"FRANCESCA
Em cada fotografia de Francesca Woodman há sempre algo que me perturba, fascina, inquieta. Veja-se este «On being an angel #1», um dos seus muitos auto-retratos. Temos a sombra que lhe devora metade do rosto, a luz que vem de um lugar incerto (talvez o purgatório das almas impuras), o corpo suspenso num vazio alheio às leis da gravidade, a brancura da pele já pronta para a morte e aquele olhar que não sei se é de espanto, de medo ou de abandono. A fotografia fala sobre o que é isso de ser anjo, matéria volátil. E não podemos deixar de nos arrepiar, sabendo que Francesca se matou aos 22 anos, em Nova Iorque, atirando-se de uma janela." Publicado por José Mário Silva em BdE, a 12 jan 04.
... sabendo, mas sem se conseguir lembrar, nem como nem porquê, deu por si perdida perante aquele abismo humano, de luz ausente e, sim, sentiu e percebeu, que esse e todos os abismos que a perseguiam, clamavam por si, em seu nome. E de olhos abertos, e sem o olhar, um anjo fechou as asas e saltou para a morte e sentiu o quente de um corpo que a salvava de morrer só.
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