No.8 (Jackson Pollock, 1949), a pedido da rosa.
Bem, fui ali ao meu amigo Nuno "Aliança" comer um belo bife na companhia de um querido primo que não via há já lá vão dois anos e que acabou de voltar das pampas e trabalha com vinhos (Palha Canas, João Nuno, Palha Canas...) e é uma óptima pessoa e mesmo assim não consegui tirar o sacana do comment do João Garcia da cabeça. Chateou-me, sim chateou-me muito. Enfiei a carapuça, ah pois é, ah pois é. Eu imbecil da gramática me confesso, eu disléxico ortográfico me assumo. Já efabulei o suficiente sobre a razão de fazer erros, tantos, tão repetidos, tão ridículos, ortográficos que já aprendi a não ligar peveda ao assunto e assumi-me, assim, tal como sou, um Pollock da ortografia. Mas o martelanço das reguadas do tal João Garcia misturavam-se com as mastigadelas na suculenta e mal passada carne do bife ao ponto do nervo, salvo seja que o bife não tinha nenhum, e fizeram-me correr para casa, para o aconchego do Word (com Flip e tudo) para por esse senhor na ordem, mas quando começo a reflectir sobre o assunto não percebo bem o que é que me irrita mais nesta merda desta discussão, se é o argumento em si ou se é o que está por de trás da patética tese dos erros de ortografia serem o telhado de vidro dos blogues. Ai Jesus, ai Jesus que há erros de ortografia na blogoesFÉRA. Às armas, às armas que falha a sintaxe, que se mata a gramática com vis facadas, infâmia, ignomínia, que os nossos egrégios avós se revoltam nas campas com o tumulto de tamanho opróbrio. Já de joelhos rogo perdão a Gil Vicente, a Fernão Lopes, a Gomes Eanes de Zurara, a Camões, a Vieira, a Bernardim Ribeiro, a Bocage, a Herculano, a Garrett, a Camilo, a Antero, ó santo, santo Antero, a Eça e a Ramalho Ortigão, a Oliveira Martins, a Camilo Pessanha, a Cesário Verde, a Pessoa, a Mário de Sá Carneiro, a Nemésio, a Cardoso Pires, a Ruy Belo, a Herberto Hélder, a Eduardo Lourenço, a Lobo Antunes, a Vasco Graça Moura, a, a, ao Pedro Mexia e a, a, a... mas esperem lá, mas toda esta gente, todos estes espíritos, não foi a destruir a língua que todos eles andaram? Não foi a dar chutos na real gramática que eles fizeram os seus melhores textos? Ajuda-me lá nisto Fradique, meu bom amigo, meu companheiro de revolução e de spleen, não foi na evolução da língua que se fez a sua beleza? Não foi de navegação que se fez o que de melhor há na escrita portuguesa? De atlântico e de indico e de séculos de miscigenação? Foi ou não foi? Pois foi! E hoje é muitas vezes do lado de lá e do meio do Oceano Atlântico que chega o que de melhor há na língua de Camões. Pena é que neste Portugal pequenino seja preciso subir ao cesto da Gávea para o perceber. A língua é feita de pulos, de dança, de andar atrás e à frente com ela, como num tango, de paixão e ódio como num poema. E quando me criticam os erros eu rejubilo porque é sinal que não me tocam nos argumentos, se o pior de uma ideia é a gramática abram-se garrafas de Porto, é sinal que ganhou o futuro e não a traça dos compêndios. A questão é mesmo esta se é na forma que se vê o malefício dos blogues é sinal que estamos no bom caminho, quando começarem a criticar-nos o conteúdo é que eu me vou começar a preocupar a sério. Venha de lá esse acordo ortográfico e a novíssima estenografia dos telemóveis, viva a liberdade das formas desde que no fundo se acredite nas ideias. Podemos não ser melhores, ou os melhores, isso só o peso do tempo ditará, mas de certeza que não nos curvamos perante a oportunidade deliciosa de ser absolutamente contemporâneos, em directo para todos os computadores do mundo que nos queiram ler. E se ninguém se tivesse lembrado do f ainda estávamos a escrever foda-se com ph, phoda-se.
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