Amado por muitos e odiado por alguns, Anthony Bourdain é uma figura controversa que, para felicidade dos açorianos com responsabilidades no turismo, se interessou pelos Açores e isto podia muito bem ser o “bottom-line” deste postal.
Acreditem-me que, apesar das consideráveis comunidades de açorianos espalhadas pela América – sobretudo do norte -, não são muitos os indígenas que conhecem os Açores, facto, aliás, tristemente constatado por mim, numa visita de cariz profissional efectuada ao Canadá, em Agosto de 2003.
Ali, poucos eram os que já tinham ouvido falar dos Açores e menos ainda eram os que sabiam onde ficava tal sítio. Se vos disser que tal se passou em Halifax, num jantar com cerca de 200 agentes de viagens, todos me dirão que é aceitável. Afinal e apesar da base naval, Halifax é um sítio relativamente recôndito no Canadá. Mas, se vos disser que o mesmo se repetiu num jantar em Toronto, com cerca de 1200 outros agentes, muitos terão dificuldade em acreditar e outros dificuldade em aceitar.
É verdade que nós açorianos assistimos de boca aberta e incrédulos ao “No reservations” sobre os Açores, perguntando quem teria permitido semelhante figura fazer tal divulgação das nossas lindas ilhas e respectiva gastronomia mas, também é verdade que a nossa abordagem ao mercado canadiano – muito formatada ao nosso estilo conservador e formal – não surtiu o desejado efeito e a operação, pura e simplesmente, fracassou.
Apesar de me ter custado engolir alguns dos desabafos de Anthony Bourdain sobre as Furnas e as suas caldeiras (razões óbvias), julgo que o resultado final da sua visita aos Açores está longe de se resumir à reportagem “itself”.
A forma descomprometida e a fórmula encontrada para dar a conhecer à América que ilhas são estas e em que padrões gastronómicos assenta a cultura daqueles que, com uma saudade latejante, se orgulham tanto da sua terra, corresponde a uma abordagem completamente diferente daquelas às quais estamos habituados e decorre da ânsia de se arranjar novas motivações para as mesmas viagens.
“One can say: its all about Food Destinations, for food minded people”. E recomendo a leitura da entrevista feita ao chef Ray McCue para que possamos perceber um pouco melhor que fenómeno é este.
Outros programas de Anthony Bourdain há sobre outros destinos, nos quais, mantida a temática, o formato varia. No nosso caso, um carinho especial foi dedicado a uma das nossas características mais apreciadas – a nossa hospitalidade -, “seasoned” com fortes elogios à nossa têmpera.
Tudo me pareceu orientado para o absolutamente genuíno e fora das rotas do circuito comercial e com muito por apresentar, num estilo duvidoso mas, seguramente apreciado pelos fãs do desarmante e desbocado Anthony Bourdain.
P.S. Por altura da tal visita ao Canadá, o operador que se preparava para montar a operação para os Açores, achou que, nos já referidos jantares, se havia de servir a comida açoriana (porque seria?). Não sei bem porquê (talvez para se poupar uns cobres), não levamos os nossos cozinheiros na comitiva e... Bem, por esta altura, já devem ter, todos sem excepção, adivinhado o resultado da tal repasto: “PLASTIC”
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