Há nos açorianos e nos micaelenses em particular uma intrínseca vontade de distância, como se a geografia se tivesse tatuado nas almas das gentes e o tempo das viagens fosse proporcional ao tempo das vidas, das vivências individuais das coisas. Parece que os açorianos se regozijam de estar longe do mundo, de ser afastados do mundo, de acontecerem noutro espaço e noutro tempo. E quando a velocidade e a voracidade de hoje nos atinge de chofre ficamos como se nos tivessem tirado o tapete e o mundo desmoronasse. Uma sensação de total atordoamento. É o mesmo tipo de sentimento que faz os açorianos acreditarem que vivem no ponto mais belo e lindo e absoluto do mundo. É mentira, nem os Açores são o lugar mais lindo do mundo, nem estão tão longe do tempo como alguns querem acreditar.
Temos todos os açorianos, os que cá vivem e os que sendo açorianos vivem no mundo, que aprender a equacionar os Açores no espaço que as ilhas ocupam no globo e na história. Estamos em absoluto inseridos na história do mundo ocidental, demos muito e temos certamente ainda muito para dar ao evoluir da nossa história, sofremos ao mesmo tempo de uma distância, física e mental, profunda em relação ás vanguardas e aos solavancos que fazem mover a história. Somos, em tudo o que de espantoso tem a nossa natureza arquipelágica, feita de amplitudes de mar e de escarpas de verde e basalto e gente, ilhas lindíssimas, mas não somos o que há de mais belo no mundo, somos Açores apenas.
Para mim ser açoriano é saber ser homem na história dos homens e saber ser natural de todos os oceanos de todos os arquipélagos de todos os continentes do mundo. Foi isso que fomos sendo, é isso que devemos acreditar ser.
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