quinta-feira, abril 28

PDL - FICÇÕES



Em 2 de Abril de 1546 a Vila de Ponta Delgada foi, por Alvará Régio de D.João III, elevada a Cidade.

As pedras com que se presta tributo a esta honra, regiamente outorgada e merecida, há muito que têm vindo a pavimentar uma estrada rumo à modernidade. Trata-se de uma obra sempre inacabada. Todavia, é uma obra que se renova na ambição de rasgar novos horizontes para a cidade, outrora acomodada na quietude da «enseada que tinha a seus pés, com os seus pequenos cais de chegada e de partida» cismando, «atentamente, a fragilidade dos pequenos botes e as lanchas que levavam e traziam os passageiros dos grandes paquetes ancorados lá fora no mar» e, suspirando, «pelos pequenos veleiros acostados, que também os havia e que teimosamente lá iam de ilha em ilha, no destruir de barreiras que o mar impõe a quem nasce ilhéu.» (Ana Maria Netto Viveiros; «Ponta Delgada a minha cidade»).

Depois do ímpeto revolucionário do Século XIX o trilho da modernidade só seria retomado com fulgor após o 25 de Abril de 1974. Porém, no caso de Ponta Delgada importa sempre recordar que nos idos de oitocentos sedimentou-se nesta cidade a alma da Autonomia. Foi esta alma que, apesar das circunstâncias assaz adversas daqueles anos, justificou a adesão à Revolução Liberal em 1821, (com o pronunciamento de 1 de Março para a Independência de São Miguel do Governo da Capitania Geral de Angra), a instalação e funcionamento em 1833 do Tribunal da Relação dos Açores, a inauguração, em 1839, da Escola Médico-Cirúrgica de Ponta Delgada, bem como, em 1853, a abertura do Liceu Nacional de Ponta Delgada, a instalação do cabo submarino em 1893 e a publicação em 2 de Março de 1895 do «decreto da descentralização». É neste lastro progressista que a cidade de Ponta Delgada em particular, e os Açores em geral, vão buscar os pergaminhos com que alimentam a ambição de ir mais longe. Afinal «uma cidade é um corpo vivo e, como tal, nasce, cresce, torna-se adulta, envelhece, entra em decadência e por vezes acontece como aos astros, desaparece na obscuridade dos séculos. Com mais de quinhentos anos de idade, a minha cidade, neste momento, rejuvenesce debaixo dos nossos olhos. Torna-se realmente uma urbe do século XXI: com as suas casas de espectáculo, suas bibliotecas, sua Universidade.» Hoje, «Ponta Delgada tem-se tornado uma cidade branca como um corpo de mulher estendido na praia da baía que fecha o porto. Está ainda longe de possuir um talhe de impecável esbelteza, mas já não nos envergonha diante de estranhos. Apesar dos seus quinhentos anos de idade, ultimamente pôs-se a rejunescer, empenhada em ser moderna». (Fernando Aires, «Ponta Delgada Cidade»).

Em suma, neste espanto do Sec. XXI Ponta Delgada é uma «cidade inquieta, com uma agenda na mão, a tentar perceber qual é o seu próximo compromisso» (Nuno Costa Santos, «Um estrangeiro na cidade»). Hoje a nossa ambição enquanto cidadãos do mundo, aconchegados no defeso do Atlântico, é, além do progresso, a demanda de «uma envolvência de civilidade. Ou seja: progresso com cidadania dentro. Nada mais do que isso.»(idem.)

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«Ponta Delgada Ficções» é uma Edição da Câmara Municipal de Ponta Delgada que reafirma o acervo humanista, criativo, e crítico que Ponta Delgada sempre cultivou ao longo da sua história.

Esta obra, coordenada por Carmo Rodeia e José de Almeida Melo, integra as comemorações do 459º aniversário da cidade acolhendo no seu índice Adelaide Freitas, Ana Maria Netto Viveiros, Ângela Almeida, Fátima Sequeira Dias, Fernando Aires, Manuel Ferreira, Natália Almeida, Nuno Costa Santos, Rosa Goulart, Rosa Simas, Vamberto Freitas, Victor Meireles.

Deste elenco plural nos estilos e nas mundividências destaco a excelência da ficção de Ângela Almeida («A Páscoa de Margarida»), Fátima Sequeira Dias («Uma história de amor em Ponta Delgada») e de Victor Meireles («O Anjo») cujo texto, apesar de ser o último, merece que por aí se comece a leitura.

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