terça-feira, novembro 2
PROPAGANDA
Por recomendação do «camarada» Alexandre Pascoal tive que me submeter a este dogma de propaganda que é o «Fahrenheit 9/11» e a que se convencionou chamar «documentário». Apesar de abençoado pela intelectualidade residente, este carrossel de imagens manipuladas não é um filme e muito menos deve ser catalogado como «documentário», pois esta categoria pressupõe neutralidade e imparcialidade. Por essa mesma razão é que a intelectualidade que agora eleva Michael Moore ao pedestal da glória cinéfila dos documentaristas sempre desdenhou do predicado de «documentário» quando se fala noutras peças cinéfilas, entre as quais, paradigmaticamente, nos ocorrem as de Leni Riefenstahl.
«Fahrenheit 9/11» é um produto americano ambivalente, na medida em que, entre o «cinema» e o «documentário» fica a meio caminho como um objecto político. Ademais, é um objecto filmíco verdadeiramente obsceno e como tal merece ser visto...e esquecido. Esta coisa que Michael Moore fez é apenas manipulação propagandística primária, grosseira e obscena mas, não deixa de ser um exercício de montagem notável, até porque, no patchwork de depoimentos e entrevistas fica-me a sensação de que a maior parte dos «figurantes» nem sequer percebe a mise-en-scéne...e não falo de Bush que este é por natureza e na generalidade um erro de casting.
Efectivamente, Michael Moore usa despudoradamente as pessoas numa lógica obscena de «reality show», que não pode deixar de causar repugnância pela peçonhenta narrativa de manipulação que vai arquitectando com a desgraça alheia. Ele estica a corda até ao limite convencido de que o espectador é uma simples marioneta que, com adequado treino, responderá ao sinal da sua propaganda.
Como disse esta coisa que a nata da intelectualidade de lá e de cá convencionou arrumar como «documentário» é ambivalente. No final fica-nos a legítima dúvida de saber qual dos dois é mais imbecil : Bush ou Moore...cá para mim estão bem um para o outro.
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