sexta-feira, abril 29

ainda a promoção dos Açores

Quando aqui há dias apresentei a minha critica à nova campanha de promoção dos Açores na imprensa estava longe de imaginar o tumulto que tal opinião podia provocar. Numa sequência variada de comentários, inúmeros foram os argumentos que lançaram contra mim, desde os mais sensatos e verdadeiros até aos mais estúpidos e descabidos. Por fim, inevitável e anonimamente, também o fantasma da independência e dos Açores para os Açorianos foram levantados num acto que acima de tudo me entristece. Para que fique claro o alvo primeiro do meu texto era a campanha em si e o que a ela está subjacente. Fazer passar a ideia, a quem não conhece estas ilhas, que os Açores são um paraíso natural virgem e absolutamente belo é falso e dever-se-ia antes criar uma campanha de informação que apresentasse os Açores em toda a sua diversidade e riqueza mas de uma forma verdadeira e original. O que está aqui em causa é o seguinte: quem conheça verdadeiramente este arquipélago sabe que são mais as diferenças do que as parecenças, sabe que não somos bafejados por um clima maravilhoso, e principalmente que no que ao turismo diz respeito ainda são muitos os passos a dar antes de podermos mesmo reclamar o epíteto de destino turístico. Devo dizer que sou de facto capaz de apresentar mais de 25 razões de desilusão numa visita aos Açores. Não o farei aqui por que sei também do efeito nefasto de tal resenha. Mas no meu entender é imperioso que todos os açorianos tenham também consciência destes factos negativos a seu respeito. O mais importante traço de carácter de uma sociedade que deseje caminhar para o desenvolvimento é o espírito crítico. Se não forem os próprios açorianos a pensarem-se a si próprios de uma forma critica e insatisfeita ninguém o fará por nós e a ausência desse pensamento é o primeiro passo para a estagnação e o fim. Saber olhar em volta com vontade de melhorar é a única coisa que nos pode fazer progredir. Recuso-me a aceitar que uma determinada ideia de Açores seja a "vaca sagrada" do pensamento sobre as ilhas e que não possa ser contestada, criticada e, em última instância, derrotada. A maioria das leituras da minha critica à campanha publicitária dos Açores tomaram a parte pelo todo e partiram em defesa do que nunca tinha sido atacado. Até de ananases se falou, imaginem. Só alguns perceberam que o cerne da minha critica é o facto de nos Açores se estar a tratar a questão do turismo construindo a casa pelo telhado. Falta, urgentemente, um esforço de investimento na nossa cultura, no nosso património, no ambiente, nos serviços, na educação e formação de profissionais nas diversas áreas, directa e indirectamente, ligadas ao turismo, falta uma monstruosidade de aspectos dos quais ninguém fala alguns dos quais são tão básicos como não deitar lixo na rua, ou saber dizer bom dia a um estranho. Os Açores são o sítio onde escolhi viver, pretendo fazê-lo com amor, mas essencialmente com vontade de mudança e critica construtiva. A razão por que o fiz, ou faço, só a mim me diz respeito. Quando deixarmos de saber mudar o que está mal desistimos de ser. Não sei para onde vou, mas sei que não vou por aí.

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