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Portugal era já indiciado como suspeito do costume no rol dos países que vivem do "favor" ! Contudo, na trambiqueira pelintrice em que se transformou este sítio a que chamamos Portugal, os "favores" são transversais. Sinal dessa transversalidade está na "assinatura de favor" que o actual Primeiro-Ministro facultou, alegadamente a título gratuito, a projectos técnicos de Engenharia e Arquitectura que não eram seus e que, por impedimento legal, não podiam ser assinados pelos seus verdadeiros autores. Não é crime, asseveram os penalistas desta República, mas não deixa de ser fraude à lei. Acresce que esta fraude de "favor" é sintomática da absoluta indigência e desonestidade intelectual em que vivemos. Não raras vezes, hoje, apor uma assinatura num documento mais não é do que um "favor" que se presta e pouco valor tem como compromisso ético. Assim, assinar projectos sem os ter feito, e provavelmente sem sequer saber do que se trata, é coisa aceitável e de somenos importância para o Sr. Pinto de Sousa e seus discípulos. Afirmar o contrário só tem lógica numa "cabala" difamatória do jornal Público. Mas, como a liberdade de imprensa, é também um "favor" que se faz à Democracia, ao primeiro-ministro resta-lhe fazer uso do habitual look contristado sempre que confrontado com episódios passados de "engenharia ilícita". O certo é que em Portugal a permeabilidade entre "favores" em cadeia e a prática profissional não é novidade. Desde a procuradoria ilícita de vão de escada, feita tantas vezes por mangas-de-alpaca mais baratos do que os Advogados e Solicitadores, até aos atestados médicos a rogo para as mais diversas finalidades, não faltam exemplos de "favores" que mais não são do que expedientes para contornar a lei. Mas, paradoxalmente, o primeiro-ministro que se arroga paladino do rigor e da transparência prometendo reformar a economia de "favor", assinava de "favor" e a eito os projectos dos amigos que estavam impedidos legalmente de o fazerem. Para quem ainda acredita nas narrativas pueris do favor altruísta e da benemerência tais atitudes não são de censurar mas sim de elogiar. Ao invés, para os cépticos, elas são, designadamente, uma das formas de "concorrência desleal" que vão pontuando entre nós. Por essas e por outras é que já há mais de um século o grande Eça de Queiroz afirmava que Portugal "não é uma nação, não é um país, não é uma nacionalidade, não é uma pátria, mas é um sítio". Um sítio de "favores" em cadeia onde se "perdeu a inteligência e a consciência moral". Onde "os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos." Um sítio onde "a prática da vida tem por única direcção a conveniência". Tudo isto, nas palavras de Eça de Queiroz, eram já sinais do "progresso da decadência" que hoje é o retrato do país real. Aquele que se esconde atrás das máscaras de conveniência a quem, por pudor, se faz o "favor" de acreditar. Neste logradouro Ibérico que é Portugal, afinal de contas, é sempre Carnaval e ninguém leva a mal o mercado de "favores" que também sustenta este país.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicas digitais do jornaldiario.com
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Portugal era já indiciado como suspeito do costume no rol dos países que vivem do "favor" ! Contudo, na trambiqueira pelintrice em que se transformou este sítio a que chamamos Portugal, os "favores" são transversais. Sinal dessa transversalidade está na "assinatura de favor" que o actual Primeiro-Ministro facultou, alegadamente a título gratuito, a projectos técnicos de Engenharia e Arquitectura que não eram seus e que, por impedimento legal, não podiam ser assinados pelos seus verdadeiros autores. Não é crime, asseveram os penalistas desta República, mas não deixa de ser fraude à lei. Acresce que esta fraude de "favor" é sintomática da absoluta indigência e desonestidade intelectual em que vivemos. Não raras vezes, hoje, apor uma assinatura num documento mais não é do que um "favor" que se presta e pouco valor tem como compromisso ético. Assim, assinar projectos sem os ter feito, e provavelmente sem sequer saber do que se trata, é coisa aceitável e de somenos importância para o Sr. Pinto de Sousa e seus discípulos. Afirmar o contrário só tem lógica numa "cabala" difamatória do jornal Público. Mas, como a liberdade de imprensa, é também um "favor" que se faz à Democracia, ao primeiro-ministro resta-lhe fazer uso do habitual look contristado sempre que confrontado com episódios passados de "engenharia ilícita". O certo é que em Portugal a permeabilidade entre "favores" em cadeia e a prática profissional não é novidade. Desde a procuradoria ilícita de vão de escada, feita tantas vezes por mangas-de-alpaca mais baratos do que os Advogados e Solicitadores, até aos atestados médicos a rogo para as mais diversas finalidades, não faltam exemplos de "favores" que mais não são do que expedientes para contornar a lei. Mas, paradoxalmente, o primeiro-ministro que se arroga paladino do rigor e da transparência prometendo reformar a economia de "favor", assinava de "favor" e a eito os projectos dos amigos que estavam impedidos legalmente de o fazerem. Para quem ainda acredita nas narrativas pueris do favor altruísta e da benemerência tais atitudes não são de censurar mas sim de elogiar. Ao invés, para os cépticos, elas são, designadamente, uma das formas de "concorrência desleal" que vão pontuando entre nós. Por essas e por outras é que já há mais de um século o grande Eça de Queiroz afirmava que Portugal "não é uma nação, não é um país, não é uma nacionalidade, não é uma pátria, mas é um sítio". Um sítio de "favores" em cadeia onde se "perdeu a inteligência e a consciência moral". Onde "os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos." Um sítio onde "a prática da vida tem por única direcção a conveniência". Tudo isto, nas palavras de Eça de Queiroz, eram já sinais do "progresso da decadência" que hoje é o retrato do país real. Aquele que se esconde atrás das máscaras de conveniência a quem, por pudor, se faz o "favor" de acreditar. Neste logradouro Ibérico que é Portugal, afinal de contas, é sempre Carnaval e ninguém leva a mal o mercado de "favores" que também sustenta este país.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicas digitais do jornaldiario.com
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