O cruzamento efectivo entre formas e processos de desenvolvimento é um dos aspectos, a meu ver, fundamentais do progresso das sociedades modernas. Vêm isto a propósito de uma noticia de hoje do Público sobre o cruzamento entre uma programação de eventos culturais com o EURO 2004. Vou utilizar este mote para extrapolar para uma analise mais vasta da situação governativa dos Açores e do país. Isto porque julgo que é nesta constante interligação de políticas sectoriais que podemos encontrar uma das principais formas de desenvolvimento sustentado e equilibrado. Esta espécie de multidisciplinaridade interessa-me sobre maneira. Julgo ser cada vez mais importante na gestão política perceber a interligação extrema entre departamentos para assim se definirem objectivos de longo prazo concretizáveis e frutíferos. Não faz sentido existirem governos cujos departamentos prossigam políticas que não estejam concertadas e planeadas em conjunto.
Os Açores são a meu ver vitimas deste mal, o mesmo se passará no continente, acredito, mas na região em face da pequenez e consequente escassez de recursos o problema tornasse ainda mais grave. Não é possível, hoje, pensar o Turismo sem pensar em Cultura. Não é possível pensar Pescas e Agricultura sem pensar Turismo. O desnorte de algumas políticas e, mais grave ainda, de algumas medidas tomadas pelos sucessivos governos destas ilhas, desde a mais pequena Junta de Freguesia até ao todo poderoso e magnânimo Governo Regional são absolutamente inacreditáveis, por um lado, e completamente condenáveis por outro.
Vou simplificar e apresentar apenas um exemplo extremo do que falo. O actual Governo encetou uma política de promoção do arquipélago no mercado nórdico convencido que as condições meteorológicas dos Açores não seriam um empecilho para os senhores do frio dos Fiordes, esqueceram no entanto que se há coisa positiva que os escandinavos têm é a sua preocupação com as questões ambientais. Ora nada tem sido feito nos Açores para proteger, preservar e desenvolver os ecossistemas das nossas ilhas. Pelo contrário, o que assistimos é um cada vez maior desleixo das questões ambientais, uma selvática exploração dos recursos e o hipotecar criminoso da região aos interesses de uns quantos grupos de construtores civis e de empresários. Os políticos, eternamente reféns do dinheiro, navegam à vista sem ideia ou vontade sequer de destino. Se perguntarmos aos dois candidatos a Presidente do Governo Regional que ideia defendem para os Açores, estes apenas responderão que querem melhor e mais e melhor e mais. Nenhum deles tem, ou se tem não se vislumbra, um plano, uma estratégia, uma concertação de políticas sectoriais que indiquem um futuro melhor para os Açores. Fala-se de pesca, de agricultura, de economia, de transportes, fala-se, fala-se, mas não se percebe um desígnio que exprima com clareza a forma como poderão as populações usufruir de melhores condições de vida e, consequentemente, a região se possa desenvolver de forma sustentada e equilibrada.
De que serve construir uma via rápida se o importante é apreciar o caminho? De que serve uma marginal sem uma cidade urbanizada, cívica e participante? Para quê um teatro (dois) sem uma programação cultural? Para que camas e hotéis sem transportes de qualidade e a preços competitivos e sem actividades turísticas? A lista de perguntas é enorme.......
Isto resume-se tudo numa questão essencial. Porque é que em Portugal se gasta sempre tanto dinheiro em coisas e tão pouco nas pessoas?
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