A Primavera deixou de me preocupar
há muito tempo.
Habituei-me a mim próprio
dentro do cone de luz do abat-jour
pondo a nu os veios da acácia
o tampo da secretária
e o que sobre ela escrevo
a tinta
permanente.
Tudo está em harmonia neste pequeno perímetro de mundo
amarelo.
À direita da folha de papel
o cigarro e as suas espirais de fumo
perdem-se no escuro.
A esta hora da noite não há lugar para azuis.
Os Quatro Quartetos do Eliot
abertos em cima do teclado azert
lembram às minhas mãos
que as máquinas de escrever deviam ser mentira.
A windy night is reserved for each one of us
"qual de nós não teve o seu Inverno"
Um homem vale pelos Nortes que procura
quando chegam os calores do Verão.
Aprendi esta verdade
nos livros
que li atrás das dunas
longe dos corpos que deram à praia
sobre a caruma dos pinheiros.
Descobri também
surpreendido
que Los Angeles cheirava a Mediterrâneo
logo à saída do aeroporto.
Resignei-me ao Outono da vida
sem sombra
de véus no olhar.
E assim se passa mais um ano de trigo e chuva.
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