quinta-feira, fevereiro 14

O retrovisor

...
"O PSD nos Açores nunca admitiu um erro, por isso, perdeu em 1996", César disse-o na pré-campanha que já iniciou às próximas eleições Regionais. Este aforismo de Carlos César surge agora, na sequência do folhetim do tabu, após o mea culpa do Presidente do Governo Regional no que respeita à falência total das políticas Regionais no domínio do combate às dependências como a droga e o alcoolismo. Confessar esta realidade, pública e notória, é feito de pouca monta. Contudo, fica também por transigir que soçobrar neste domínio representa também um agravamento da insegurança que é hoje uma realidade para além dos muros do Palácio de Santana. Efectivamente, falhar no combate à toxicodependência é o equivalente a falhar também nas políticas de segurança que afectam difusamente todos os cidadãos. Mas, a nível local ou regional, o PS de Carlos César parece ignorar o estado de insegurança geral que se expande entre nós como uma epidemia. Com efeito, não há qualquer sinal de aposta no reforço dos efectivos policiais da Região Autónoma apesar da solidariedade cor-de-rosa que o cliché de campanha ostenta repetidamente. A nível local também não há sinais de colaboração explícita em políticas securitárias das comunidades. Bom exemplo dessa omissão está no dossier da Policia Municipal de Ponta Delgada que está pendente no Terreiro do Paço desde que o PS tomou, por voto popular e dissolução Presidencial da Assembleia da República, o Governo da República. O projecto em causa, que teria seguramente o mérito de coadjuvar a PSP no domínio do policiamento administrativo na maior cidade da Região, aguarda numa gaveta ministerial apesar de estar legalmente concluso! Em seu socorro nem lhe vale o facto de em 2003 a Assembleia Municipal de Ponta Delgada o ter votado, por unanimidade, também com os votos dos deputados locais do Partido Socialista.

Em suma: falharam as políticas de prevenção das toxicodependências mas as políticas de segurança são aparentemente inexistentes com as nefastas consequências que o mercado da economia da droga importa para qualquer sociedade. Apesar disto, Carlos César reconhece, com a teatral humildade própria das campanhas comicieiras, que falhou nas políticas de prevenção primária, secundária e terciária das toxicodependências. Crê até que este e outros actos de contrição, ao invés de penalizarem o PS, têm o efeito secundário de o ajudar a ganhar eleições. É obra! Resta saber porque razão perante políticas sectoriais assumidamente falhadas o PS não tem qualquer pudor de, volvidos mais de dez anos no poder, ainda insistir numa comparação com o passado do PSD? Não há razões válidas para esta obsessão de fazer a analogia com o passado do PSD, excepto a certeza de que esta é a última fronteira de justificação que o PS repetidamente usa quando lhe devem ser imputadas as devidas responsabilidades que um mea culpa de Carlos César não desmente. A ironia desse permanente retrovisor de que faz uso o PS é que, à medida que o tempo passa, o PS de Carlos César é também, por culpa própria, um partido do passado.

João Nuno Almeida e Sousa nas crónicas digitais do jornaldiario.com

Sem comentários: