terça-feira, novembro 16

Choque? Qual choque?

Provavelmente a prosa do Bernardo, espalhada de forma seleccionada aqui, é mais para o TóZé do que para mim, mas como o meu nome também vem à baila não posso deixar de alongar umas palavras sobre o assunto. Para quem escrevemos quando escrevemos sobre coisas que gostamos ou que odiamos? Quem está do outro lado da linha quando falamos de gostos, inclinações, prazeres, índoles? E ainda para mais se, com a falta de rede customeira nestas ilhas, o mais provável é que quem está do outro lado, seja velho amigo, conhecido ou desconhecido, não perceba um oitavo do que escrevi? Os gostos, dizem alguns, não se discutem. Bardamerda, se não se discutisse o gosto não haviam opiniões e andávamos todos vestidos com pele de Mamute. Ora o que se passou, e para tornar uma história curta numa história comprida, foi que eu não gostei de partes do programa Choque de Gerações, partes essas que após visionados dois programas, continuo a não gostar, partes que adiante explicarei, e não gostei mesmo nada, mas mesmo nada, oxalá me engane, o que costuma acontecer, da nomeação do Sr. Sérgio Ávila para Vice-presidente do Governo Regional dos Açores por razões do âmbito político e pessoal, razões essas que em vista dos tempos censórios que vivemos e por medo de perder o meu lugarito de comentador neste blogue me vou, de momento, escusar de explicar. Vai daí apeteceu-me, (será preciso dizê-lo?) em tom de ironia, declarar unilateralmente uma guerra, perdida, à ilha Terceira. Já devia eu saber que nestas ilhas não se pode brincar com as ilhas. O horrível fantasma de séculos de cu virado uns para os outros tomou logo de assalto os espíritos mais sensíveis, acusando-me de bairrismo, baixeza, aviltamento e outros sinónimos de estupidez. Meus amigos, esta idiotice de não podermos gozar com as ilhas sem no dia seguinte sairmos à rua, tomarmos um avião, e ir ali à outra ilha comer uma bela sopa da Tia Urânia ou, ficando em casa, abrirmos o computador e embrenharmo-nos no maravilhoso mundo do blogue-arquipélago, com medo de levar uma traulitada na nuca ou uma mesquinha acusação de inveja na fronha é o grau zero da mente. E isto sim, meus amigos, isto sim é que é de ficar menente. Que raio de gentinha somos nós que não podemos brincar com as idiossincrasias uns dos outros, que porcaria de autonomia é esta que proíbe que eu me insurja com o que de mau vem da Terceira e o diga com todas as letras e com todos os excessos da generalização sem que me caiam logo em cima não sei quantos férreos defensores da estupidez alheia? Bom, recapitulando, tudo isto começou com a estreia do Choque de Gerações, programa que eu aguardava ansiosamente por conhecer a maioria dos protagonistas e, principalmente, por gostar dos protagonistas. Visto o primeiro programa, que por acaso tinha como convidado Bernardo Rodrigues (que é tanto o Sr. Arquitecto Bernardo Rodrigues, cujo CV pode ser consultado numa caixa de comments mais abaixo, como ao mesmo tempo o meu querido e velho amigo Bernardo) ora este primeiro programa foi para mim uma desilusão e como tal desgostou-me. Assim triste, limitem-me a conversar com alguns amigos, alguns deles futuros convidados do programa, sobre os aspectos mais negativos do Choque de Gerações. Falamos sobre a péssima escolha do local com a barulheira ensurdecedora que nos obriga a um esforço enorme para nos concentrarmos no programa e não mudar de canal, disse da minha discordância com o modelo do segundo convidado, discordância essa que se transformou em indignação com o visionamento do segundo Choque..., por considerar um ultraje convidar uma senhora para nossa casa, sentá-la a um canto e pedir-lhe descaradamente que esgalhe ali nuns minutinhos um peomito, não que o tratamento dado à Sandra fosse melhor que o dado à Mariana, mas porque não se trata assim um poema, ou uma fotografia, ou sequer uma pessoa. Comentei ainda o excessivo protagonismo do Joel que embaraça os convidados e limita os comentadores, o texto preparado do Joel não é consentâneo com o improviso dos outros membros da mesa. Zurzi também sobre a ridícula secção do Ódio de Estimação que é a meu ver um presente envenenado e que devia ser liminarmente recusado por quem for de futuro ao programa e não tiver capacidade histriónica ou três anos de curso numa escola de teatro. É que ou se tem a desenvoltura que teve o Luís Filipe Borges de estar num púlpito a lançar postas de pescada ou então aquilo é um verdadeiro calvário digno de uma fase de pré selecção dos Ídolos. Não se convidam pessoas para as colocar em potencial ridículo. Brinquei mais ou menos snobisticamente com a frase possidónia do «açores no mundo, sofisticado nos açores». E já nem falo na questão do nome, Choque de Gerações, quais gerações?! Porém, e no fundo, a minha opinião sobre aquilo tudo foi mista e se algum problema de fundo podia apontar ao Choque de Gerações para além destas questões de pormenor, pormenores todos corrigíveis, era o de que me parecia um programa demasiado ambicioso. Vi nestes dois programas, hoje há mais um, uma vontade excessiva de mostrar tudo, mostrar muito, gastar os cartuchos todos numa rodada, esse é o maior problema, é que não compreenderam os responsáveis do programa que aquilo são apenas 50 minutos de televisão não são três horas de magazine onde se possa opinar e divulgar sobre tudo o que há de bom numa geração que está agora entre os 25 e os 45 anos e tem como elo de ligação o factor geográfico chamado Açores. Digamos que foi uma boa ideia que não conseguiu dar o salto para a realidade. Posto isto importa realçar uma evidência, apesar de desconsolado com o Choque de Gerações não escrevi nenhum post sobre o assunto e nem tão pouco comentei em blogues que escreveram sobre o assunto. Fiquei, até hoje, em silêncio sobre o programa. Agora, e porque o Bernardo o exige, proponho-me a dizer qualquer coisa. Nunca me passou ou passaria pela cabeça criticar a prestação do Bernardo no programa por mais fraca, e aqui creio que até tu concordarás comigo, Bernardo, que ela tenha sido. É que o Choque de Gerações não está feito para ajudar os convidados, querem um exemplo? Ninguém no seu juízo perfeito pergunta a um Poeta/Guionista/Actor/Luís Filipe Borges qual é a solução para o problema do Darfur?!! Bem esteve o Luís que argumentou que se tivesse a resposta para essa pergunta seria o Koffi Anan e não o Luís Borges. A questão é mesmo esta, Bernardo, é que o bom ou o mau do programa não és tu, ou o Luís, ou a Mariana, ou a Sandra ou todos os outros convidados que por lá vão passar. O programa é uma enorme salganhada de intenções, todas elas boas, talvez, mas que de onde não se salva nem o vinho que pelos vistos ninguém bebe. Em duas palavras: excesso de ambição. Aqui encerro o assunto Choque de Gerações esperando honestamente que quem estiver ligado ou interessado pelo dito tome as minhas palavras como critica construtiva e não mais do que isso. (Eu sei o que é ter uma ideia e esforçarmo-nos ao máximo para que ela resulte o melhor possível e dar a cara por ela mesmo quando, muitas vezes, interiormente, não estamos satisfeitos com o resultado final.) Quanto ao resto o que posso dizer e só para aqueles que não me conhecem pessoalmente é que se há sentimento que não nutro é o de inveja. Inveja de quê, de quem? Do Sérgio Ávila? Do Joel Neto? Meus amigos, eu estou bem onde estou, aliás foi uma opção minha estar onde estou e nunca na vida levantaria o meu rabinho do meu sofá para me por de fronte de seja qual for o caçador de leves talentos. Deixem-me também dizer que se e quando me convidam para botar faladura em seja que meio de comunicação social for eu vou e boto, orgulhoso, sim, mas também humildemente curvado, o resto é o meu auto convencimento natural. Por último, que a prosa já vai longa, e quanto à questão Terceira, a Terceira no contexto das minhas declarações belicosas anteriores é uma metáfora para o que está mal e que o Sérgio Ávila está mal na Vice-presidência está.

Sem comentários: