quarta-feira, outubro 8

Pior é impossível

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No Ambiente fazer pior do que se tem feito é impossível. Desde a contaminação impune dos lençóis freáticos na Ilha Terceira pela mão dos amigos Americanos, passando pela construção, alcandorada numa falésia, de um hotel em Santa Cruz das Flores, de arquitectura ao estilo de Ceausescu patrocinada pela sociedade Ilhas de Valor e, terminando, no atentado ecológico da Fajã do Calhau em São Miguel, era difícil fazer-se pior do que já está feito. Nesta sanha de não deixar pedra sobre pedra compromete-se o futuro e o desenvolvimento sustentável em matéria Ambiental. Dizem uns que as caterpillares do progresso estão em acção para pavimentar as novas vias do desenvolvimento que tem passagem obrigatória pelo turismo. Como já se interiorizou o turismo é o novo bezerro de ouro a cujos pés nos prostramos e em nome do qual, dizem-nos, valem todos os sacrifícios. Não admira pois que, em réplica aos poucos resilientes conservadores, que se insurgem contra o que por aí vai de danos ambientais, se contraponha que isso é uma inevitabilidade histórica do desenvolvimento em geral e, do turismo, em particular.

Dizem outros que, também nesta matéria, melhor é possível. Desde logo bastaria a implementação de uma política de não ingerência Ambiental, sem fundamentalismos, preservando a natureza tal e qual a conhecíamos nos postais turísticos de antigamente. Depois, em termos acessórios, aplicarmos os remédios possíveis ao que ainda é possível recuperar. Mas, pelo que nos tem sido dado a assistir não tarda e o Ambiente nas nossas Ilhas será apenas uma miragem ou, em alternativa, o reflexo de uma qualquer truncagem fotográfica que esconde a vergonha das cicatrizes que vão ficando expostas na paisagem. Bem sei que o sindicato dos ambientalistas e dos ditos amigos da ecologia está de mãos dadas, ou de mão estendida, com o poder. Se assim é que se mude então o poder, pois em matéria de Ambiente é seguramente possível fazer melhor do que tem feito o actual Governo Regional. A evolução sustentável de uma sociedade exige a utilização criteriosa, económica e parcimoniosa dos recursos naturais. Esta evolução exige ainda o claro respeito pelos ecossistemas e a manutenção da biodiversidade. Quando, de modo irresponsável e sem qualquer controlo, se deixa, em São Miguel, a marca paisagística de uma crosta pusilânime como a da obra da Fajã do Calhau, só quem não a vê é que ainda acredita que não é possível fazer melhor em matéria de Ambiente! A verdade é que aqui, fazer pior é impossível.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiario.com
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(Fotos : desflorestação de parte substancial da mata da Serra da Tronqueira na Ilha de São Miguel. Mais um dano ambiental de pasmar à vista de todos e mancomunado com uma parceria privada que, em viaturas de elevada tonelagem, está a colher os frutos desta perversão ecológica. Não é novidade e já tinha sido denunciado no indispensável fôguetabraze...mas nunca é demais exercer o respectivo direito à indignação.)

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