quarta-feira, janeiro 7

O Reino dos Açores

Devo confessar que da primeira enviesada leitura me ficou a ideia que a Real Associação das Ilhas dos Açores teria como objectivo a instauração da monarquia no arquipélago, soou-me a coisa independentista e não a uma congénere das causas reais que pululam por todo o Portugal. Perdoa-me amigo Nuno (e sim, acho que nos podemos considerar amigos), a minha precipitação. Mas é que num arrebatamento da imaginação visionava já um Reino dos Açores, com capital em Angra e com reuniões sazonais dos dignatários de cada ilha dando ao Rei o pulso do Reino e rogando alvíssaras. Via-me já feito Duque da Abelheira e Marquês do Ananás, escrevendo odes nos longos tempos livres permitidos pelos lucros desse enorme feudo, teria ainda a meu cargo a responsabilidade de ser Grão Mestre da Ordem dos Cavaleiros das Vagas que zelaria pela defesa das honras surfisticas e da integridade da orla marítima. Seria um lindo e justo Reino só não me atrevo é a dar sugestões para um possível Rei. Mas era só imaginação minha, eu que em brincadeira me descrevo como poeta, surfista e cultivador de ananases e a quem de broma me chamam o Rei do Ananás. Afinal a Real Associação das Ilhas dos Açores pretende, apenas, o regresso da monarquia a Portugal, terá o líder dessa Associação pretensões a Marquês, não já da Praia, mas do Calhau?

Enfim Nuno, foi por isso que manifestei tanto interesse no assunto. Mas passando às coisas sérias. Como tu sabes para além de ser socialista sou também um convicto republicano, não acredito em privilégios de nascença e julgo que uma das maiores conquistas das sociedades modernas é o sermos todos os cidadãos iguais perante a lei. A meu ver uma verdadeira República social-democrata é o sistema que melhor pode garantir a liberdade, a igualdade e a solidariedade entre os indivíduos. Podes me perguntar se tal sistema existe, isso seria outra questão. Mas mesmo sendo de uma família em que pontuaram alguns monárquicos e de duas monarquias diferentes vê lá tu, o facto é que a minha educação e a minha tradição pessoal me levou desde muito novo a ser pela igualdade e pelo direito à diferença e pelo respeito entre iguais. As pessoas fazem-se durante a vida, pelas suas acções, não pelo seu nome e acredita que se pode ser republicano e ao mesmo tempo defender a história, os costumes e as tradições, quem te o diz é alguém que grande parte da sua vida é lutar pela preservação de um património. Quanto ao que tu dizes ser a projecção das monarquias modernas no plano internacional no mundo de hoje, bom quer me parecer que os dois países mais importantes no nosso tempo são duas republicas, uma liberal e a outra comunista.

Voltando um pouco à brincadeira. Só seria monárquico se eu fosse Rei, ou então se o Rei fosse meu amigo e fizesse de mim o tal Duque de que falei no início é que os privilégios só são bons para quem os detém, até porque, meu caro amigo, como tu próprio disseste as monarquias hoje são coisas puramente estéticas, aliás foi meramente por razões estéticas que a Taça América foi para España e não para Portugal.

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