sábado, abril 2

POST-SCRIPTUM FROM COIMBRA

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«Em Coimbra, uma noite, noite macia de Abril ou Maio, atravessando lentamente com as minhas sebentas na algibeira o Largo da Feira, avistei sobre as escadarias da Sé Nova, romanticamente batidas pela Lua, que nesses tempos ainda era romântica, um homem, de pé, que improvisava.
... Deslumbrado , toquei o cotovelo de um camarada , que murmurou , por entre os lábios abertos de gosto e pasmo : - É o Antero !...
... destracei a capa , também me sentei num degrau, quase aos pés de Antero eu improvisava, a escutar, num enlevo, como um discípulo. E para sempre assim me conservei na vida. »


Eça de Queirós In.Notas Contemporâneas: Um génio que era um Santo


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Estou de regresso à Ponta Delgada de Antero de Quental. Ao invés de Coimbra esta nossa cidade vive uma radical e profunda mudança e transfiguração. Ao invés de Coimbra esta nossa cidade tem muito mais a dar e receber do que lições dos lentes da Universidade e sebentas policopiadas durante gerações !
Claro está que esta desilusão é ainda a consequência de uma visão romântica de Coimbra que muitos de nós possuíamos antes de a conhecermos. O choque cultural entre o romantismo, designadamente queirosiano, e a crua e nua realidade permanece inalterado. De regresso de Coimbra é caso para dizer que para lá do Mondego nada de novo...nem mesmo o estilo grafiteiro de fazer política evolui estando, por exemplo, a Sé Velha maculada com cartazes do III Encontro dos Jovens do Bloco de Esquerda e os muros da Universidade ostentam entre outros mimos revolucionários os comunicados da Juventude Comunista Portuguesa ! Na verdade, há vales e colinas onde os dinossauros ainda não foram extintos.

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