O evento deveria ter sido um acontecimento marcante no panorama das artes do arquipélago e, até mesmo, do país. Mas lamentavelmente a exposição Evocações da Paisagem, uma antologia de 10 anos de pintura nos Açores que se encontra patente no novo Teatro Micaelense desde o dia 16 de Outubro não teve nenhuma repercussão nos media. Obviamente que não conto com as pirosices das reportagens fotográficas das vernissages que valorizam mais os fulanos que as visitam do que a arte, algo de incompreensível quando falamos de pintura ou de qualquer outro fenómeno artístico. Esta mostra conta com diversas obras de 21 artistas organizados numa sequência quase cronológica ao longo do espaço da exposição. O espectador atento é convidado a percorrer os caminhos da pintura destes autores num percurso multifacetado, pejado de referências e de estímulos muitas vezes opostos, que vão de José Nuno Câmara Pereira até João Decq numa caminhada pelo que estes vinte e um pintores produziram nos últimos anos. A grande conquista desta exposição é mesmo, no meu entender, dar relevância a essa perspectiva multifacetada da obra de 21 pintores que apenas têm em comum a condição geográfica, mesmo que a opção pelo tema centralizador da paisagem se possa considerar um objectivo conseguido, a capacidade representativa e a força individual de algumas obras tornam a exposição mais uma brilhante antologia de autores do que propriamente temática. A paisagem nem sempre se distingue e se em alguns casos a percebemos é mais como matriz pessoal da personalidade estética de determinados pintores do que propriamente na natureza representativa dos quadros. A exposição foi brilhantemente comissariada, a tentativa de estabelecer um grupo antológico coeso percebe-se e pode ser considerada como bem sucedida, apesar de, e aqui assumo uma crítica, ser por vezes demasiado exaustiva, uma maior rigorosidade na escolha só beneficiaria a mostra. Aliás convêm acentuar que neste espaço do Teatro Micaelense não é possível fazer uma mostra tão alargada, a capacidade física destas salas não suporta uma profusão tão grande de obras, os grandes prejudicados com isto são os quadros, os autores e os espectadores. A destacar; Paisagem com piano e vaca - 2004 de José Nuno Câmara Pereira, uma extraordinária metáfora do que é a "paisagem" açoriana. As peças de Filipe Franco que se impõem e o reafirmam, mais uma vez, como um dos mais interessantes e importantes pintores "açorianos" actuais, o que, por sua vez, só me leva a lamentar o seu actual hiato criativo. De Paula Mota, Homem Som 2002-2003. Luís Brilhante com LB.P11.L.03, LB.P13.L.03 e LB.P15.L.03. Carlota Monjardino. André Almeida e Sousa. Uma palavra ainda para Catarina Castelo Branco e João Decq cujos trabalhos apresentam criatividade suficiente para se esperar com antecipação novas criações. A lamentar; Maria Tomáz, Carlos Mota e Urbano. É desesperante o repetitivo vazio criativo que transpira das obras mais recentes destes autores. Duas notas finais: Esta exposição pelas características que tem merecia um espaço melhor, espaço esse que creio, infelizmente, não existe hoje nos Açores. Porquê o pudor de Maria José Cavaco não incluir trabalhos seus nesta antologia?
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