem-estar social, a igualdade, as liberdades individuais, a constante busca de um futuro, um mundo, melhor. Partindo do princípio que em democracia estes são valores transversais à maioria dos cidadãos, partindo do princípio que hoje em dia estes são os desígnios principais dos diversos agentes políticos, resta-nos então esclarecer, ou perceber, se existem ou não hoje bons ou maus lideres, boa ou má liderança. As grandes questões da liderança no processo político podem, em meu entender, ser colocadas em dois níveis distintos: liderança interna a nível partidário e liderança externa a nível eleitoral. Esta separação é, obviamente, falsa e até de certa maneira perniciosa, mas ajuda na análise do problema que creio existir hoje nas nossas democracias e que tenho, felizmente com feedback, vindo a debater. Estes dois níveis de liderança estão claramente interligados e dependentes um do outro, mas ao fazer esta distinção o que pretendo é realçar dois momentos diferentes no processo de liderança político e na análise do seu sucesso. O primeiro momento é o processo de criação de uma mensagem política, aquilo a que chamaria de ideário ou programa político, que é feito, ou deveria ser feito, internamente a nível das estruturas partidárias. O segundo momento é o da comunicação da mensagem para o eleitorado. A estruturação de um programa político deveria prender-se com o desígnio do bem comum e deveria ser a principal preocupação de qualquer estrutura partidária e dos seus líderes. Defender ideais e ter um projecto para os concretizar seria a principal preocupação de uma boa liderança e da medida do seu sucesso. Porém nos últimos anos o número de votos tornou-se na única medida do sucesso de uma liderança partidária o que faz com que todo o esforço seja despendido com esse fim. A liderança tornou-se numa estratégia de conquista de votos em detrimento dos objectivos do bem comum. Hoje os bons lideres são os que conquistam mais votos e não os que tem melhores projectos. A ditadura dos media e da opinião pública leva a que os lideres partidários se subjuguem aos problemas imediatos e não reflictam o suficiente sobre o médio e o longo prazo. Nos partidos perdeu-se a capacidade de reflectir internamente sobre as melhores soluções para os problemas sociais para apenas se perspectivar as melhores, mais rápidas e fáceis maneiras de atingir o poder. O lema muitas vezes é – quando lá chegarmos pensamos nisso. Mesmo o mecanismo da eleição directa dos lideres, que pretendia ser uma transposição para a vida partidária dos métodos democráticos, revelou-se antes um cerceador do debate e do diálogo interno, porque levou os militantes a concentrarem-se apenas na conquista de votos e não na conquista interna de consensos, de intenções, ideais e programas. Toda a medida dos sucessos está no número de vezes que se ganham eleições e não nas mudanças e nos progressos que se dão à sociedade. Este, para mim, é o maior problema. Nos Açores apenas mudamos de lideres quando estes desistem, ou quando sucumbimos ao peso dos anos ou ao desespero da ausência de mudanças, quando deveríamos de quatro em quatro anos escolhe-los pelo mérito dos seus programas. Quanto a Obama só o tempo dirá se a sua capacidade de conquistar o voto popular é ou não igual à sua capacidade de dar de volta ao povo.
P.S. ainda sobre estas questões vale a pena ler o Pedro Magalhães
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